Até que ponto crenças populares podem atrapalhar o tratamento de uma doença? Na medicina, essa é uma situação comum nos consultórios, onde não faltam pacientes que, por seguir o conselho de um amigo, não observam as recomendações dos médicos. Por isso, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) alerta a população sobre mitos relacionados a esse quadro, que é a principal causa evitável de cegueira no mundo.

Dentre os vários mitos relacionados ao glaucoma, há aqueles que causam confusão e podem adiar o início de um tratamento ou até levar o paciente a abandonar os cuidados para essa doença, como alerta o oftalmologista Marcelo Hatanaka, membro do CBO e da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG).

Um mito que, na visão de Hatanaka, circula entre os pacientes é a certeza de cegueira para quem tem glaucoma. Ele explica que essa crença vem de uma época antiga em que o glaucoma não possuía muitas opções terapêuticas. No entanto, atualmente, a situação é bem diferente devido à evolução da ciência e da medicina.

“Já conseguimos fazer o diagnóstico da doença em uma fase mais precoce e, assim, as chances de perder a visão diminuem bastante”, explicou.

Um dos mitos mais replicados entre os pacientes com glaucoma é o de que não se pode “forçar” o olho. “Alguns têm medo de que, ao fazer isso para ler, bordar ou assistir televisão, possam prejudicar a visão, causando aumento da pressão ocular”, disse. No entanto, o especialista ressalta que esse efeito não acontece.

Segundo ele, o que pode ocorrer é que algumas pessoas já tenham uma irritação nos olhos devido ao uso de colírios ou até mesmo por questões ambientais. Daí fazem a associação equivocada de que “forçar” ao realizar atividades comuns do cotidiano causa desconforto ou complicações.

Em todos os casos, Marcelo Hatanaka é taxativo: se o paciente tem dúvidas, deve procurar a resposta com um oftalmologista. “É importante que todos tenham acesso a um especialista para esclarecer mitos que, sem uma orientação adequada, podem fazer o indivíduo recorrer a métodos alternativos e sem comprovação científica”, contou.

Para ele, o desconhecimento é prejudicial para a saúde, pois dificulta a aceitação do diagnóstico, causa atrasos no início do tratamento ou leva ao seu abandono. Em todos os casos, os efeitos são negativos, contribuindo para o avanço do glaucoma

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O Dia Nacional de Combate ao Glaucoma visa conscientizar a sociedade sobre a silenciosa e irreversível doença que acomete até 2,5 milhões de brasileiros acima de 40 anos. Principal causa de cegueira irreversível no mundo, o glaucoma é a lesão crônica no nervo óptico, responsável pela transmissão de informações visuais ao cérebro, que gera alteração e dificuldade na visão.

“Essa condição resulta em uma perda gradual do campo visual periférico, muitas vezes sem sintomas perceptíveis até estágios avançados da doença. Por isso, o diagnóstico precoce é essencial e geralmente é obtido por meio de consultas oftalmológicas preventivas”, explica Juliana Zarate, médica oftalmologista da Kora Saúde.

A médica ressalta que existem grupos de pacientes que requerem atenção especial, como aqueles com idade acima de 40 anos, alta miopia ou histórico familiar positivo para o glaucoma “É fundamental que toda a população realize consultas oftalmológicas periódicas para garantir a detecção precoce de quaisquer problemas oculares”.

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Sintomas e diagnóstico

Sintomas como perda gradual da visão lateral, dor súbita na região, visão piorada, olhos vermelhos e inchados, náuseas, dores na testa, lacrimação, sensibilidade à luz, nebulosidade na parte frontal do olho e aumento de um ou ambos os olhos podem surgir, indicando a necessidade de acompanhamento médico para evitar a progressão da condição.

Os fatores de risco associados ao surgimento do glaucoma envolvem questões hereditárias, idade superior a 40 anos, alto grau de miopia (acima de seis), diabetes e córnea fina. “É crucial que todas as pessoas consideradas dentro do grupo de risco mantenham acompanhamento médico oftalmológico ao menos uma vez ao ano”, aponta a médica Ione Alexim, oftalmologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

A realização do diagnóstico precoce é fundamental e pode prevenir a evolução da doença que geralmente apresenta sintomas apenas nos estágios mais avançados. Por isso, a médica enfatiza a importância de procurar o oftalmologista regularmente para avaliar a condição dos olhos.

“Consultas e exames anuais auxiliam no diagnóstico precoce e permitem intervenções, que podem retardar o avanço do glaucoma, ajudando a evitar a cegueira irreversível, além de auxiliar os pacientes a manterem a independência e autonomia”, afirma a médica.

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Conheça os 4 tipos de glaucoma

Existem quatro tipos diferentes de glaucoma, de acordo com a médica:

  • Glaucoma crônico de ângulo aberto: é o tipo mais comum, os pacientes são assintomáticos, a perda visual ocorre de forma lenta e progressiva, sendo identificada em fases mais avançadas da doença. Afeta principalmente a visão periférica lateral.
  • Glaucoma de ângulo fechado: segunda manifestação mais recorrente, ocorre quando há um embaçamento visual, ocasionado pelo aumento súbito da pressão intraocular, além de dor exacerbada na região.
  • Glaucoma congênito: pode acontecer nos primeiros meses de vida, é raro e ocorre quando a criança já nasce com a doença devido má formação, exigindo tratamento imediato após o diagnóstico.
  • Glaucoma secundário: é causado por fatores externos que elevam a pressão intraocular, como hipertensão arterial, diabetes, uso excessivo de medicamentos, como corticosteroides, além de tumores e inflamações.

Tratamento inclui uso de colírios e cirurgia a laser

Conforme a especialista, o tratamento clínico pode ser realizado com o uso de colírios e laser, a fim de diminuir os níveis de pressão intraocular. Porém, dependendo do quadro clínico do paciente, pode ser avaliado a realização de procedimento cirúrgico.

Quanto ao tratamento, o foco principal é controlar e reduzir a pressão intraocular para mitigar os sintomas, uma vez que o glaucoma não tem cura. O tratamento geralmente envolve o uso de colírios, mas em alguns casos podem ser necessários procedimentos cirúrgicos ou a laser para controlar a progressão da doença.

“É importante ressaltar que, embora toda cirurgia apresente riscos, quando realizada por profissionais experientes e com uma boa indicação médica, os benefícios superam significativamente os riscos.”, finaliza Juliana.

Com Assessorias

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