O isolamento social decorrente da pandemia de Covid-19 tem sido um combustível para alguns excessos, como o aumento do consumo de álcool e tabaco. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou que governos restrinjam a venda de bebidas alcoólicas em contexto de pandemia, quarentena e isolamento social, uma vez que o álcool reduz a imunidade e sua ingestão excessiva pode prejudicar a saúde física e mental. 

Um levantamento corrobora esse aumento e a apreensão de especialistas. Estudo revelou que 34,3% dos entrevistados que se declararam fumantes passaram a consumir mais cigarros por dia durante a pandemia —22,8% aumentaram em dez, 6,4% em até cinco e 5,1% em 20 ou mais cigarros. A  ConVid –  Pesquisa de Comportamentos, da Fundação Oswaldo Cruz, foi realizado em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Estadual de Campinas a fim de constatar o impacto da Covid-19 na vida das pessoas sob vários aspectos.

De acordo com o estudo, 34,3% dos entrevistados que se declararam fumantes passaram a consumir mais cigarros por dia durante a pandemia: 22,8% aumentaram em dez, 6,4% em até cinco e 5,1% em 20 ou mais cigarros. Foram ouvidos 44.062 brasileiros, de ambos os sexos, de todos os níveis de escolaridade e de todas das faixas etárias a partir de 18 anos. 

Essa elevação tem preocupado especialistas, uma vez que pode trazer consequências irreparáveis à saúde, mesmo a médio e longo prazos. Os dados são preocupantes e reforçam a relevância das campanhas de conscientização no combate ao fumo, que alertam sobre as doenças e mortes evitáveis decorrentes do consumo de cigarros. Uma das possíveis consequências é o câncer de pulmão.

Segundo o oncologista clínico Bruno Ferrari, fundador e presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas, diante da falta de perspectiva e do estresse gerado pela pandemia, o aumento do tabagismo deve ser encarado como um problema de saúde pública que trará impactos nos próximos anos à população.

“A evolução da curva epidemiológica da Covid-19 impactará nossas vidas por um tempo indeterminado. Não podemos ignorar que entre os aspectos a serem observados com cautela está a herança de hábitos nocivos ao nosso corpo, gerados como reflexos desse momento atípico que estamos experimentando. Neste sentido, esse aumento no consumo de cigarros pode levar a curto ou médio prazos a um crescimento considerável nos índices de incidência de tumores malignos, entre eles o câncer de pulmão – que tem íntima relação com o vício”, explica.

Ele lembra que o câncer é uma doença grave, e que antes da pandemia já ocupava o segundo lugar no ranking das principais causas de morte no Brasil. Assim como há serviços essenciais que precisam continuar, existem outras doenças além do Covid-19 que representam ameaças concretas à saúde e não podem ter seus cuidados adiados por um prazo indeterminado sob o risco de perdermos vidas que podem ser salvas.

“O câncer não espera, por isso, não deixe de buscar auxílio médico se notar alguma alteração que possa indicar um problema de saúde. Os diagnósticos tardios podem trazer danos por vezes irremediáveis, para muito além desta pandemia”, finaliza o Dr. Ferrari.

Câncer de pulmão: 85% dos casos é por tabagismo

Com cerca de 2,1 milhões de casos descobertos em 2018, o câncer de pulmão possui números expressivos: é o tipo de tumor mais comum no mundo e o que mais atinge homens no planeta (14,5%). A doença ocupa o terceiro lugar como o tipo de câncer mais comum entre os homens e o quarto entre as mulheres.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa é de que sejam descobertos 30 mil novos casos no país em 2020, sendo 17.760 em homens e 12.440 em mulheres. Apenas 16% dos casos são diagnosticados em estágio inicial (localizado) e a taxa de sobrevida relativa em cinco anos é de 56%.

Outro estudo, sobre o panorama do câncer de pulmão no Brasil, realizado pelo Instituto Oncoguia, revelou que o o consumo de derivados de tabaco é responsável por cerca de 85% dos casos deste tipo de tumor, o que mais mata no país.

O médico frisa a importância de adotar hábitos saudáveis e abandonar qualquer tipo de fumo, que, além do cigarro comum, inclui o cigarro eletrônico, a narguilé e outros tipos que também contêm nicotina.

“Parar de fumar é a forma mais eficaz de se prevenir contra o câncer de pulmão, além de diversas outras doenças e tumores. O tabagismo é responsável por doenças respiratórias, coronarianas, osteoporose, obesidade e diabetes”, aponta.

Sintomas iniciais do câncer de pulmão

Para Flávia Amaral Duarte, oncologista clínica do Grupo Oncoclínicas, outro fator que não pode ser desconsiderado é a vigilância contínua de possíveis sinais do surgimento de um tumor no pulmão, que podem ser facilmente confundidos com os do novo coronavírus, principalmente entre fumantes.

Os sintomas iniciais desse tipo de câncer se assemelham muitas vezes aos de outras condições comuns associadas ao trato respiratório, por isso, dificilmente é diagnosticado no estágio inicial. Tosse e falta de ar, sintomas amplamente relacionados ao Covid-19, também são o alerta principal para a doença”, destaca.

A médica lembra que, diferente do que ocorre em casos de coronavírus, enquanto  a tosse seca vem acompanhada muitas vezes por febre, mas que costuma passar em até 15 dias, no câncer de pulmão, os sintomas, quando surgem, não apresentam melhora com o passar das semanas.

Os sintomas do câncer de pulmão, geralmente, são mais frequentes no estágio avançado da doença, o que dificulta o diagnóstico precoce, essencial quando pensamos em chances de cura. Para além dos sinais já mencionados, falta de ar, dor torácica contínua, perda de peso sem motivo, rouquidão e pneumonias recorrentes figuram entre os pontos de alerta para este tipo de tumor”, comenta a Dra Flávia.

Aumento de casos entre as mulheres

O câncer de pulmão ocupa o terceiro lugar como o tipo de câncer mais comum entre os homens e o quarto entre as mulheres. Mais de 30 mil brasileiros devem ser diagnosticados com a doença em 2020, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Ainda segundo a entidade, apenas 16% dos cânceres são diagnosticados em estágio inicial.

Com 2,1 milhões de casos descobertos em 2018, o câncer de pulmão é o tipo de tumor mais prevalente no mundo. A doença também ocupa o primeiro lugar entre os cânceres que acometem os homens em todo o planeta, representando 14,5%. Nas mulheres, é o terceiro em incidência, com 8,4% dos casos, atrás apenas do câncer de mama (24,2%) e de cólon e reto (9,5%).

Entretanto, nos últimos anos, tem-se observado um aumento das taxas de incidência da enfermidade no sexo feminino. De acordo com a Sociedade Americana de Câncer, os índices de diminuição deste tipo de tumor têm sido duas vezes mais rápidos nos homens do que nas mulheres, uma situação relacionada aos padrões de adesão e abandono do tabagismo.

No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima 30 mil novos casos de câncer de pulmão por ano, sendo 17.760 em homens e 12.440 em mulheres. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, a doença ocupa a segunda posição mais frequente entre os homens nas Regiões Sul, com a incidência em 31 a cada 100 mil habitantes, e Nordeste, com 11 casos em cada 100 mil.

No sexo feminino, é o terceiro mais frequente nas Regiões Sul (18 casos para 100 mil) e Sudeste (12 casos para 100 mil)3. A taxa de mortalidade da doença sempre foi superior entre os homens, mas verifica-se que essa proporção está diminuindo: a razão de óbitos entre homem/mulher no País diminuiu de 3,6 em 1980 para 1,7 em 2017. Estima-se que essa tendência histórica de crescimento será estabilizada apenas em 2030.

Falta de conhecimento e preconceito 

Os tumores de pulmão representam um grande desafio para o Brasil e são a primeira causa de morte por câncer na América Latina. No País, apenas 16% dos casos são diagnosticados em estágio inicial (localizado) e a taxa de sobrevida relativa em cinco anos é de 56%.

A falta de conhecimento representa um desafio significativo no combate à enfermidade. Em muitos casos, o câncer de pulmão tem diagnóstico tardio porque os sintomas, como tosse, escarro com sangue e falta de ar, demoram para se manifestar e podem confundir os pacientes, que decidem não procurar atendimento médico por achar que é algo simples. Uma análise da The Economist Unit mostra que, no Brasil, 85% dos pacientes têm a doença descoberta nos estádios III ou IV.

“Um grande desafio em relação ao câncer de pulmão é o estigma. Como grande parte dos casos está associada ao cigarro, muitas vezes um olhar de culpa e desconfiança pesa sobre os pacientes, mesmo quando eles não fumam, o que dificulta o diagnóstico precoce da doença”, afirma Márjori Dulcine, diretora médica da Pfizer Brasil.

Tratamentos avançam

Um dos avanços da medicina nos últimos anos foi a descoberta sobre o DNA de cada tipo de câncer, especialmente, o de pulmão. Apesar de o prognóstico para a doença não ser otimista, com o avanço das pesquisas na área de oncologia, a exemplo da evolução dos tratamentos baseados em terapia-alvo, o combate à enfermidade está mudando.

Até o começo da década passada faltavam alternativas de tratamento para os pacientes com câncer de pulmão com mutação em ALK e ROS-1. Com o progresso da oncologia personalizada, foram desenhados medicamentos que conseguem agir diretamente sobre os receptores celulares que apresentam essas alterações genéticas, impedindo ou reduzindo a multiplicação das células tumorais.

Atualmente, tanto o gene ALK, quanto o ROS-1 são biomarcadores para terapias-alvo, medicamentos especialmente desenvolvidos para inibir mutações que são determinantes para a evolução do câncer, proporcionando alívio dos sintomas, redução dos tumores e aumento da sobrevida livre de progressão da doença.

Poluição do ar e algumas profissões também favorecem

O tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de pulmão. Mas outros fatores, como a exposição à poluição do ar, infecções pulmonares de repetição e aspectos ocupacionais, também podem favorecer o desenvolvimento da doença. Existem, ainda, grupos de pacientes que nunca fumaram e, mesmo assim, apresentam uma predisposição aumentada para ela. Esse é o caso dos indivíduos com alterações genéticas específicas.

A doença pode se apresentar em duas formas principais, cada uma com características próprias de tratamento: tumores de células pequenas (CPPC) e de não pequenas células (CPNPC) – esta última categoria, que se desenvolve a partir das células epiteliais, representa de 85% a 90% do total de casos de cânceres pulmonares.

Esse é o caso dos indivíduos com alterações genéticas específicas, como a translocação de ALK (quinase do linfoma anaplásico), um oncogene que está presente em cerca de 5%6 dos casos de câncer de pulmão de não pequenas células (CNPCP). Boa parte dos pacientes são jovens sem histórico de tabagismo. Outra alteração genética é a mutação em ROS1, um proto-oncogene (gene que se transforma em oncogene por um aumento na expressão de proteínas).

‘Desafio de fôlego’ lança alerta para o câncer de pulmão

Atletas de diversas modalidades aceitaram o desafio de postar em suas redes sociais um vídeo soprando um canudo dentro de um squeeze com água para simbolizar a importância de estar com o fôlego em dia.

A ação faz parte do Desafio de Fôlego, movimento que estreou nas redes sociais em 1º de agosto, Dia Mundial de Combate ao Câncer de Pulmão, e segue durante todo o mês para chamar a atenção para a doença, que possui entre os sintomas justamente a falta de ar.

Pelas redes sociais, os fãs dos esportistas e celebridades engajados também poderão testar o fôlego postando seus vídeos como forma de apoio à campanha de combate ao câncer de pulmão, que é a primeira causa de morte por câncer na América Latina. A iniciativa é realizada pela Pfizer em parceria com o Instituto Oncoguia e com o Instituto Vencer o Câncer (IVOC).

Com Assessorias

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