O motivo? A jovem mãe de três crianças que transformou sua rotina num grande reality show é acusada de ampliar o seu patrimônio avaliado em quase 1 bilhão de reais às custas da desgraça de pessoas simples e humildes que apostam todas as suas economias em jogos na internet, muitas vezes desenvolvendo transtornos mentais e sérias dificuldades financeiras e familiares.
Para além das questões éticas e morais, a convocação da influenciadora Virginia Fonseca à ‘CPI das Bets’ trouxe à tona discussões jurídicas relevantes sobre os limites e responsabilidades do marketing de influência no Brasil.
Para Joana Siqueira, professora de Direito da ESPM, o episódio escancara a necessidade urgente de regulamentação mais clara sobre a atuação de influenciadores digitais, especialmente quando promovem serviços de alto risco, como plataformas de apostas online.
Segundo a jurista, a decisão do ministro Gilmar Mendes no Habeas Corpus 256081 assegurou à influenciadora o direito ao silêncio em relação a fatos que possam incriminá-la, em conformidade com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. No entanto, o foco do debate jurídico vai além do depoimento em si.
A convocação tensiona os limites da responsabilidade civil e ética no marketing de influência, sobretudo quando envolve produtos ou serviços potencialmente danosos ao consumidor”, afirma Joana.
Para ela, a discussão ultrapassa os deveres já consolidados de identificação clara da publicidade e da transparência quanto aos riscos. O caso evidencia a urgência de se debater a real extensão da autonomia da vontade — e das liberdades individuais — diante de um marketing cada vez mais segmentado, personalizado e, muitas vezes, disfarçado de recomendação pessoal.
A professora destaca que, diante do crescimento do consumo digital, é essencial que o Direito acompanhe as transformações do mercado e ofereça parâmetros claros tanto para os consumidores quanto para os produtores de conteúdo.
Não se trata apenas de publicidade. Trata-se de como as plataformas e os influenciadores participam da construção de escolhas de milhões de pessoas. É uma questão jurídica, ética e social”, conclui.
Mais sobre o show de Virgínia na CPI das Bets
Durante seu depoimento aos senadores que compõem a CPI das Bets, Virgínia Fonseca respondeu questionamentos sobre cachês recebidos por publicidades e contratos com grandes empresas de apostas online. Mas negou ter recebido qualquer percentual extra — o chamado “cachê da desgraça” — com base nas perdas de seguidores em sites de apostas.
A jovem empresária de 26 anos já divulgou grandes empresas de apostas digitais – todas regulamentadas no Brasil, segundo ela – mas diz que a fortuna que construiu ao lado marido Zé Filipe – filho do cantor sertanejo Leonardo – vem de outros negócios no segmento de beleza que criou a partir da fama conquistada nas redes sociais. Segundo ela, os valores recebidos por campanhas com empresas de apostas foram devidamente declarados à Receita Federal.
Eu já tinha 30 milhões de seguidores quando divulguei [bets] e tenho a minha empresa. […] Ano passado [a minha empresa] faturou R$ 750 milhões, se não me engano. Então, eu não fiquei milionária com bet, não”, afirmou.
Instalada em novembro de 2024, tem objetivo de investigar a influência dos jogos de apostas online no orçamento das famílias brasileiras, além da possível associação com organizações criminosas envolvidas em práticas de lavagem de dinheiro.
Um outro braço da apuração quer identificarcomo influenciadores digitais promovem grandes empresas de apostas online em suas mídias e como são remunerados pela prática que é considerada antiética, uma vez que ilude os apostadores.
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Palavra de Especialista
‘Virginia não era apenas uma depoente — Era uma personagem’
Quando você tem 50 milhões de seguidores, cada gesto, cada palavra — até um copo sobre a mesa — viram mensagens poderosas. Virginia Fonseca não foi à CPI apenas para depor. Ela performou.”
Como empresária e especialista em desenvolvimento humano, comportamento e linguagem não verbal, analiso a aparição de Virginia Fonseca na CPI das Apostas sob uma ótica que vai além do discurso falado. Nada ali foi puramente casual — do moletom oversized ao copo rosa, da repetição de frases à suposta “confusão” entre o canudo e o microfone.
Neste artigo, revelo como cada detalhe — consciente ou inconsciente — reforçou uma narrativa cuidadosamente construída para o público, os parlamentares e, principalmente, para a mídia.
1. A linguagem do visual: por que o moletom oversized não foi um acidente
Virginia surgiu com um moletom largo, de cores neutras, e visual despojado — uma escolha aparentemente simples, mas cheia de significado:
Desconstrução da formalidade: Enquanto os políticos vestem ternos, o moletom dela transmitiu: “Sou uma pessoa comum.”
Proteção simbólica: Roupas largas funcionam, muitas vezes, como uma armadura emocional — como se ela quisesse se esconder.
Alinhamento com o público jovem: Manteve a imagem de influenciadora, não de investigada.
Roupas falam. E, neste caso, o moletom falou em tom de vulnerabilidade e pertencimento popular.”
2. O copo rosa: um sinal de inocência ou uma jogada calculada?
Enquanto os demais bebiam água em copos genéricos, Virginia levou o seu próprio: rosa, personalizado. Detalhe pequeno? Nem tanto.
Associação com feminilidade e juventude: Rosa é uma cor que culturalmente remete ao delicado, suave e “inofensivo”.
Diferenciação: Ela quebrou a rigidez do ambiente institucional e se destacou — sem dizer uma palavra.
Um copo pode ser um gatilho emocional. O rosa evoca doçura. É possível que tenha sido parte de uma estratégia mais ampla de suavização da imagem.”
3. A encenação do “deslize”: canudo no lugar do microfone
O momento em que Virginia “confunde” o canudo com o microfone viralizou. Mas será que foi um erro genuíno?
Humanização instantânea: Se foi proposital, o gesto ajudou a quebrar a tensão e a torná-la “gente como a gente”.
Desvio de foco: Estratégias assim desviam a atenção do conteúdo mais espinhoso.
Na hipnoterapia, chamamos isso de ponto de ruptura. Uma quebra de padrão que confunde momentaneamente o observador. Seja espontâneo ou não, funcionou.”
4. A fala polêmica: “Não sabia de nada” — credibilidade ou vulnerabilidade calculada?
Virginia repetiu inúmeras vezes que “não sabia de nada”. Pode ter sido ingenuidade… ou técnica.
Blindagem emocional: A repetição constrói uma narrativa de inocência.
Controle da mensagem: Frases simples e repetitivas são formas clássicas de evitar contradições.
Muitos líderes e figuras públicas usam essa técnica. A repetição evita armadilhas retóricas e impede que o discurso escape do controle.”
5. O silêncio como resposta: o que as pausas revelam
Em diversos momentos, ela recorreu ao silêncio — ora olhando para o advogado, ora para os lados. Isso diz muito.
Tempo para pensar: Pode indicar que ela realmente não sabia o que responder.
Estratégia de contenção: O silêncio é uma pausa poderosa que impede impulsos verbais prejudiciais.
O silêncio nunca é neutro. Em contextos de pressão, ele pode ser tanto medo quanto inteligência emocional.”
Conclusão: Virginia não era apenas uma depoente — Era uma personagem
A CPI não foi apenas um ambiente jurídico. Foi também um palco. E Virginia Fonseca compreendeu — talvez de forma intuitiva — que cada detalhe comunica.
Do moletom ao copo rosa, do silêncio à repetição, tudo colaborou para construir uma persona específica diante do público.
Não se tratava apenas de responder a perguntas — mas de controlar a própria narrativa.
Virginia Fonseca entende, mesmo sem formação em comunicação, que tudo comunica. E, em tempos hiperconectados, até um canudo pode virar ferramenta de defesa.”
Madalena Feliciano é empresária, CEO da Outliers Careers, IPC e MF Terapias. Consultora executiva de carreira, terapeuta e especialista em desenvolvimento humano. Atua como mentora de líderes e equipes há mais de 25 anos. Administradora com MBA em Hipnoterapia, Master Coach e Hipnoterapeuta, é referência em comportamento profissional, postura e linguagem não verbal. “Decifro o que as palavras não dizem.”
Com Assessorias e agências