O petroleiro Bruno Lima da Costa Soares, de 34 anos, gravemente ferido durante o sequestro de um ônibus dentro da Rodoviária do Rio de Janeiro, enfrenta uma dura batalha pela sobrevivência. Ele foi operado pela segunda vez em três dias, agora no hospital particular para onde foi transferido na noite da última quarta-feira (13), depois de passar por duas unidades hospitalares da rede pública de saúde da capital.

O Hospital Samaritano Botafogo, na zona sul da cidade, informou nesta sexta-feira (15) que Bruno foi submetido na tarde da última quinta (14) a uma nova cirurgia para a retirada do projétil que estava alojado na altura do coração. A unidade informou que, após o procedimento cirúrgico, “o paciente segue internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da unidade e seu estado de saúde permanece grave”. Não foram passados mais detalhes sobre a nova cirurgia.

A necessidade de mais um procedimento cirúrgico havia sido descartada pela equipe do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), em Laranjeiras, para onde Bruno foi transferido na noite de terça-feira (12), algumas horas após passar por uma complexa cirurgia no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro. Neste primeiro procedimento, precisou retirar o baço e recebeu transfusão de 12 bolsas de sangue – que seriam suficientes para salvar até 48 vidas.

Fundado há 70 anos, Hospital Samaritano, em Botafogo, é um dos mais caros na cidade (Foto: Alessandro Mendes / Divulgação)

Hospital de referência em cirurgia cardíaca havia descartado novo procedimento

Um dos seis hospitais federais instalados no Rio de Janeiro, o Instituto Nacional de Cardiologia (INC) é considerado referência em cirurgias cardíacas de alta complexidade. No entanto, os médicos de lá entenderam que Bruno não precisaria passar por nova cirurgia na unidade. O INC não detalhou os motivos, mas a decisão teria sido tomada devido ao alto risco do procedimento, por conta da localização da bala, muito próxima ao coração.

“A avaliação da equipe médica do INC é que ele não precisará de intervenção cardíaca“, afirmou o instituto, em nota distribuída no fim da noite de quarta-feira. Na ocasião, o INC ainda informou que o paciente se encontrava “em estado crítico, mas se mantém estável com o suporte da terapia intensiva”. “Desta forma, por orientação da nossa equipe e com autorização da família de Bruno, o paciente já foi transferido para um hospital geral, onde seu tratamento terá prosseguimento”, justificou a instituição.

Instituto Nacional de Cardiologia (INC) é referência em cirurgia cardíaca de alta complexidade (Foto: INC)

Já o Hospital Samaritano, onde Bruno agora está internado, tem mais de 70 anos e é considerado um dos mais caros e mais bem equipados do Rio de Janeiro. A unidade de Botafogo é conveniada à Petrobras, onde Bruno começou a trabalhar recentemente, após passar num concurso público em novembro de 2023. Ele ainda cursa Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), cidade onde mora.

Transferência envolveu duas ambulâncias

Não é comum um paciente grave ser transferido de unidades hospitalares mais de uma vez em intervalo tão curto de tempo. Nestes casos, a família deve autorizar a transferência, mediante o alto risco de morte que pode ocorrer. No caso do petroleiro, a família autorizou as duas transferências.

Duas ambulâncias equipadas com todo a infraestrutura de uma UTI foram colocadas à disposição para fazer o traslado do paciente do INC para o Samaritano. Na unidade hospitalar, uma pessoa da família acompanha o paciente, mas não deu declarações públicas, até o momento, sobre o estado de saúde do petroleiro, que mora em Juiz de Fora (MG).

Bruno passou menos de 24 horas internado na UTI do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), para onde foi transferido poucas horas após ser operado. No Hospital Souza Aguiar Aguiar, no Centro, onde foi socorrido inicialmente, os médicos avaliaram que ele precisaria passar por uma cirurgia no coração, tendo, então, recomendado a transferência para o INC. Tanto o instituto quanto o Souza Aguiar fazem parte do Sistema Único de Saúde (SUS).

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Bruno precisou de 12 bolsas de sangue em transfusões

Durante o sequestro do ônibus na Rodoviária do Rio na última terça-feira (11), Bruno Lima da Costa Soares recebeu três tiros, na região do tórax e abdômen, que atingiram pulmão, baço e coração. Ele teve que retirar o baço e também sofreu perfuração no pulmão, perdendo muito sangue. Levado para o Hospital Souza Aguiar, ele passou por duas cirurgias que duraram mais de cinco horas, envolveram pelo menos 25 profissionais de saúde e consumiram 12 bolsas de sangue. 

Para se ter ideia, geralmente, uma bolsa é suficiente para salvar quatro vidas. Ou seja, somente nas transfusões que o petroleiro precisou receber, foi usado volume de sangue que poderia salvar outras 47 pessoas. O estado de saúde de Bruno motivou uma grande mobilização para suprir os estoques de sangue no Hemorio, o principal hemocentro do estado. O Sindicato dos Petroleiros do Estado (Sindipetro) realizou uma ampla campanha de incentivo às doações.

No dia seguinte à tragédia, na quarta-feira (13), foram captadas 303 bolsas de sangue, volume suficiente para salvar 1.200 vidas, segundo informou a Secretaria de Estado de Saúde (SES). Ao todo, foram realizadas 303 coletas, quase três vezes mais do que as 105 bolsas do dia anterior, um aumento de 189%.

Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio, é referência em atendimento a politraumatizados, em geral, vítimas de acidentes de carro e armas de fogo (Foto: Linkedin)

 

Universidade onde Bruno estuda manifesta solidariedade

Bruno é natural de Volta Redonda (RJ), mas se mudou com a família para Bicas, na Zona da Mata de Minas, e depois para Juiz de Fora. Atualmente, cursa Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Juiz de Fora. Nesta quarta-feira (13), a UFJF emitiu uma nota de solidariedade.

Bruno foi recentemente aprovado em concurso público e está cursando a Universidade Petrobras, antes de assumir, efetivamente, a sua função em plataformas de petróleo. Na terça-feira à tarde, ele estava na plataforma da Rodoviária Novo Rio para embarcar para Juiz de Fora, onde reside, quando foi baleado.

Os disparos foram feitos por Paulo Sérgio de Lima, de 29 anos, que tentava fugir de traficantes e confundiu Bruno com um policial militar, enquanto fazia 16 passageiros reféns. O terror durou três horas, parou o trânsito em uma parte da cidade e mobilizou o país. Emissoras de TV transmitiram o clima de tensão até o desfecho final, quando o sequestrador se entregou.

Após se render, o sequestrador disse à polícia que achava estar cercado por policiais desde o momento em que comprou a passagem. Ao atirar, de dentro do coletivo, em outro passageiro que correu, ele acabou acertando Bruno.

Sequestrador já respondia por homicídio em MG

Nesta quarta-feira (13), policiais do Rio que investigam o caso descobriram, por meio de informações da polícia de Minas Gerais, que Paulo respondia por mais três crimes naquele estado, entre eles, um homicídio, cometido em 2015. No episódio da Rodoviária, o acusado deve ser indiciado por crimes de tentativa de homicídio, sequestro, cárcere privado e porte ilegal de arma. 

O caso também expõe as falhas no sistema judiciário. A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) informou que já avisado seis vezes à Vara Criminal que o ex-detento havia descumprido a medida de prisão domiciliar.
Na noite desta terça-feira (12), “depois da casa arrombada”, a Justiça resolveu agir, pressionada pela repercussão do novo crime. E foi determinada a regressão da pena por violar a medida punitiva e Paulo foi condenado a mais 9 anos e quatro meses de reclusão no novo mandado de prisão.
Uma lei que deveria estar em vigor há 30 anos no Estado do Rio prevê instalação de detectores de metais nos terminais rodoviários. A Rodoviária do Rio informou não ser contra, mas que precisaria da presença da polícia para operar os detectores de metais. Se Paulo tivesse passado por  um desses, certamente, a tragédia não teria ocorrido.

Bandido preso revela ‘elevada audácia e destemor’

O sequestrador foi transferido na quarta-feira (13) da 4ª Delegacia Policial (DP), no Centro, para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, zona norte da capital, onde permaneceu até a audiência de custódia na quinta-feira (14). De lá, foi levado para a Penitenciária Bangu 1, após a Justiça converter a prisão em flagrante para preventiva.
Na decisão, o juiz Pedro Ivo Martins Caruso D’Ippolito argumentou que Paulo já tinha outras anotações criminais e ainda destacou a “elevada audácia e destemor” do acusado no início da audiência. Ele estava exaltado e agressivo com os policiais penais que o conduziam para a sala de audiências.

“O custodiado ostenta anotações e condenações em sua FAC (ficha de anotações criminais) pela prática de crimes graves, como roubo. Trata-se de reincidente. Inclusive, encontrava-se foragido do sistema penitenciário. Há, portanto, diante do histórico criminal do custodiado, risco concreto de reiteração delitiva, o que torna, igualmente, a prisão preventiva necessária para garantia da ordem pública”, escreveu o magistrado.

Durante a audiência de custódia, o advogado de Paulo Sérgio solicitou que seu cliente fosse levado a um presídio neutro por medo de represálias. Ele havia declarado pertencer a uma facção criminosa que domina o Rio de Janeiro e feriu outro traficante na Rocinha no final de semana. Depois disso, resolveu fugir para Juiz de Fora, onde moraria sua família.

“Minha tarde foi interrompida pelos policiais. Me atrapalharam os policiais. Quatro civis disfarçados atrapalharam a minha viagem”, disse Paulo Sérgio à imprensa, ao deixar a delegacia. A Polícia Civil afirma que ele também atirou contra policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que faziam a negociação do lado de fora.

Com informações do INC, UGJF e Agência Brasil (atualizado em 15/03/24)

 

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