É muito comum a sociedade julgar pais e mães – e as crianças! – que fazem xixi na cama após os cinco anos de idade. Mimada, preguiçosa, sem educação, problemas psicológicos, brigas no casal e a chegada de um irmão. Porém, o que poucas pessoas sabem é que a causa pode ser genética. Para solucionar o problema da criança, é necessário entender se os pais também tiveram enurese, a perda involuntária de urina.

A genética é responsável por 75% dos casos, sendo que, caso um dos pais tenha tido o transtorno, a chance de o filho ter é de 44%. Caso os dois tenham sofrido com a escapada do xixi na madrugada, a chance de a criança ter sobe para 77%. E como tem dia para tudo no vasto calendário da saúde, hoje (28 de maio) é o Dia Mundial de Conscientização da Enurese. 

Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), esta condição médica comum atinge até 15% das crianças com mais de 5 anos de idade, mas pode e deve ser tratada.

Membro da Academia Americana de Pediatria, da Associação Médica do Texas e da Sociedade Médica do Condado de Dallas, o pediatra Vincent Iannelli reforça o tema e diz que “grande parte dos casos é relacionada à hereditariedade, sendo apenas 15% por outras motivações e, raros casos, por distúrbios do sono, diabetes, problemas físicos e psicológicos”.

“Por ser uma fase de desenvolvimento infantil, acordar molhado até os 5 anos de idade pode ser considerado normal. Mas, após esta idade, é importante que a possibilidade de Enurese seja considerada pelos pais e pelo pediatra”, diz o urologista Atila Rondon, especialista em Urologia Pediátrica, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenador do Departamento de Urologia Pediátrica da SBU.

Além da genética, outros fatores podem predispor o xixi na cama, como a deficiência de secreção de vasopressina noturna (substância que diminui a produção de urina durante a noite), bexiga pequena para a idade ou hiperativa (diminuindo a capacidade do órgão de reter a urina), problemas estruturais no trato urinário e dificuldade de acordar a noite, em resposta à bexiga cheia.

De acordo com o especialista da SBU, “o mais comum é a deficiência no hormônio antidiurético: a substância responsável por diminuir em até 80% a produção de urina durante a noite. É só assim que as pessoas passam oito horas dormindo sem precisar ir ao banheiro”.

Diagnóstico

Além de considerar os antecedentes pessoais e familiares, o diagnóstico pode ser feito com observação do desenvolvimento psicomotor, com informações sobre o treinamento e controle esfincterianos e os sintomas de distúrbios relacionados ao enchimento e esvaziamento da bexiga. Adicionalmente, pode ser necessário submeter a criança a um exame genital, neurológico, de urina e de sangue.

Com a ajuda do médico, o tratamento deve começar o mais rápido possível. Isso permitirá à criança e à família melhor qualidade de vida, evitando implicações negativas com baixa autoestima e transtornos psicossociais como ansiedade e comportamento antissocial.

O  transtorno acontece devido a fatores hereditários, relacionados à quantidade de urina produzida pela criança durante a noite, ou a disfunção da bexiga durante o sono, ocorrendo, portanto, de forma involuntária, sem qualquer culpa por parte da criança.Identificar o transtorno o quanto antes ajuda no começo do tratamento.

Com muita frequência, os distúrbios miccionais não são valorizados nas consultas de rotina, por isso, observar a criança e estar atento aos sinais é fundamental para o diagnóstico”, destaca o especialista.

“Para os médicos tratarem eficazmente a enurese, qualquer problema comportamental existente deve ser tratado como uma condição à parte”, diz Dr. Michal Maternik, do Departamento de Urologia da Divisão de Urologia Pediátrica da Universidade de Medicina de Gdansk, na Polônia. “Pesquisas destacam a necessidade de novas iniciativas educacionais para otimizar a compreensão da enurese e prestação de cuidados entre os médicos, pais e o público”.

Tratamento

A Enurese pode ser tratada com orientações comportamentais, medicamentos, fisioterapia específica ou até mesmo, psicoterapia.  Algumas das causas são excesso de produção de urina, menor capacidade vesical ou dificuldade de acordar. Nestes casos, o especialista pode indicar medicações ou dispositivos médicos.

Inserir pequenas mudanças na rotina, como evitar que a criança ingira líquidos 2 horas antes de dormir e incentivar o xixi antes de deitar e logo ao acordar, também são recomendados e podem trazer bons resultados. Cada noite seca precisa ser encarada como uma vitória, valorizada com elogios e muito carinho.

Para pais e cuidadores, a enurese é uma das mais frustrantes disfunções da infância. Conforme os filhos crescem, aumenta também a expectativa de que a criança adquira autonomia e responsabilidade. Quando não atendida, essa expectativa pode gerar desconfiança e uma sensação de incapacidade, causando culpa e raiva.

Por isso, o acompanhamento psicológico é importante, tanto para a criança, quanto para a família. “O problema leva os pequenos a se sentirem envergonhados e há impactos negativos em sua vida social como, por exemplo, evitar convites para dormir na casa de amigos. Sem contar a influência que a doença tem sobre a qualidade do sono, que piora, e pode prejudicar o rendimento escolar”, acrescenta.

Pesquisas recentes mostram que a enurese ainda é pouco reconhecida e mal compreendida pela sociedade e pelos profissionais de saúde. O xixi na cama pode levar a sentimentos de vergonha e baixa autoestima, impedindo que muitos pacientes procurem tratamento. O psicólogo se torna um importante aliado, já que, além de recuperar a autoestima das crianças, também pode orientar os pais sobre como lidar com o transtorno.

Família é fundamental

Segundo Bruno Cezarino, urologista pediátrico, formado pela USP e professor do curso de Cirurgia Urológica Minimamente Invasiva – Hospital Sírio Libanês, a participação da família é fundamental para o sucesso do tratamento da enurese. “Quanto antes o transtorno for identificado pelos pais, mais rápido o início das ações de controle do xixi na cama e menor será o impacto das noites molhadas na rotina da criança”, diz.

Punir a criança, expor o problema do pequeno aos amigos ou familiares não resolve o problema e, pior, atrapalha ainda mais o processo de cura”, ressalta Atila Rondon. A agressão nunca deve acontecer, mas pesquisas apontam que ela ainda é quase sempre verbal, seguida por castigos e, infelizmente, muitas vezes por meio de agressão física.

Por isso, a parte mais importante do tratamento é a família compreender os motivos e a evolução clínica da Enurese, evitando castigos, repreensões ou até mesmo sentimento de culpa e frustração, já que os episódios podem oscilar mesmo a partir dos métodos sugeridos pelo especialista. É preciso paciência, carinho e constante acompanhamento médico.

“É importante entender a urgência do tratamento do xixi na cama. A enurese tem que ser acompanhada por médico especialista para minimizar os sentimentos de constrangimento e culpa que atinge todos os integrantes da família”, completa Dr. Bruno.

ONDE SABER MAIS

Dia Mundial Sem Xixi na Cama (28 de maio), campanha global realizada todos os anos na última terça-feira do mês de maio, é uma iniciativa da International Children Continense Society (ICCS) e da European Society for Pediatric Urology (ESPU), e foi criada para aumentar a conscientização de pais, crianças e dos profissionais de saúde sobre o xixi na cama.

O site www.semxixinacama.com.br, desenvolvido com o apoio do Laboratórios Ferring, reúne informações sobre a Enurese e tem o objetivo de orientar as famílias sobre como lidar com o xixi na cama sem traumas, alertando sobre a importância do diagnóstico correto e da busca por tratamento médico adequado. O visitante ainda tem acesso a uma lista com os centros de apoio mais próximos a sua região, perguntas e respostas sobre o tema, além de vídeos e um blog.

 

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