A síndrome de Down é uma das causas da deficiência intelectual, um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por limitações nas habilidades intelectuais e adaptativas, com início antes dos 18 anos, e que afeta mais de 1% da população mundial (Manual MSD).  No dia 21 de março, é celebrado o Dia Internacional da Síndrome de Down, uma data voltada à conscientização e à superação de estigmas.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 300 mil pessoas têm a condição no Brasil, mas o acesso ao Ensino Superior ainda é limitado. De acordo com o último levantamento do Movimento Down, portal filiado à Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, apenas 94 pessoas com o diagnóstico estão cursando ou já concluíram uma graduação no Brasil.

Thalita Silveira, de 36 anos, é uma delas. Formada em Processos Gerenciais pela UniCesumar de Pelotas (RS), recebeu apoio e incentivo da família na decisão de iniciar uma graduação. “Minha experiência na faculdade foi muito boa, consegui realizar o meu sonho de ter um diploma. Fui muito acolhida pela universidade, que sempre me ajudou quando eu solicitava ajuda ou alguma adaptação necessária”, conta Thalita.

No momento da formatura, Thalita descreve que se sentiu “única, linda, maravilhosa e vencedora”.  Após a formação, a aluna conta que a vida dela mudou completamente.

Me sinto mais segura no meu trabalho, tenho o reconhecimento dos colegas e da minha chefe. Isso é libertador: não é somente sobre conhecimento acadêmico, mas inclusão social e amizades para a vida”, relata.

Com síndrome de Down, Fernanda Rafaela de Mattos, 45 anos, formada em História (Foto: Divulgação)

‘O essencial é acreditar em si mesmo e nunca desistir dos seus sonhos’

Assim como Thalita, outras pessoas com síndrome de Down têm superado desafios e alcançado o diploma universitário. Fernanda Rafaela de Mattos, de 45 anos, também trilhou esse caminho e encontrou na educação uma oportunidade de crescimento e inclusão. Se formou em Licenciatura em História na UniCesumar de Volta Redonda (RJ), escolha essa que foi motivada por uma professora da disciplina que teve no Ensino Médio, despertando a paixão pela História.

“Durante a faculdade, vivi um processo de amadurecimento e aprendizagem que me permitiu evoluir nos estudos, equilibrar a teoria com a prática e a desenvolver habilidades essenciais, como comunicação e organização. A faculdade ampliou meus conhecimentos acadêmicos e me proporcionou uma visão mais ampla sobre o mundo”, conta Fernanda.

A aluna expõe que também teve apoio da família durante a graduação, por meio de incentivos que fizeram a diferença. “Minha família foi a ponte que me permitiu realizar esse sonho acadêmico. Me ensinaram a ter os olhos voltados para o futuro, a perseverar nos momentos difíceis, a reconhecer os meus esforços e comemorar as vitórias alcançadas”, lembra.

Diante de um diagnóstico, ela incentiva que pessoas com Síndrome de Down não desistam da graduação: “O diagnóstico não é um fato de impedimento para o Ensino Superior. Posso dizer que o essencial é acreditar em si mesmo e nunca desistir dos seus sonhos. Para mim foi desafiador, mas, o que parecia impossível, se realizou. Então, o ideal é buscar apoio quando necessário, lutar pelo que almeja e celebrar cada pequena vitória. Cada pessoa tem o seu próprio ritmo”, aconselha Fernanda.

Apoio especializado em universidade

A EAD UniCesumar tem uma equipe dedicada a prestar suporte para acessibilidade e inclusão dos alunosa com qualquer tipo de deficiência que estão matriculados na Instituição. A  Unidade de Inclusão e Recursos Acessíveis (Unir) existe desde 2012 e, hoje, abrange 14 intérpretes, três tutores e dois líderes. A unidade realiza o acompanhamento e adaptação dos projetos de extensão dos alunos, produz legendas, aulas em libras e áudio descrição.

Nossa equipe é formada em Educação Especial e realiza a adaptação de materiais, acompanhamento durante o curso e realiza contato direto com os polos para reportar as necessidades especiais de cada caso como, por exemplo, se o aluno(a) precisa de mais tempo para fazer as provas, precisa de enunciados mais objetivos, e assim por diante”, explica Robson Pereira, supervisor da Área Unir.

Leia mais

Todas as pessoas com Down têm sobrepeso e são cardiopatas?
Síndrome de Down: o poder da representatividade no “brincar’
Síndrome de Down: como a estimulação precoce pode ajudar
Síndrome de Down: jovens usam internet para mostrar potência
Síndrome de Down: festival em Niterói celebra a inclusão

 

Avanços no diagnóstico de deficiência intelectual e nas terapias genéticas

As causas de deficiência intelectual são variadas, abrangendo tanto fatores ambientais quanto genéticos, com diferentes etiologias. Entre as causas genéticas mais relevantes estão as anomalias cromossômicas, como síndromes de microdeleção e microduplicação, variantes em genes específicos relacionadas a condições como a síndrome de Down, a Síndromede Rett e o X-frágil, além de desordens mitocondriais.
O diagnóstico e o tratamento da Síndrome de Down e outras condições de deficiência intelectual (DI) têm avançado de forma significativa. A investigação genética tem se tornado um componente crucial no diagnóstico e na compreensão dessas condições.
Com os avanços no diagnóstico e nas terapias genéticas, o futuro traz promessas de melhores intervenções, que podem reduzir os impactos da deficiência intelectual e melhorar a qualidade de vida das pessoas, especialmente no caso de síndromes como a de Down.

Estudo obtém sucesso de 37,5% na remoção do cromossomo extra

Entre as inovações promissoras no campo da genética, uma descoberta científica oferece novas possibilidades para indivíduos com essa condição genética. Sob a liderança de Ryotaro Hashizume, da Graduate School of Medicine, uma equipe de pesquisadores desenvolveu uma técnica inovadora para retirar a cópia extra do cromossomo 21, responsável pela trissomia que caracteriza a síndrome de Down.
Utilizando a avançada tecnologia de edição genética CRISPR-Cas9, os cientistas conseguiram uma taxa de sucesso de até 37,5% na remoção do cromossomo extra, restaurando funções celulares essenciais. As células tratadas apresentaram melhorias significativas, incluindo maior velocidade de proliferação, padrões de expressão gênica aprimorados e maior capacidade antioxidante.
A pesquisa foi realizada em dois tipos de células humanas cultivadas em laboratório, para o experimento: células-tronco pluripotentes induzidas (células adultas, como fibroblastos da pele, que são reprogramadas para terem as mesmas características de células embrionárias) e fibroblastos diferenciados (células da pele que já estão especializadas em produzir colágeno e outros componentes da matriz extracelular).
Embora o estudo ainda esteja em uma fase inicial e não esteja pronto para aplicação em humanos, ele abre caminho para futuras terapias genéticas que poderiam, um dia, mitigar ou corrigir as causas da síndrome de Down, oferecendo novas perspectivas para o tratamento e a qualidade de vida das pessoas afetadas”, afirma Roberto Giugliani, médico especialista em genética e coordenador de Doenças Raras na Dasa Genômica.
O especialista é reconhecido internacionalmente por ser o único brasileiro a figurar no ranking de pesquisadores que mais publicam na literatura científica sobre um grupo de doenças raras, as mucopolissacaridoses.

Exames genéticos para diagnosticar deficiência intelectual

De acordo com a American College of Medical Genetics and Genomics (ACMG), o sequenciamento do exoma e do genoma são testes recomendados de primeira e segunda linha, respectivamente, para a investigação de deficiências intelectuais.
Atualmente, os exames genéticos disponíveis têm se mostrado fundamentais no diagnóstico de transtornos do desenvolvimento intelectual. Entre os principais, destacam-se:
  • Análise cromossômica por microarray (SNP-Array / CGH-Array): utilizado para detectar alterações cromossômicas submicroscópicas, como microdeleções e microduplicações.
  • Sequenciamento do exoma: permite analisar as regiões codificadoras de proteínas do DNA, identificando variantes genéticas que podem estar associadas a doenças.
  • Sequenciamento do genoma completo: uma abordagem mais abrangente, que permite a análise de todo o genoma para detectar mutações genéticas.
Esses exames, já disponíveis no Brasil, proporcionam não apenas uma melhor compreensão das condições, mas possibilitam tratamentos e terapias mais direcionados. Para solicitá-los, é necessário consultar médicos especialistas, que indicarão o melhor caminho conforme o caso clínico, com informações detalhadas sobre métodos, prazo, tipo de amostra e outros requisitos necessários.
Com Assessorias
Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *