Aos 24 anos, Odriano França foi diagnosticado com insuficiência renal, condição caracterizada pela incapacidade dos rins de filtrar e eliminar toxinas do sangue, o que o faz depender de uma máquina para sobreviver – ele é um dos pacientes atendidos na hemodiálise do Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), em Belém (PA),

Saí com minha esposa e, ao chegar em casa, fiz esforço e senti um incômodo nas costas. Pensei que não era nada grave, mas meu rosto e pés incharam. Procurei um médico e, então, fui informado sobre o problema”, contou ele, que é natural da Ilha do Marajó.

Hipertenso, Odriano, agora com 29 anos, não sabia dos riscos que a doença crônica poderia representar para a saúde dos rins. “A gente não compreende e, às vezes, negligencia até que algo mais grave aconteça, como no meu caso. Atualmente, divido minha rotina entre minha casa e as sessões de hemodiálise, três vezes por semana, quatro horas de duração”, ressalta o autônomo.

Assim como Odriano, a maioria dos pacientes do Programa de Terapia Renal Substitutiva (STRS) do Abelardo Santos é diabética e hipertensa. Somente em 2024, o hospital realizou 23.024 procedimentos de hemodiálise, uma média de 1,9 mil por mês. Esse número representa um aumento de 21,51% em comparação ao ano anterior, que registrou 18.947 sessões.

Principais causas incluem diabetes e hipertensão

Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), as doenças renais crônicas atingem mais de 10 milhões de pessoas no Brasil. As doenças renais são condições potencialmente graves, caracterizadas pela perda da função dos rins, podendo ser agudas ou crônicas.

Entre as patologias mais comuns, destacam-se os cálculos renais (pedra nos rins), a infecção renal (pielonefrite), cistos, tumores renais e a insuficiência renal. As principais causas de DRC incluem hipertensão e diabetes.

A glicose desregulada prejudica o organismo, podendo desencadear processos inflamatórios. O excesso de açúcar sobrecarrega os rins, fazendo com que filtrem grande quantidade de sangue, levando à perda de proteínas na urina”, afirma o nefrologista Luis Cláudio.

O especialista destaca ainda que a hipertensão pode causar danos aos vasos sanguíneos dos rins ao longo do tempo, tornando-os mais estreitos, rígidos e menos eficientes no fornecimento de sangue. Com isso, a circulação fica prejudicada, fazendo com que os rins recebem cada vez menos oxigênio e nutrientes essenciais, comprometendo sua capacidade de filtrar o sangue corretamente.

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Diagnóstico tardio

Devido aos altos índices e aos relatos dos pacientes sobre a doença, diversas campanhas são promovidas no Dia Mundial do Rim (13 de março). A iniciativa visa aumentar a conscientização sobre a importância do cuidado dos rins para a qualidade de vida e a prevenção de problemas renais, e informações sobre os tratamentos como forma de promover a saúde da população.

Tânia de Souza Camelo (foto), de 42 anos, considera a campanha essencial para conscientizar a população sobre os riscos da doença renal e a prevenção. “Descobri aos 28 anos. Não foi fácil, pois precisei parar de trabalhar e comparecer frequentemente às sessões de hemodiálise. Sempre aconselho: realizem exames de rotina regularmente para evitar complicações”, enfatiza a assistente social.

O problema é que, na maioria dos casos, a insuficiência renal é silenciosa e, quando os sintomas surgem, a doença já se encontra em estágio avançado. Os sinais, como inchaço nas pernas, necessidade frequente de urinar à noite, e a presença de espuma ou sangue na urina, são sintomas tardios. Esses sinais geralmente indicam que a doença está em um estágio avançado”, acrescenta o médico.

Foi o que aconteceu com a indígena Domingas Tembé Ramos, de 71 anos, que descobriu tardiamente a doença renal. Como resultado, o tratamento mais indicado foi a hemodiálise. “É um desafio diário, mas estou aqui me cuidando. Ao longo da vida, é fundamental fazermos as escolhas certas para não enfrentarmos consequências negativas no futuro. Devemos cuidar da nossa saúde”, afirma.

Prevenção

Para o nefrologista do STRS, o diagnóstico precoce é crucial para o tratamento, só que mais importante do que tratar a doença é preveni-la. Adotar uma alimentação equilibrada, com baixo teor de sal, consumir bastante água, evitar o sedentarismo, praticar atividades físicas regularmente, evitar o tabagismo e buscar uma melhor qualidade de vida, são algumas das recomendações indicadas.

Luis Cláudio completa: “Ao procurar um médico para realizar o tradicional check-up, é fundamental solicitar a inclusão de exames que avaliem, por exemplo, a taxa de creatinina e ureia, que são os principais indicadores da função renal. Caso haja histórico de doenças renais na família, pressão alta, diabetes ou outros fatores de risco, esses exames devem ser realizados com regularidade”.

Opções de tratamento no SUS

A porta de entrada para as consultas e exames iniciais é a Atenção Primária à Saúde, e o cidadão deve se dirigir à Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de sua residência. Quanto ao tratamento, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece três opções de Terapia Renal Substitutiva (TRS) sem custo: hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal.

Hemodiálise tradicional: utiliza uma máquina para filtrar o sangue do paciente. O sangue é retirado, passa por um filtro (chamado dialisador) para eliminar resíduos e excesso de líquidos, e depois é reintegrado ao corpo. Esse processo é realizado em sessões de três a quatro vezes por semana, cada uma com duração de 3 a 5 horas, exigindo que o paciente se desloque até um centro de diálise ou hospital.

Diálise peritoneal: permite ao paciente realizar o tratamento em casa, evitando deslocamentos frequentes à unidade de saúde e proporcionando maior flexibilidade na rotina. Esse procedimento utiliza o peritônio – a membrana que reveste o abdômen – como filtro para remover toxinas do sangue, simulando a função renal de forma menos agressiva ao organismo.

Transplante: Consiste na substituição do rim doente por um saudável. Para entrar na lista de transplantes, deve-se passar por uma avaliação criteriosa, que inclui exames clínicos, laboratoriais e cardiológicos, e estar ativo no Sistema Nacional de Transplantes (SNT). A compatibilidade entre doador e receptor é fundamental para reduzir riscos de rejeição e aumentar as chances de sucesso do procedimento.

Sobre o HRAS

Localizado em Icoaraci, distrito de Belém, o Hospital Abelardo Santos é referência em hemodiálise e diálise peritoneal. A unidade conta com um espaço que atende quase 130 pacientes em quatro turnos, além de oferecer tratamento em leitos clínicos e na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ao todo, 22 máquinas e uma equipe completa de médicos e profissionais multidisciplinares, garantem suporte aos pacientes.

Com informações do HRAS

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