De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2022, as mulheres representam 51,1% da população brasileira e estão presentes cada vez mais nas universidades e no universo empresarial.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2019, por exemplo, revelaram ainda que o nível de ocupação das mulheres de 25 a 49 anos vivendo com crianças de até 3 anos de idade foi de 54,6%. Em lares sem crianças nesse grupo etário, o nível foi de 67,2%.

Dentre os espaços que carregam a experiência feminina, destaca-se o mercado de cannabis medicinal, que, segundo o Instituto Kaya Mind, em 2022 atingiu a cifra de R$ 363 milhões e este ano deve chegar a R$ 655 milhões, com mais de 200 mil pacientes e 400 marcas.

É grande o contingente de mulheres no segmento, seja no comando das empresas, diante de associações e entidades de pacientes, como mães, incentivadoras e advogadas. Uma realidade que merece ser lembrada no dia 11 de fevereiro, uma data emblemática para celebrar e refletir sobre a importância das mulheres na ciência.

Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência propõe o reconhecimento das contribuições femininas para o avanço científico e promove a igualdade de gênero nesse campo.

Segundo dados da Unesco, menos de 30% dos pesquisadores em todo o mundo são mulheres, e em áreas como engenharia e tecnologia, esse número é ainda menor. Barreiras como estereótipos de gênero, falta de incentivo e dificuldades em conciliar carreira e vida pessoal continuam a afastar muitas meninas e mulheres da trajetória científica.

Mulheres na Ciência: brasileira revoluciona a pesquisa mundial em cannabis

Uma boa história para ilustrar uma jornada feminina no mundo da ciência é protagonizada pela médica e pesquisadora mineira Mariana Maciel, considerada uma referência em inovação no mercado de cannabis medicinal. Em 2018 ela fundou a Thronus Medical após imigrar para o Canadá e conhecer de perto os benefícios medicinais da planta. A biofarmacêutica canadense de DNA brasileiro constituída 80% por mulheres.

Suas pesquisas científicas já renderam a ela a integração à Society of Cannabis Clinicians, uma organização sem fins lucrativos norte-americana dedicada a educar profissionais de saúde sobre o uso médico da cannabis. A médica também foi listada pela Kaya Mind como executiva referência no setor em 2023.

Eu sempre me identifiquei muito com a área de pesquisa e tive essa grande oportunidade de estudar e desenvolver produtos à base de cannabis. Antes dos 30 já liderava uma equipe de laboratório engajada em buscar novos caminhos para os medicamentos. Foi quando desenvolvi as nanopartículas de cannabis com base na nanomedicina, e que hoje são a marca registrada dos produtos da Thronus”, conta Dra. Mariana.

A trajetória da médica brasileira Mariana é inspiradora em um país que ainda tem muito para avançar com relação a presença das mulheres na ciência. Dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), de 2021, mostram que as mulheres são maioria nos programas de pós-graduação no Brasil, representando 60% dos matriculados em mestrado e doutorado. Porém, ainda existe uma imensa desigualdade na distribuição por áreas. Em cursos de engenharia, por exemplo, as mulheres representam apenas 27% dos estudantes, enquanto em áreas como educação e saúde elas são maioria.

 

 

Conheça outros exemplos de mulheres no mercado da cannabis

Thaise Alvarez, advogada, fisioterapeuta e fundadora e CEO da Alma Lab, empresa de produtos 100% orgânicos cultivados em solo estadunidense que se propõe a facilitar o acesso a terapias canabinoides no Brasil. O começo do trabalho da empresária foi focado com mães de autistas, que passam por uma luta envolvendo preconceito e estigma, além da dificuldade de cuidar das crianças e obter acesso ao tratamento à base de cannabis. Na maior parte são mães que lidam sozinhas com seus filhos, trabalham fora, muitas abandonadas pelos seus parceiros, que não aguentaram a pressão de cuidar de uma criança com esse diagnóstico.

A Alma Lab conta com um grupo de mães de autistas com espaço para depoimentos, desabafos e compartilhamento das experiências. “Fazemos um monitoramento mensal e tiramos dúvidas. Uma enfermeira traz segurança aos pacientes e realiza uma ponte com o médico quando é preciso ajustar a dosagem ou diante de algum sintoma não desejado”, explica.

Ana Luiza RiosCEO da Just Hemp Brasil e que também estará na Medical Cannabis Fair, atribui às mulheres a existência do mercado da cannabis.  “Mães lutaram para trazer uma vida melhor aos seus filhos, tanto na questão do Habeas Corpus de cultivo caseiro como na importação do produto, foram pioneiras, e isso acabou incentivando outras mulheres a entrarem neste mercado pelas mais diversas vias”, explica.

As mulheres ocupam lugares de destaque em segmentos como: pesquisa, jurídico, empresarial, jornalismo, área da saúde e poder público do mundo canábico.  “Reunir esses representantes para discutirem pautas importantes, dá a segurança de se estar caminhando no sentido correto. Confesso que antes da Medical Cannabis Fair acontecer, pairávamos todos em uma grey area, a feira trouxe legitimidade para o setor e isso foi uma virada de chave”.

A empresária é uma das mulheres pioneiras no Brasil a tentar legitimar a cannabis como um business em todas as suas formas, beneficiando um grande contingente de pessoas.  “A Just Hemp Brasil começou pequenininha e sofreu muito preconceito quando tentei normalizar as flores in natura e extrações como uma nova forma de administração para o tratamento de pacientes”, relembra. “Hoje eu vejo que temos uma aceitação maior dos profissionais e de outras empresas que compõe o mercado”, finaliza.

Maria Eugênia Riscala, CEO e co-fundadora da Kaya Mind, empresa especializada em coletar informações do setor da cannabis e transformá-los em dados quantitativos e qualitativos, vê vantagens para a mulher nessa área. “Outros segmentos, como o de construção civil, carregam preconceitos históricos. Já no de cannabis as mulheres têm a chance de se posicionarem de maneira pioneira”.

Aponta, porém, como desafio de sua função, garantir e que as informações sobre o mercado sejam levantadas sempre de uma maneira justa. “A melhor análise é a imparcial que conta a realidade do mercado e não a sobre a ótica de determinada empresa em busca benefício próprio”.

Também expositora na Medical Cannabis Fair considera a feira como um ambiente de networking. “Dá a oportunidade de quem ainda não está no mercado conhecer quem está e quem já está conhecer outros players, ou novos prospects, clientes e parceiros comerciais”.

Cidinha Carvalho, presidente da Cultive, Associação de Cannabis e Saúde, espera que o evento ajude a promover a inclusão.  “Desejo que muito mais mulheres sejam reconhecidas e respeitadas no mundo canábico, onde encorajamos a classe médica e autoridades com a informação e a dor, gerando a transformação, mesmo com um proibicionismo que muitos ainda morrem enquanto outros lucram, em um mundo ainda muito machista.  E que tantas mães possam ver seus filhos empreenderem com a cannabis em vez de serem presos ou mortos por fazerem o que hoje a indústria já faz”.

Sem fins lucrativos, a Cultive visa preencher a lacuna provocada pelo estado de ilegalidade da cannabis. Formada por pessoas que se uniram solidariamente, com autorização judicial para cultivar e extrair óleo aos associados, realiza atividades educativas e pedagógicas com o objetivo de disseminar os benefícios terapêuticos da planta e ampliar o acesso e autossustentabilidade para aqueles que poderiam se beneficiar da substância para o tratamento de suas enfermidades.

Para Jamila Rocha, CEO da BCure, empresa 100% orgânica e com uma ampla linha de dermocosméticos e tinturas derivados de cannabis, a mulher diferencia-se no setor pela maior sensibilidade relacionada aos benefícios terapêuticos da planta e aproveita para reforçar a gratidão àquelas que ergueram essa bandeira no Brasil. “Se não fossem elas, em 2013 e 2014, levantando essa pauta, ainda não teríamos nenhuma regulamentação da Anvisa [Agência de Vigilância Sanitária] que autoriza a importação de produtos.

Na opinião da executiva, a projeção no mercado nacional que a cannabis está tomando tem sido de evolução, principalmente quando se fala de qualidade de produto, de novas tecnologias e de educação. “Por isso, eventos como esse, com visibilidade nacional, permitem o acesso à informação a públicos que dificilmente estariam abertos a tais novidades”.

A BCure é fundada e dirigida por mulheres, que em momentos difíceis de sua vida encontraram um certo alento para as dificuldades nessa planta.  Tem como valor pensar na saúde e bem-estar não só do paciente, mas também de quem abdica de seu tempo, de sua saúde física e mental, para cuidar do outro. “A planta é importante tanto para diversas patologias, como também às pessoas que cuidam de seus entes queridos, que são os cuidadores, e na maioria mães”, finaliza a empresária.

Thaise, Ana Luiza, Maria Eugênia, a doutora Mariana, Cidinha e Jamila têm também em comum a convicção de que o  acesso a cannabis no Brasil melhorou, mas ainda o processo é burocrático e na farmácia o produto é caro, com dificuldades  vão desde regulamentação, preconceito, à falta de incentivos econômicos. Isso porque para importar demanda passar por vários funis o que requer custo e tempo. O principal desafio ainda é a burocracia para acessar o produto.

Essa luta, apesar de muitos avanços, ainda está no início e, para todas, as mulheres e mães têm um papel decisivo, pois estão conectadas com a vida e são detentoras do cuidado, proteção e entendimento. Além de possuírem maior sensibilidade de compreender certas questões, principalmente quando se trata de qualidade de vida.

Ainda é preciso avançar

 

Mulheres cientistas frequentemente recebem menos financiamento para pesquisas, têm menos acesso a redes de colaboração e são menos propensas a serem promovidas a posições de liderança em comparação com seus colegas homens. Essa desigualdade limita nosso impacto e visibilidade no campo científico. Não podemos desistir, pois temos um lugar importante para ocupar ainda”, destaca.

Mariana Maciel acredita que a importância feminina se dá na planta em si, já que as flores fêmeas são responsáveis pela produção dos canabinoides. “A figura feminina da mãe no papel como reivindicadora do direito de tratamento para seus filhos marcou a luta pela legalização do acesso. Muitas dessas mulheres tornaram-se idealizadoras de projetos e associações”.

Para elacannabis medicinal é uma terapia holística e a mulher sempre foi em sua grande maioria mais espiritualizada que o homem, fazendo com que muitas das profissionais prescritoras e empreendedoras valorizassem os relatos dos pacientes.  “A paixão pelo que faço é meu maior motivador. Eu acredito que, como mulher, mãe e médica, essa foi a missão que Deus me deu para atingir uma multidão por meio da medicina”.

Com Assessorias

 

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