O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte e a principal causa de incapacidade no mundo1,2. A cada seis segundos, uma pessoa morre em decorrência da doença1,3 e, a cada minuto sem tratamento, 1,9 milhão de neurônios são perdidos4. Para alertar a população sobre a importância do rápido atendimento em casos de AVC, a atleta paraolímpica de 23 anos, Verônica Hipólito, por meio da campanha “A Vida Conta”, gravou um vídeo que está disponível em suas redes sociais (Facebook Instagram) e nos canais da Rede Brasil AVC, ONG formada por profissionais de diversas áreas que unidos lutam para diminuir o número de casos da doença, melhorar o atendimento pré-hospitalar e hospitalar ao paciente, melhorar a prevenção ao AVC, propiciar a reabilitação precoce e reintegração social.

“Eu tinha 14 anos quando sofri um AVC, o que prova que essa doença não escolhe idade. E me recuperei sem sequelas graves graças ao rápido atendimento que recebi. Por isso é tão importante que as pessoas reconheçam os sinais do AVC e ajam instantaneamente. É isso que ajuda a salvar vidas”, conta a atleta paraolímpica. Entre os sintomas mais comuns do Acidente Vascular Cerebral estão assimetria facial, perda de força de um lado do corpo e dificuldade para falar e compreender a fala.

De acordo com a Dra. Sheila Martins, neurologista e presidente da Rede Brasil AVC, a doença é sempre uma emergência médica e pode ocorrer na forma isquêmica ou hemorrágica. “Respondendo por aproximadamente 85% dos casos4, a forma isquêmica ocorre quando há a obstrução em um vaso sanguíneo que fornece sangue ao cérebro, bloqueando a passagem de oxigênio para as células locais, chamadas de neurônios, causando a sua morte. Já na hemorrágica, um vaso enfraquecido rompe e sangra no cérebro, causando inchaço e aumento da pressão local5”, conta.

Ainda de acordo com a médica, para tratar um AVC isquêmico há um medicamento injetável altamente eficaz. “Estudos comprovam que o paciente que recebe esse medicamento em até 4h30 após o início dos sintomas, tem 30% mais chances de bons resultados em seu quadro clínico”, finaliza a médica. “Por isso, se você ou alguém próximo apresentar os sintomas da doença, chame imediatamente o SAMU”, reforça a atleta paraolímpica, Verônica Hipólito.

A história de superação de Verônica Hipólito
Quando tinha apenas 12 anos, Verônica Hipólito precisou retirar um tumor na hipófise. Dois anos mais tarde, sofreu um AVC Isquêmico do lado direito de seu corpo. Mas estes problemas não a fizeram desistir de ser uma atleta e, em 2013, se tornou campeã mundial nos 200m rasos e vice-campeã mundial nos 100m, durante o Mundial de Atletismo Paralímpico de Lyon, na França.

Em 2015, quando estava prestes a disputar os Jogos Parapan-Americanos, em Toronto, no Canadá, Verônica recebeu o diagnóstico de 200 tumores no intestino grosso. Mas nem isso parou a atleta que voltou ao país com três medalhas de ouro e duas de prata. Ainda no mesmo ano, foi campeã sul-americana nos 100m, 200m e salto em distância.

Em 2016, ganhou uma medalha de prata e uma de bronze na Paralímpiada do Rio de Janeiro. Mas, em 2017, recebeu a notícia da volta do tumor na hipófise, passou por uma nova cirurgia e a recuperação foi bem difícil. No ano seguinte, precisou voltar ao centro cirúrgico para mais uma operação. Passou meses de cama e, neste ano surpreendeu a todos novamente com uma participação brilhante no Parapan, de Lima, de onde voltou com mais três medalhas de prata.

 

Quando acordou naquela manhã de 2017, Marisol Martinez, hoje com 47 anos, sentia-se como sempre. Foi no ritual de pentear os cabelos logo cedo que percebeu os sintomas chegando. Naquele dia ela não entrou em contato com a mãe, como sempre fazia, e a progenitora desconfiou e correu até sua casa. Mãe sempre sabe. A filha sofrera um AVC.

A história da Marisol desde então tem sido de muito esforço para recuperar um pouco das funcionalidades afetadas pelas sequelas do AVC. O trabalho dela é de tanto empenho, e os resultados são tão bonitos, que eu gostaria de falar deles um pouco mais tecnicamente, até para comunicar a outros pacientes: é possível ter uma vida melhor após o AVC.

No caso da Marisol, ela ficou com paralisação do lado direito, alterações na fala, sensoriais, no equilíbrio, na marcha em oscilação, além de alterações nos sentidos – na forma de sentir calor e frio, por exemplo.

Durante seu tratamento, iniciado há cerca de seis meses, começamos com a terapia da mão, que registrou bastante evolução. Antes, ela não conseguia nem abrir a mão. Agora, já está treinando o movimento de pinça.

Outra dificuldade enfrentadas pela Marisol era com a respiração e o bloqueio na caixa torácica, motivos que conduziram à escolha da terapia de reequilíbrio toracoabdominal. Conhecida como RTA, essa técnica foi desenvolvida na década de 1980 pela fisioterapeutaMariangela Pinheiro de Lima, durante o período em que iniciou o ambulatório de Fisioterapia do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. A profissional testou e estabeleceu protocolos para esse procedimento, com destaque para a aplicação em UTI neonatal. Desde então, as manobras têm ajudado tanto bebês quanto crianças e adultos em todo o país.

Com a Marisol, foi realizado um protocolo de dez atendimentos de uma hora cada, no período de um mês, com a documentação postural antes e depois. Depois disso, houve um grande ganho, a começar pelo fato de que a paciente dormiu várias vezes durante a sessão! É sinal de relaxamento profundo.

As manobras manuais podem ser realizadas com o paciente sentado ou deitado, de costas ou de bruços, de acordo com o local do encurtamento no corpo. Após o início das manobras com a Marisol, percebemos uma rápida evolução, com a melhoria de postura e expansão do tórax, permitindo entrada de mais oxigênio e abertura do diafragma.

Com isso, a própria fala da Marisol melhorou, como consequência da melhor respiração. Hoje ela diz, “Antes, assim (ela mostra o corpo contraído) e “agora, passou! Sou só sorriso”.

Levei muitos atendimentos para entender onde ficavam a inspiração e a expiração da Marisol, porque ela apresentava uma respiração muito curta. Por esse motivo, justamente, optamos pelas sessões de RTA. E o esforço compensa: o dia em que ela encostou a palma da mão inteira na maca foi emocionante…

Agora vamos continuar com as sessões de RTA e retomar a terapia da mão. Outro desafio é aprimorar ainda mais a fala – algo que é dificultado pela ansiedade dos interlocutores, que se adiantam e “falam” por ela.

Fica então o lembrete: é preciso deixar o paciente formular a fala no tempo dele! Isso também irá estimular as melhorias, por menores que pareçam.

 

*Syomara Smidiziuk é terapeuta ocupacional e sócia-fundadora do Centro de Excelência em Reabilitação Neurológica (CERNE).

Sobre a campanha A Vida Conta
Sendo assim, para alertar a população sobre a importância do rápido atendimento ao paciente que está sofrendo um AVC ou infarto, foi criada a campanha “A Vida Conta”, que é uma iniciativa da ONG Rede Brasil AVC em parceria com a Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares, com apoio da Boehringer Ingelheim.

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