A enfermeira Luciana Valente relata ter sofrido com dor menstrual atípica desde os 12 anos, apresentando sintomas como cólicas, diarreia, dor lombar e enxaquecas. Mas somente aos 25 anos, depois de ter comprometimento de suas atividades laborais e de qualidade de vida, encontrou um especialista em endometriose que diagnosticou a doença.

“Durante anos fui diversas vezes para emergência para controle de dor. Sempre tive acompanhamento médico e a frase que sempre ouvia era que era normal sentir tais sintomas. Meus marcadores laboratoriais sempre foram normais. E exames convencionais de ultrassom nunca mostraram nada de anormal”, relata Luciana.

Aos 25 anos, um especialista  indicou ressonância magnética e ultrassonografia com preparo intestinal. “E aí então veio o diagnóstico de endometriose profunda com comprometimento de diversos órgãos, como bexiga, intestino, fundo de saco e adenomiose”, conta a enfermeira.  

A endometriose é uma doença bastante conhecida pelos médicos ginecologistas, que acomete cerca de 10% das mulheres em idade fértil, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Entretanto, estudos revelam que o diagnóstico demora entre 7 e 9 anos, como aconteceu com a cantora Anitta, que em 2022 revelou ter sido diagnosticada com a doença após passar nove anos sofrendo com dores.

Mas afinal, se a endometriose é tão comum por que o diagnóstico demora tanto? De acordo com o médico ginecologista Jorge Valente, isso ocorre muitas vezes em função de três principais fatores, são eles: não valorização da queixa da paciente por parte dos profissionais, normalização da dor, com indicação do uso de anticoncepcionais como “solução” para sanar as dores e por último, e não menos importante, a demora da paciente na busca por ajuda.

“É preciso destacar que nenhuma dor deve ser considerada normal e que anticoncepcional não é tratamento e a falta de investigação pode atrasar o processo terapêutico”, alerta o especialista em ginecologia pela FEBRASGO, com 24 anos de atuação na área de ginecologia endócrina, atuando em reposição hormonal, emagrecimento e foco na saúde integral, onde o estilo de vida é a base do tratamento.

Um outro fator que impacta na dificuldade de diagnosticar o problema é que os exames de imagem como ultrassom e ressonância magnética precisam ser realizados por profissionais treinados e acostumados a identificar o problema, caso contrário ele pode passar despercebido, principalmente nas fases iniciais e em mulheres assintomáticas.

“Também é importante que o médico ginecologista utilize para o diagnóstico a história clínica da paciente e a avaliação do exame de toque”, ressalta Dr. Jorge Valente, que é , pós graduado em medicina ortomolecular e em longevidade.

Entre os sinais que devem ser observados pelos profissionais e pelas mulheres o especialista destaca: dor pélvica crônica que ultrapassa o período menstrual, cólicas menstruais fortes, dor ao evacuar, sangramento na urina, dor na relação sexual, ressecamento vaginal, redução do desejo sexual, infertilidade e até mesmo mudança em seu perfil psicológico.

Segundo o especialista, essa influência no fator psicológico tem muitas vertentes desde o início da doença e acomete cerca de 40% das mulheres diagnosticadas com o problema. “Isso acontece porque a endometriose é uma doença inflamatória com características autoimune que se inicia no intestino e, esse processo inflamatório no intestino, mexe com a produção de neurotransmissores que vão interferir na ansiedade, na depressão e nesse aumento de TPM, de estresse e nervosismo”, explica o médico.

O ginecologista alerta que a escolha do tratamento ideal para reduzir os impactos da endometriose na saúde e qualidade de vida das mulheres deverá ser feita de maneira individualizada, de acordo com os sintomas apresentados por cada uma delas. “Entre as alternativas está o bloqueio da menstruação e ovulação e/ou a adoção de tratamentos hormonais, associados a uma mudança no estilo de vida, com a redução de consumo de alimentos inflamatórios e a prática regular de atividade física”, avalia Dr. Jorge Valente.

“A endometriose é uma doença que afeta as mulheres em duas searas muito importantes, primeiro na qualidade de vida, com a dor pélvica crônica e segundo na possibilidade de gestar, causando infertilidade. Por esse motivo, devemos ter uma visão mais ampla e tratar a paciente e não apenas a doença”, conclui o especialista.

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6 mitos e verdades sobre a endometriose

Por se tratar de uma doença complexa, que se manifesta de forma diferente em cada mulher, muitas são as dúvidas em torno dela, gerando assim alguns mitos. Com o objetivo de trazer esclarecimentos sobre o tema o ginecologista Dr. Jorge Valente listou seis mitos e verdades sobre a endometriose. Confira:

Não pode engravidar nunca 

Mito. Embora seja considerada a principal causa da infertilidade feminina (cerca 20% a 50% das mulheres inférteis têm endometriose), nem sempre a endometriose vai levar a infertilidade. Existem diversos tratamentos e métodos que possibilitam que as pacientes engravidem e tenha uma gestação tranquila. Além disso, por se tratar de uma doença inflamatória a adoção de hábitos que incluem o acompanhamento com profissional capacitado, boa alimentação e prática de atividade física, também podem contribuir para evitar a infertilidade.

Anticoncepcional é o melhor tratamento 

Mito. A utilização do anticoncepcional como tratamento não necessariamente irá impedir que a doença avance, o uso de pílulas ajuda a reduzir os sintomas e incômodos sentidos pela mulher, mas, o ideal é que ela seja acompanhada por um profissional. A falta de acompanhamento e investigação pode atrasar o processo terapêutico fazendo com que a paciente passe a apresentar outros problemas relacionados à doença, como por exemplo a infertilidade.

Existe um remédio mágico

Mito. Não existe um remédio ou tratamento mágico para tratar a endometriose. Cada paciente é única e assim como a doença se manifesta de maneira diferente em cada mulher a escolha terapêutica deve respeitar essa individualidade.

Medicina integrada é o melhor tratamento 

Verdade. A endometriose é uma doença crônica de característica inflamatória por isso é importante que o profissional tenha uma visão ampla sobre a paciente e não apenas sobre a doença. Manter bons níveis de vitamina D, uma alimentação saudável, o bom funcionamento do intestino, hidratação adequada e noites bem dormidas são fatores essenciais para a eficácia do tratamento e melhora da qualidade de vida da paciente.

Dor pélvica crônica e infertilidade são maiores problemas

Verdade. A endometriose é uma doença que afeta as mulheres em duas searas muito importantes, primeiro na qualidade de vida, com a dor pélvica crônica e segundo na possibilidade de gestar, causando infertilidade.

Pode aumentar o risco de câncer de ovário

Verdade. A endometriose é considerada um fator predisponente para o câncer de ovário. Estudos mostram que o risco de uma paciente diagnosticada com a endometriose desenvolver câncer de ovário é duas a três vezes maior, quando comparado com aquelas pacientes que não possuem alterações no endométrio.

Fonte: Jorge Valente, ginecologista

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