O câncer é uma doença complexa e multifatorial, com alta incidência e grande relevância global. Constantemente, busca-se desenvolver tratamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais, visando melhorar a qualidade de vida e a sobrevida geral dos pacientes.
Diante desta realidade, pesquisadores da Unicamp desenvolveram uma nova estratégia terapêutica a partir do veneno de aranha, que demonstrou em laboratório reduzir efeitos colaterais em comparação com métodos convencionais.
A tecnologia combina quimioterápicos clássicos com um peptídeo proveniente do veneno da aranha da espécie Phoneutria nigriventer, como alternativa para o tratamento de tumores sólidos, incluindo o câncer de mama.
Os testes laboratoriais realizados mostram que o protocolo retarda significativamente a progressão do tumor e pode ser aplicado no tratamento de tumores sólidos, incluindo o câncer de mama. Além disso, o tratamento reduziu os efeitos colaterais em comparação com as terapias convencionais.
Com grande potencial para aplicação clínica, a associação de fármacos com diferentes mecanismos demonstra ser eficaz e reduz os efeitos colaterais das terapias clássicas de combate ao câncer.
A nova terapia ainda não está disponível para uso humano, ela foi testada em laboratório e precisa passar por um desenvolvimento complementar e aprovação das agências regulatórios antes de chegar no mercado na forma de um produto.
Pesquisadores testam alternativa para tornar quimioterapia menos tóxica
Pesquisa da UFSCar avança na busca de novos compostos com propriedades anticancerígenas
Pesquisas realizadas no Departamento de Química (DQ) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) buscam alternativas para atenuar os efeitos colaterais da quimioterapia e melhorar a qualidade de vida dos pacientes oncológicos. Esses resultados indicam que os compostos de rutênio podem se tornar uma alternativa promissora para tratamentos mais eficazes e com menos efeitos adversos do que as terapias atuais.
Hoje, os compostos de platina estão entre os fármacos mais utilizados na quimioterapia em todo o mundo. No entanto, é grande a busca por alternativas, menos tóxicas, mais seletivas (ou seja, danosas às células tumorais, mas com menos efeitos sobre células saudáveis) e, também, porque pacientes podem desenvolver resistência a esses compostos durante o tratamento.
O estudo da UFSCar tem mostrado resultados promissores com um conjunto de compostos do tipo Rutênio(II)-fosfina (complexos metálicos de rutênio coordenados a ligantes contendo átomos de fósforo). No entanto, é importante destacar que esses estudos ainda estão em fase inicial e foram conduzidos apenas em células cultivadas em laboratório (in vitro).
Dentre as limitações do estudo, o pesquisador Marcos Vinícius Palmeira de Mello destaca que estes compostos interagem também com células saudáveis, embora tenham seletividade semelhante ao do fármaco cisplatina. Apesar desse desafio, o grupo de pesquisa tem avançado no desenvolvimento de novos delineamentos experimentais para melhorar a especificidade desses compostos, visando uma seletividade mais promissora.
Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o estudo, realizado no grupo liderado pelo professor Alzir Azevedo Batista, do DQ/UFSCAR, em parceria com o grupo de pesquisa do professor Gilles Gasser, da Chimie ParisTech, PSL Université, na França, foi publicado no periódico ChemBioChem, e pode ser conferido no link.
Saiba mais sobre as pesquisas
Estudo da Unicamp
A tecnologia testada com veneno de aranha foi protegida com pedido de patente depositado pela Unicamp está disponível para licenciamento de empresas interessadas em inovar em parceria com a Universidade Estadual de Campinas. Interessados em explorar essa oportunidade e saber mais sobre o processo de transferência de tecnologia podem contatar a Inova Unicamp para negociar diretamente as condições e o contrato de licenciamento.
- O protocolo desenvolvido a partir de pesquisa científica demonstrou redução de efeitos colaterais em comparação com as terapias convencionais;
- O resultado, que teve pedido de patente depositado no INPI pela Agência de Inovação da Unicamp (Inova Unicamp), é obtido a partir de fontes naturais;
- A tecnologia está disponível para licenciamento de empresas que buscam inovar em parceria com a Unicamp, avançando nas etapas de validação e testes clínicos, devendo os interessados procurarem a Inova Unicamp;
- A tecnologia ainda não está disponível para uso humano, ela foi testada em laboratório e precisa passar pelas fases de testes clínicos.
Estudo da UFSCar
Em trabalho conduzido por Marcos Vinícius Palmeira de Mello, em estágio de pós-doutorado no Laboratório de Estrutura e Reatividade de Compostos Inorgânicos (LERCI) no DQ, foram sintetizados e caracterizados diferentes compostos, testados quanto às suas estabilidades químicas e avaliados em relação à citotoxicidade em diversas linhagens celulares, inclusive de câncer de pulmão (A549).
Dois destes compostos apresentaram resultados positivos na eliminação de células cancerígenas, mostrando-se bem mais potentes que a cisplatina, um medicamento amplamente utilizado na quimioterapia. Além de serem citotóxicos, eles dificultaram sua proliferação e migração, o que é importante para evitar a disseminação das células doentes.
Estudos revelaram que esses compostos afetam principalmente as mitocôndrias — estruturas celulares responsáveis pela respiração celular e produção de energia — provocando a perda do potencial da membrana mitocondrial e alterando drasticamente o consumo de oxigênio celular, o que compromete a produção de energia e pode levar as células ao colapso”, conta Palmeira.
Um aspecto interessante do estudo foi a observação de que, embora os compostos tenham se acumulado no núcleo celular, não houve evidências de uma ligação covalente (forte) com o DNA. Isso sugere justamente que sua principal ação está relacionada à disfunção mitocondrial, em vez de causar danos diretos ao material genético.
Da Inova Unicamp e UFSCar, com Redação