Mesmo que para alguns seja um momento feliz para encerrar mais um ciclo, o final do ano é um agravante ao estresse para pessoas que já estão deprimidas. É comum que as festas de fim de ano sejam, muitas vezes, um período delicado, por causar sentimentos de tristeza e frustração para muitas pessoas, a chamada “depressão de fim de ano”.

A sensação de que o ano vai acabar aumenta a cobrança de finalizar tudo, avaliar o que não deu certo, antecipar as metas para o próximo ano, comprar e consumir para as festas que estão chegando, se cobrar de estar com a família e rever alguns amigos…e por aí vai.

Segundo o CVV (Centro de Valorização da Vida), historicamente, as ligações para o canal aumentam em cerca de 20% no mês de dezembro, especialmente na época do Natal e Réveillon. E mais: a alta de suicídios no Brasil é algo alarmante: mais de 14 mil pessoas tiraram a própria vida no ano passado, segundo o DataSUS, número que ultrapassa a quantidade de vítimas fatais em acidentes de moto.

A médica psiquiatra Jéssica Martani, especialista em comportamento humano e saúde mental, comenta como o cérebro se comporta nessa fase do ano e porque os casos de suicídio também aumentam com a chegada do mês de dezembro.

“O ser humano tem uma ligação forte com datas, quer seja aniversários, Natal ou mesmo a virada do ano. Enquanto para a maioria das pessoas momentos como estes são motivos de alegria e felicidade, para pessoas que estão com o cérebro funcionando de maneira alterada como na depressão, tais momentos podem se tornar motivo de mais cobrança pela felicidade que não sentem e de culpa por estarem doentes e deprimidos. A maneira distorcida do deprimido enxergar a realidade faz com que ele piore os desfechos, pense de maneira pessimista e desesperanças e não veja saída para os problemas. Tudo isso pode aumentar o estresse emocional no final do ano e precipitar desfechos negativos como o suicídio”.

E isso tem explicação. “Geralmente o indivíduo deprimido apresenta uma distorção das memórias, isto é, lembra mais de fatos passados negativos e do pensamento, pensa mais negativamente, quando está deprimido. Dessa maneira, parece que tudo que aconteceu e o que está para acontecer foi e será ruim. Não há saída. Tudo é mais difícil e tomar decisões se torna absurdamente difícil”, comenta a psiquiatra.

Filipe Colombini, psicólogo e fundador da Equipe AT, explica por que os sentimentos acontecem nesta época. “Culturalmente, o final do ano é o momento de confraternização, com família e amigos, e, por isso, é natural refletir sobre o ciclo que chega ao fim e, muitas vezes, sentir-se desgostoso devido a solidão, metas não alcançadas e saudade de pessoas queridas”.

Segundo ele, “para alguns indivíduos, acontece até mesmo o agravamento de um quadro já existente, quando fica evidente para eles que não existe um bom relacionamento familiar”, explica o psicólogo. Esse tipo de situação de estresse ou pressão social costuma afetar a autoestima e, em geral, tem maior impacto em pessoas que já convivem com um quadro de transtorno mental.

“É importante ficar atento ao padrão comportamental de quem está próximo. Nas festas de fim do ano, muitas vezes os sinais de que a pessoa está deprimida podem ser mais evidentes, mostrando a necessidade de se procurar ajuda”, afirma Colombini.  “Devemos ficar atentos aos sinais de ideações suicidas de amigos e familiares o ano inteiro, mas nessa época do ano a atenção deve ser redobrada”, alerta.

A felicidade não se compra

O psicólogo conta que o filme de Frank Capra “A Felicidade Não se Compra” retrata um caso clássico de ‘depressão de fim de ano’, no qual o protagonista, que está à beira do suicídio, é convidado pelo seu anjo da guarda a ver a vida por outro ângulo.

“Na vida real, é importante que as pessoas tenham o apoio adequado de membros do seu ciclo familiar e de amizades, que podem cumprir esse papel protetor e realmente ajudar a salvar vidas. Para isso, é preciso olhar atentamente e procurar ou indicar suporte psicológico e psiquiátrico para quem estiver precisando”.

“Em momentos de maior sensibilidade, é essencial praticar a audiência não punitiva, ou seja, buscar não invalidar ou castigar alguém pelo que ela está sentindo. O importante é ouvir, acolher e tentar compreender aquela pessoa sem julgamentos ou comparações, que, por mais bem intencionadas que sejam, podem piorar a situação”, diz o psicólogo.

“Quando mudanças no padrão comportamental são perceptíveis e sinais de ideação suicida começam a aparecer, é preciso acionar ajuda profissional imediatamente. Se houver resistência, uma boa dica é buscar o trabalho de AT, acompanhamento terapêutico, linha de psicoterapia que atende dentro da residência do paciente e/ou em outros ambientes fora do consultório”, conclui.

Sinais de aumento do risco de suicídio

Nem toda pessoa deprimida apresentará ideias de se matar (ideação suicida), mas a presença de algumas características da pessoa ou da família aumentam o risco de suicídio para a pessoa que está deprimida, que são:
– Elevado grau de depressão, desesperança, desamparo e desespero (4 D`s do suicídio);

– Apresentar uma ideia ou um plano de suicídio bem estruturado;

– História de tentativas prévias de suicídio;

– Presença de um transtorno psiquiátrico grave já diagnosticado (esquizofrenia, bipolaridade, alcoolismo);

– Acesso a muitos meios e métodos de autoextermínio;

– Ausência de suporte familiar;

– Fatores de estresse que precipitem o suicídio como estar solteiro ou separado; estar desempregado; estar distante da família; estar sofrendo assédio moral em ambiente de trabalho;

– Doenças médicas graves: câncer, quadros dolorosos, doenças reumatológicas, doenças neurológicas, AIDS, doenças dermatológicas graves, etc.

– Impulsividade aumentada (por exemplo em alguma depressão do espectro bipolar);

– Ausência de fatores de proteção como autoestima elevada; bom suporte familiar; laços sociais bem estabelecidos com família e amigos; religiosidade independente da afiliação religiosa e razão para viver; ausência de doença mental; estar empregado; ter crianças em casa; senso de responsabilidade com a família; gravidez desejada e planejada; capacidade de adaptação positiva; capacidade de resolução de problemas e relação terapêutica positiva, além de acesso a serviços e cuidados de saúde mental.

“Por isso observe se alguma pessoa deprimida apresenta algum destes fatores de risco e principalmente, se aproxime dela neste final de ano impedindo que este momento de festas possa se transformar em um momento de maior sofrimento para ela”, finaliza a médica.

Com Assessorias

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