Crossfit: os prós e contras da nova mania nas academias

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Adepto do crossfit para perder peso e ganhar massa muscular, Rafael sofreu uma grave lesão no pé (Foto: Acervo pessoal)
Adepto do crossfit para perder peso e ganhar massa muscular, Rafael sofreu uma grave lesão no pé (Foto: Acervo pessoal)

Musculação é coisa do passado. A onda agora é o crossfit.  O treinamento de alto impacto criado nos Estados Unidos para treinar soldados do exército, policiais e bombeiros, ganha a cada dia mais adeptos no Brasil, entre eles os atores Reynaldo Gianecchini, Bruno Gagliasso, Giovanna Antonelli e Bruna Marquezine.  A modalidade de atividade física baseada em “superar os próprios limites” parece ter se tornado a queridinha no mundo fitness em diversos países.

A prática de esportes diferenciados e de alta performance vem ganhando cada vez mais espaço dentro das academias brasileiras.  Há dois anos, havia apenas 80 salas oficiais de formação de professores, hoje são mais de 300. No Rio de Janeiro, só em 2016, 22 novos espaços especializados na prática da atividade que ficou mais conhecida pela marca CrossFit foram registrados no Conselho Regional de Educação Física da 1ª Região (Cref1).

“Como o brasileiro é muito vaidoso, busca as academias para ter um corpo mais bonito, mas o objetivo da atividade é, antes de tudo, garantir condicionamento físico ao praticante”, afirma o professor de Educação Física Edmar Lopes. Ele conheceu os exercícios funcionais em Portugal no ano de 2009 e chegou a dar treinos da atividade na Irlanda. No ano passado, tornou-se treinador no Rio.

Mas à proporção que aumentam os espaços destinados ao crossfit, cresce o número de pessoas lesionadas pelo treinamento, alertam os especialistas neste Dia Mundial da Atividade Física (6 de abril). Um estudo divulgado pela revista científica Journal of Strenght and Conditioning Research Publish Ahead of Print revelou que 73% dos praticantes da atividade já sofreram algum tipo de lesão e, destes, 7% precisaram de intervenção cirúrgica. As lesões no ombro e na coluna são as mais comuns entre os praticantes.

Em apenas 12 meses, foram diversas cirurgias e dezenas de lesões menores como tendinites, entorses e fraturas ocultas por estresse, entre os pacientes atendidos pelo ortopedista do Hospital Badim (RJ), Marcelo Kokis. “Ultimamente, tenho atendido muitos casos de lesão por conta do Crossfit, alguns muito sérios. Já fiz cirurgia reparadora em quatro pacientes, dois por fratura grave do tornozelo e dois por lesão do tendão do bíceps”, alerta o especialista.

Praticante de crossfit para ganhar massa muscular e perder peso rapidamente, Rafael Augusto da Fonseca, de 31 anos, é um deles. O rapaz teve uma lesão gravíssima durante a execução de um exercício e apesar de todo o tratamento e cirurgias às quais vem se submetendo, tem um triste prognóstico: perder todos os movimentos do pé direito, que tem artrose e sofre um processo de necrose do osso tálus. “Me esforço para levar uma vida normal, mas não tenho movimentos no pé direito e já me acostumei com as dores permanentes. Já passei por três cirurgias e nem sei quantas mais virão”, conta ele.

Agachamento é um dos principais fundamentos do crossfit e pode causar lesões nos joelhos
Agachamento é um dos principais fundamentos do crossfit e pode causar lesões nos joelhos

Alto índice de lesões por treinamento excessivo

“O treinamento do crossfit possui um conjunto de atividades pesadas, por vezes, exaustivas. A modalidade trabalha em altíssima intensidade, exigindo o máximo do corpo. O alto índice de lesões se deve, justamente, a carga de treinamento excessiva, que expõe o praticante a riscos”, explica o fisioterapeuta e diretor do Instituto de Tratamento da Coluna Vertebral, Helder Montenegro. Segundo ele, as lesões estão associadas à prática incorreta dos exercícios e suas repetições.

“Quando no exercício do agachamento se projeta o joelho à frente da linha dos pés pode até mesmo provocar corte no menisco. Muitas vezes, há também uma falha muscular durante a atividade e o peso vai todo para a região articular, sobrecarregando os ligamentos que esticam demais e se rompem. Já a carga excessiva de peso na coluna associada a uma postura errada podem acarretar dores na coluna, em hérnias de disco e até em cirurgia”, revela Helder.

As consequências do excesso de atividade física passam por lesões principalmente nos joelhos, coluna e ombros. Isso se dá por conta dos exercícios que exigem que o aluno se movimente rapidamente e com grande quantidade de peso. “Esses movimentos são de impacto e causam estresse nas articulações. Se feitos de maneira incorreta, podem gerar lesões articulares, musculares e, no limite, rompimento de tendões”, diz o ortopedista Márcio Cohen, do Instituto Nacional do Traumatologia e Ortopedia (Into).

Um dos fundamentos mais realizados no CrossFit, o agachamento faz com que o aluno precise descer até quase o chão e voltar, causando sobrecarga na articulação do joelho. Já na coluna, essa sobrecarga, que no momento do exercício pode se apresentar como inofensiva, associada a uma postura errada, resultará em lesão. “O excesso de esforço na região pode acarretar dores na coluna, em hérnias de disco e até em cirurgia”, explica.

Segredo é respeitar os limites do corpo 

Apesar de todos esses riscos, a prática do CrossFit não é desaconselhada pelo especialista. “O CrossFit é uma ótima opção para quem acha musculação monótona, porém, torna-se uma atividade com grande potencial lesivo, já que exige muito do participante”, afirma Márcio Cohen, que é membro do Comitê de Cirurgia de Ombro e Cotovelo da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia-RJ e da Academia Americana de Cirurgia Ortopédica (AAOS).

Segundo Márcio Cohen, é preciso, além de uma avaliação adequada feita por um profissional, moderar a intensidade, o peso e o número de repetições. “Ter a real noção da capacidade do corpo e tentar não ultrapassar os limites, principalmente no começo, é fundamental. Caso sinta algum tipo de dor, procure um médico para saber qual tipo de lesão é daí iniciar um tratamento”, finaliza.

É imprescindível que haja uma avaliação antes de qualquer atividade esportiva para que o profissional possa enquadrá-lo adequadamente dentro da modalidade.  A recomendação, então, é que as pessoas procurem academias de referencia, com profissionais capacitados, na hora de aderir à prática. “O segredo para evitar as lesões é, como em todas as atividades físicas, respeitar os limites do corpo”, ressalta Montenegro.

O presidente do Conselho Regional de Educação Física do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, André Fernandes alerta: “É importante praticar atividade sempre sob orientação de um profissional de Educação Física porque ele fará a adaptação ao exercício para que aos poucos o indivíduo melhore sua capacidade funcional, condicionamento e força. Dessa forma, o praticante pode se tornar mais saudável e ganhar qualidade de vida”.

Preparador físico da seleção brasileira masculina de voleibol, o fisiologista José Inácio Salles, coordenador do Laboratório de Pesquisa Neuromuscular do Into, do Departamento de Biocinética e Cinemática no Esporte do Comitê Olímpico do Brasil,  reforça o alerta. “Quem não está com uma boa base de força que promova estabilidade articular possui maior risco de lesão. A atividade é indicada para aqueles que possuem boa integridade física e gostam de conviver com esforço extremo”.

José Inácio lembra ainda que os resultados rápidos prometidos pela modalidade, que combina exercícios aeróbicos com gestos de diversas modalidades esportivas, ocorrem somente para aqueles que possuem habilidades biológicas para aperfeiçoar a força muscular: “Não dá para transformar um maratonista em velocista e vice-versa”, ressalta.

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Eles são fãs

Mãe de um menino de quatro anos e de uma garota de dois, Tainá Anka, de 28 anos, era a popular “rata de academia”, como é conhecida a pessoa que passa horas nos aparelhos de musculação. Chegou a participar de competições de fisiculturismo. A comerciante começou a praticar os exercícios funcionais intensos há apenas quatro meses: “Eu estava desanimada com a rotina das academias de musculação, por isso aceitei fazer uma aula experimental de crossfit. A diferença é que os treinos são dinâmicos, não caem na rotina nunca”.

O representante comercial Caio Victor de Lima, 21 anos, começou a praticar os exercícios funcionais há um ano e meio, depois de um período de quatro anos de sedentarismo. Caio, que perdeu 12 quilos em apenas um mês de exercícios, diz que os resultados não se restringem aos aspectos físicos: “Eu ganhei muito mais do que condicionamento físico: autoestima, confiança e inclusão num círculo de pessoas preocupadas com a saúde e em vencer desafios”.

A engenheira Carolina Benevenuti, 28 anos, conta que o incentivo dos colegas de treinamento é mesmo fundamental na hora de concluir os desafios dos treinos diários. Carol, que pratica atividades como futebol, vôlei e surf, tornou-se atleta dos exercícios funcionais de alto impacto e participa das competições promovidas entre equipes: “É a partir do incentivo dos parceiros de treino e até dos próprios adversários de competição que o atleta consegue atingir seus melhores resultados”, ressalta.

Dicas para quem quer se matricular no crossfit

O que é o crossfit

São exercícios que levam o corpo ao limite e prometem ganho de massa muscular, condicionamento cardiorrespiratório e perda de gordura mais rápido que nas séries praticadas nas academias de musculação. Uma alternativa para quem quer entrar em forma em pouco tempo. Os exercícios são chamados de funcionais por reproduzirem os movimentos do dia a dia, como agachar, levantar-se, empurrar e puxar objetos.

A segunda característica é a variação dos treinos, que se renovam a cada dia, evitando que os praticantes se entediem com repetições de séries. A intensidade e complexidade dos exercícios, praticados sem repouso entre as séries, são outra marca da atividade. De acordo com estudos norte-americanos, problemas musculares e articulares são responsáveis por cerca de 20% dos afastamentos dos praticantes dos exercícios funcionais intensos.

Benefícios prometidos

A adesão à técnica deve-se principalmente pelo benefício da perda de peso, ganho muscular e condicionamento cardíaco, tendo em vista que o esporte mantém a frequência cardíaca elevada, além de agregar exercícios de explosão muscular.

Avaliação médica

É importante que o desportista busque a presença de um profissional habilitado e experiente. “É necessário ainda que, antes de começar os treinos, o praticante consulte o seu cardiologista para liberação da atividade. Dentro da mesma concepção de cuidados preventivos, é recomendável iniciar os treinos de maneira progressiva, para criar condições físicas com o objetivo de suportar a alta demanda cardíaca e muscular”, alerta o médico.

Idade ideal

De acordo com Marcelo Kokis, o esporte é mais indicado a pessoas de 16 aos 50 anos, dependendo do condicionamento físico. “Após essa idade, pode ser feito com a observação preventiva adequada”, afirma o ortopedista. Marcelo Kokis complementa acrescentando que o condicionamento físico é fundamental para a prática da atividade.

Como evitar lesões

Para minimizar os riscos de lesão, outras recomendações é que as pessoas interessadas na prática do crossfit faça uma avaliação adequada com um profissional da saúde antes de começar os treinamentos.

Moderar a intensidade

Moderar a intensidade dos exercícios, o peso e o número de repetições é primordial tanto para iniciantes quanto para antigos praticantes. “O grande ponto é a capacidade do profissional de avaliar as individualidades e saber dosar a intensidade do treinamento para cada aluno, se isso for feito o crossfit passa a ter os mesmos riscos de lesão que outros atividades, como a musculação”, acrescenta o fisioterapeuta Igor Montenegro, do Instituto Trata.

Da Redação, com assessorias

 

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