A gravidez na adolescência é um grande desafio de saúde pública e tem grande vínculo com questões socioeconômicas. Apesar da queda no número de partos de mães até os 19 anos, o que é bem visto pelos especialistas, o Brasil ainda é um dos países com as maiores taxas de gravidez na adolescência na América Latina e no Caribe, ficando atrás apenas do Paraguai, do Equador e da Colômbia.
Conforme o Ministério da Saúde, a fase adolescente compreende pessoas de 10 a 19 anos, as quais representam de 20 a 30% da população mundial. No Brasil, o percentual se aproxima de 23%. De acordo com o relatório do Fundo da População das Nações Unidas, divulgado em 2022, a gravidez na adolescência representa a maioria das gestações em países em desenvolvimento, incluindo o Brasil. No País, a taxa de gestantes com menos de 17 anos é de 57%, pouco menor do que em países da África Subsaariana, que ultrapassa 60%.
Para jogar luz neste tema, é reeditada no Brasil pelo quinto ano consecutivo a Semana Nacional de Prevenção à Gravidez na Adolescência. Com duração até o dia 8 de fevereiro, a semana foi instituída em 2019 pela Lei nº 13.798/2019, com o objetivo de disseminar informações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da incidência da gravidez na adolescência, alertando tanto pais quanto adolescentes.
Considerada por muitos especialistas uma questão de saúde pública, a gravidez na adolescência ainda é um desafio no Brasil. Os últimos dados colhidos pelo Sistema de Informações de Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde, informaram que em 2020 cerca de 14% de todos os nascimentos do país foram decorrentes de partos de mães adolescentes, ou seja, 380 mil garotas deram à luz.
Segundo Gerson Aranha, médico ginecologista e professor da disciplina de Obstetrícia na Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), os casos de gravidez nos serviços de assistência particular têm se mantido estável, entretanto, os números ainda são altos e estão em crescente no Sistema Único de Saúde (SUS).
“A adolescência é uma fase longa, vai dos 14 até os 19 anos. Então, gestações que acontecem antes dessa idade, são consideradas gravidez infantil. Porém, é uma fase em que os riscos são muito grandes”, salienta o especialista.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), filhos de mães adolescentes têm maior probabilidade de apresentar baixo peso ao nascer e maior probabilidade de morte do que os filhos de mães com 20 anos ou mais. Durante o primeiro ano de vida, filhos nascidos de mães adolescentes apresentam uma taxa de mortalidade infantil duas a três vezes maior que a de mães adultas e um aumento de seis vezes na incidência de síndrome de morte súbita.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, nas jovens de 15 a 19 anos, a probabilidade de mortes relacionadas a gravidez ou parto é duas vezes maior do que nas mulheres de 20 anos ou mais. Para aquelas menores de 15 anos, esse risco é aumentado em cinco vezes.
Além disso, adolescentes que engravidam têm maior probabilidade de desenvolver síndromes hipertensivas, partos prematuros, anemia, pré-eclâmpsia, desproporção feto-pélvica, restrição do crescimento fetal, além de problemas consequentes de abortos provocados. “Porém, no dia a dia, a problemática maior é a psico-emocional-social”, ressalta o professor da Unimes.
Estatísticas nacionais e internacionais evidenciam impactos negativos significativos da gravidez precoce sobre o desenvolvimento educacional na adolescência, dificultando a inserção das jovens mães no mercado de trabalho, resultando no círculo vicioso da pobreza e, consequentemente, das desigualdades sociais.
O médico Gerson Aranha mostra que a gravidez precoce na adolescência pode ser evitada com um ato simples, mas muito importante: a abertura para o diálogo.
“Nesses diálogos, é fundamental ter esclarecimentos sobre sexo, sexualidade e doenças sexualmente transmissivel, focando em como evitar e a necessidade de tratar. Outro ponto é procurar assistência médica precoce, principalmente quando a adolescente já iniciou a vida sexual, para que haja orientações para metódos contrapectivos”, reforça o professor.
Tabu e desinformação colaboram para o problema
Diversos fatores concorrem para a gestação na adolescência. No entanto, segundo o Ministério da Saúde, a desinformação sobre sexualidade e direitos sexuais e reprodutivos é o principal motivo. Questões emocionais, psicossociais e contextuais também contribuem, inclusive para a falta de acesso à proteção social e ao sistema de saúde, englobando o uso inadequado de contraceptivos.
Monique Pinheiro, assistente social no Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, gerenciado pelo CEJAM — Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde do Rio de Janeiro, explica que um dos fatores de risco na gravidez adolescente é a ameaça de parto prematuro ou má formação do feto, além de muitos transtornos sociais e emocionais, por vezes, advindos da pressão familiar ou da falta de rede de apoio, independentemente da classe social.
Quanto aos riscos para a criança, a assistente social do CEJAM destaca a vulnerabilidade, ou seja, o fato de uma criança cuidar de outra. “É preciso trabalhar muito a autonomia da adolescente, porque, às vezes, essa menina não teve autonomia para o próprio autocuidado. Por isso, no pós-alta, a paciente é encaminhada para a Unidade Básica de Saúde (UBS) de seu território, onde a criança e a mãe são acompanhadas”, ressalta.
Outro ponto reforçado pela especialista é a continuidade da vida escolar. Existe uma licença que é equiparada a 90 dias para que a adolescente tenha um estudo em casa. “A gestação não é uma ruptura, a jovem continua sendo uma adolescente, com direitos, que são ampliados ao se tornar mãe”, reitera a especialista.
Prevenção e informação
Para Monique, o assunto deve ser abordado em conversas da família com o adolescente. Segundo a assistente social, quando a criança começa a entender um pouco mais, já é o momento de começar a falar algumas coisas, na linha da educação. Ela recomenda que não se espere a menstruação ou que o menino demonstre interesse sexual para tocar no tema.
“Começar o entendimento na roda familiar é importante, com falas sobre o que é o sexo e o toque, além de levar a menina em uma consulta para que ela possa se conhecer”, orienta.
É importante reforçar que o SUS oferece gratuitamente contraceptivos (DIU, preservativo, pílula, diafragma e injetáveis), disponibilizados a partir de prescrição médica. Para agendar uma consulta com o ginecologista, basta procurar uma UBS e solicitar o agendamento.
Direitos sexuais e reprodutivos
Direitos reprodutivos, conforme o Ministério da Saúde, são os direitos de as pessoas decidirem, de forma livre e responsável, se querem ou não ter filhos, quantos filhos desejam ter e em que momento de suas vidas.
“A pessoa tem direito e escolha sobre o seu próprio corpo, principalmente reprodutivo, mas que essa escolha seja pautada de forma ampla, que tenha certeza dessa escolha. Que não seja de forma imatura, como, por exemplo, por conta de um parceiro ou para sair do núcleo familiar em decorrência de um problema”, reforça Monique.
Infecções Sexualmente Transmissíveis
Para além da gravidez não intencional, há o risco de contração de infecções sexualmente transmissíveis (IST), que são transmitidas, principalmente, por meio de relações sexuais desprevenidas.
As infecções mais comuns, segundo o Ministério da Saúde, são herpes genital, cancro mole (cancroide), HPV, doença inflamatória pélvica, donovanose, gonorreia e infecção por clamídia, linfogranuloma venéreo, sífilis, infecção por HTLV e tricomoníase.
O acompanhamento periódico na UBS possibilita o diagnóstico precoce com exames laboratoriais. Quanto antes a doença for descoberta, maior a possibilidade de sucesso no tratamento.
Com Assessorias
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