Não é só “doença de velho”. Além de matar mais pessoas idosas, por conta das chamadas comorbidades (doenças pré-existentes como diabetes, obesidade e problemas cardiovasculares), mas a Covid-19 também faz mais vítimas entre os homens, desde o começo da pandemia. Na Itália, sete em cada dez mortos são do sexo masculino; no Brasil, a proporção é de 60%.
Segundo a iniciativa de pesquisa Global Health 50/50, dados de mais de 20 países confirmam que as mulheres são infectadas pelo vírus com a mesma frequência que os homens. Mas é mais provável que os homens contraiam Covid-19 e morram da doença. Nos países pesquisados, os homens representam cerca de dois terços das mortes
Segundo últimos dados do Ministério da Saúde, 58% dos óbitos por Covid-19 foram de pacientes do sexo masculino. O número surpreende ainda mais quando se leva em conta que, no país, há 4 milhões mais mulheres do que homens acima dos 60 anos – faixa etária a partir da qual a maior parte das mortes por covid-19.
No Brasil, as projeções globais se confirmam. A pandemia do coronavírus atinge majoritariamente pessoas do sexo feminino, com média de idade de 44 anos, mas os homens são os que concentram a maior porcentagem de mortes desde o início da doença. É o que aponta um estudo desenvolvido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com base em informações clínicas e demográficas de 28.854 pessoas diagnosticadas com Covid-19 desde fevereiro.
O levantamento foi feito com base em dados divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde de Pernambuco, que, na visão dos pesquisadores, foi uma das unidades federativas que mais cederam dados precisos da característica dos infectados. Os números obtidos ajudam a entender a característica dos pacientes, além de ajudar nas medidas de proteção.
Especialistas tentam explicar
Desde que o coronavírus se alastrou e provocou mortes em mais de uma centena de países, uma pergunta vem intrigando cientistas de todo o mundo: por que homens estão morrendo mais do que as mulheres? A tendência foi observada inicialmente na China, onde o surto teve origem. Depois, se refletiu em países como França, Alemanha, Irã, Itália, Coreia do Sul e Espanha.
Cientistas ainda não sabem dizer ao certo por que isso vem ocorrendo. Mas apostam que a resposta não está em um único fator, mas possivelmente numa combinação deles: biologia, estilo de vida e comportamento poderiam explicar o caráter “sexista” da Covid-19.
Desde o início da pandemia, especula-se por que os homens sofrem mais com a infecção pelo novo coronavírus porque prestam menos atenção à saúde, fumam mais, se alimentam pior. Especialmente a geração mais velha teria um estilo de vida pouco saudável. Além disso, alguns afirmam, os homens geralmente costumam demorar mais para procurar um médico.
Isso certamente também se deve à condições de saúde pré-existentes. Por exemplo, os homens sofrem com muito mais frequência de doenças cardiovasculares, das quais eles também morrem com maior incidência do que as mulheres.
Um levantamento com 99 pacientes em um hospital na cidade de Wuhan, origem do surto, descobriu que dois terços eram homens e mais da metade dos doentes hospitalizados tinham doenças crônicas como cardiopatias ou diabetes. Dados mais recentes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças chinês, baseados em dezenas de milhares de casos, revelaram que 64% dos mortos por covid-19 eram homens.
No começo da pandemia, o The Guardian publicou que na China a mortalidade é de 2,8% entre homens e 1,7% entre mulheres e que esse padrão se mantém em todos os países que divulgam as estatísticas da pandemia também com recorte por gênero, como a própria Espanha, além da Alemanha, Coreia do Sul (onde mais mulheres ficaram doentes e mesmo assim mais homens morreram), França, Irã e Itália, em que 71% dos mortos pela doença são homens.
A causa mais provável teria a ver, então, com o estilo de vida. Ao redor do mundo, homens tendem a beber e a fumar mais do que as mulheres e, portanto, ficam mais suscetíveis a desenvolver doenças pulmonares e cardiopatias, o que os fragilizariam caso contraíssem o coronavírus.
Pesquisas mostraram que as mulheres geralmente têm sistemas imunológicos mais fortes do que os homens e, portanto, debelam infecções com mais facilidade. De acordo com estudo recente publicado na revista científica Human Genomics, o cromossomo X contém um grande número de genes relacionados à imunidade e, como as mulheres têm dois deles (os homens só tem), largam na frente no combate a doenças.
Com Uol e Agências