Quatro casos de meningite meningocócica – uma das formas mais graves e letais da meningite – foram confirmados nos últimos dias na cidade de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, acendendo o alerta para um possível surto da doença. Todos os pacientes são do sexo masculino e moram em bairros diferentes da cidade. Nenhum deles tinha completado o esquema vacinal contra a doença. Diante disso, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) informou nesta terça-feira (25) que está intensificando a vacinação contra a meningite no município.

Como estratégia de médio prazo, a SES-RJ anunciou que distribuirá mais doses do imunizante para Campos dos Goytacazes. O objetivo é que a vacinação seja intensificada para crianças até 10 anos de idade contra a Meningite C e entre 11 e 14 anos com a vacina ACWY (imunizante para os demais tipos da doença). Entre as ações a curto prazo já realizadas pelas equipes do município de Campos estão a atualização do cartão vacinal nas creches e escolas dos pacientes.

Como forma de prevenção, foi dado início ao tratamento precoce das pessoas que tiveram contato próximo com os pacientes infectados, com ações nos quatro bairros que apresentaram casos – Tocos, Jockey Club, Penha e Morro do Coco –, além da quimioprofilaxia dos contactantes, ou seja, tratamento precoce de quem teve contato com os pacientes.

Outra medida foi um alerta emitido à rede assistencial de Campos para percepção de casos com diagnóstico similar ao da meningite. Apesar do alerta e das medidas emergenciais anunciadas, a SES-RJ informa que, a cidade ainda não vive um surto da doença. “A secretaria seguirá vigilante ao cenário epidemiológico na região para adotar medidas para conter a transmissão da doença”, informa a pasta.

Estado registra 26 casos e 5 óbitos por meningite em 2023

Em todo o ano de 2022, o município de Campos dos Goytacazes teve apenas dois casos de meningite. Em 2023, o Estado do Rio de Janeiro contabiliza, até o momento, 26 casos e cinco óbitos provocados pela meningite meningocócica, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e estão sujeitos a alteração.

Não foi informado onde os casos foram registrados e qual o número de casos no mesmo período do ano passado para se obter dados comparativos. Mas em  setembro de 2022 a mesma SES-RJ informava um aumento nos casos de meningite no estado, também acendendo o alerta para a vacinação.

Naquela ocasião, foi informado que, entre janeiro e agosto de 2022, foram confirmados 977 casos de meningite e 28 casos de doença meningocócica – um aumento de 55,5% quando comparado ao mesmo período de 2021 – , sendo que sete pacientes morreram. Durante todo o ano de 2021, foram registrados 959 casos de meningite e 30 casos de doença meningocócica, sendo oito mortes.

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São Paulo registra surto da doença, com 155 mortes

Enquanto o Estado do Rio de Janeiro informa que registrou somente 26 casos e cinco óbitos por meningite meningocócica, a Secretaria de Saúde de São Paulo revelou ter registrado 2.303 casos de meningite somente no primeiro semestre deste ano. Na comparação com o mesmo período de 2022, quando foram confirmadas 1.869 pessoas acometidas pela doença, o aumento foi de 23%.

Dentre as cidades, além da capital, com maiores índices, está Campinas, ao lado de São Bernardo do Campo, Santo André (ambas no ABC) e Guarulhos (grande São Paulo). Nestes primeiros seis meses de 2023 foram registradas 155 mortes em decorrência da doença, cujas maiores incidências estão nos municípios de São Paulo, Guarujá, Guarulhos, Osasco, Ribeirão Preto e Santo André. O índice de óbitos é 32,60% inferior ao do mesmo período de 2022, quanto foram registras 230 mortes.

Primeira ação do Centro de Inteligência em Saúde

A decisão pelo conjunto de medidas adotadas em Campos foi tomada após uma reunião emergencial na última quinta-feira (20/07), para analisar a situação epidemiológica no município, e comunicada oficialmente somente nesta terça-feira (26).

O encontro virtual foi o primeiro do tipo envolvendo os recursos do novo Centro de Inteligência em Saúde (CIS) da SES-RJ, onde participaram os técnicos da secretaria. A reunião contou ainda com representantes do Ministério da Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde de Campos e do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

“Esse é um trabalho de Vigilância e, graças ao nosso novo Centro de Inteligência em Saúde, tivemos uma análise rápida da Sala de Situação de Campos em diversos formatos, com gráficos, mapas, documentos técnicos e relatórios estratégicos para contribuir com as autoridades municipais e adotar as medidas necessárias”, afirmou o secretário de Estado de Saúde, Dr. Luizinho.

De acordo com a SES-RJ, Salas de Situação são “espaços de inteligência em saúde, dotados de visão integral e interssetorial que, partindo da análise e da avaliação permanente da situação de saúde”. Eles atuam como “instância integradora da informação para a Vigilância em Saúde Pública nas diferentes áreas e níveis, constituindo assim um órgão de assessoria direta capaz de aportar informação oportuna e relevante para apoiar, com uma base técnico-científica, o processo de tomada de decisões”.

Tire suas dúvidas sobre a meningite

Diante do cenário em São Paulo, dois especialistas do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), esclarecem as principais dúvidas sobre a doença: o neurologista Felipe da Graça e a infectologista Vera Rufeisen. Confiram abaixo:

1 – O que é meningite?

“A meningite é uma inflamação das meninges, que são estruturas que protegem e recobrem o cérebro, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central”, descreve o neurologista.

2 – Quantos tipos de meningite diferentes existem?

A infectologista explica que “os dois tipos principais são os virais e os bacterianos, mas também existem aqueles transmitidos por protozoários, fungos, microbactérias, medicamentos, doenças autoimunes, dentre outros”. A letalidade, porém, está ligada às bacterianas.

3 – Quais são as principais diferenças entre elas?

De acordo com a Vera Rufeisen, as meningites virais habitualmente apresentam quadros mais leves, autolimitados, e que não necessitam terapêutica específica, exceto as causadas pelo vírus da herpes, que demandam tratamento diferenciado.

Já as bacterianas meningocócicas (tipo B e C) e pneumocócicas, causadas pelo Haemophylus influenzae, geram quadros mais graves, que requerem imediato diagnóstico e terapia antimicrobia

na apropriada. Por vezes, pode ser fatal ou deixar sequelas, tais como perda da audição e visão, problemas com memória, concentração, coordenação motora, equilíbrio, aprendizado e fala, epilepsia e paralisia cerebral.

4 – Qual é considerada mais frequente?

“O tipo de maior incidência, neste momento epidemiológico, é o Meningococo tipo C, transmitido por contato próximo direto entre as pessoas, a menos de um metro de distância”, alerta Vera.

5 – Quais são os principais sintomas deste tipo de meningite?

“Dor de cabeça intensa, febre, vômito e rigidez de nuca. Podemos ter, ainda, em casos mais graves, sonolência, confusão mental ou convulsões. Manchas vermelhas na pele também são frequentes”, lista Felipe da Graça.

“A febre alta e a dor de cabeça já são motivos suficientes para que a pessoa procure atendimento médico, pois o diagnóstico precoce pode evitar complicações e morte pela doença. Pais, mães e responsáveis por bebês precisam ficar atentos a irritação, falta de apetite e de resposta a estímulos, a moleira protuberante e reflexos anormais”, adiciona.

6 – Como ocorre a transmissão de meningite?

“As virais e bacterianas ocorrem por via aérea, de pessoa para pessoa, por meio de gotículas, secreções do nariz e da garganta. Ou seja, pelo ar. Também pode ocorrer por meio de objetos/alimentos contaminados com patógenos (vírus, bactérias ou parasitas)”, explica o neurologista.

7 – Como é feito o diagnóstico?

“Inclui avaliação médica, coleta do líquor (líquido que envolve o cérebro e a medula) e pode ser necessário exames de imagem como tomografia”, detalha Felipe.

8 – Como a meningite é tratada?

De acordo com o neurologista, o tratamento varia de acordo com o tipo de meningite, desde medicações sintomáticas (usadas apenas para sintomas) e hidratação até necessidade de antivirais e antibióticos.

9 – Por quanto tempo o tratamento deve ser feito?

“O tempo varia. Comumente entre 7 e 14 dias”

10 – Como é possível prevenir?

“A prevenção inclui isolamento de casos suspeitos, etiqueta respiratória e vacinas”, orienta Vera.

Fonte: SES-RJ, com Redação e Vera Cruz Hospital, com Redação

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