Hemofilia: nova fábrica vai suprir demanda por medicamento no SUS

Unidade inaugurada este mês por Lula vai produzir avanços da Hemobrás e representa esperança para pacientes

Fábrica da Hemobras em Pernambuco produzirá Hemo-8r, medicamento profilático fator 8 recombinante, usado no tratamento da hemofilia A, a mais comum no país (Fotos: Divulgação)
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O Dia Mundial da Hemofilia (17 de abril) reforça a necessidade de garantir acesso a tratamentos permanentes e eficazes, como vimos aqui. Para viabilizar isso, a Hemobras (Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia) acaba de dar um reforço importante para essa luta permanente, com a recente inauguração da fábrica de medicamentos recombinantes, no complexo industrial da estatal, em Goiana, em Pernambuco.

A planta terá capacidade produtiva de fabricar 1,2 bilhão de unidades do Hemo-8r, medicamento profilático fator 8 recombinante, usado no tratamento da hemofilia A, a mais comum, responsável por cerca de 70% dos casos no país. O Hemo-8r é fundamental para ampliar a profilaxia, que é a maneira mais eficaz para prevenir os sangramentos espontâneos e sequelas nas pessoas portadoras da coagulopatia.

O Hemo-8r é uma alternativa ao medicamento hemoderivado, oriundo do beneficiamento do plasma, extraído de doações de sangue excedentes cedidas por hemocentros à Hemobrás. A capacidade produtiva será suficiente para abastecer 100% da demanda do Sistema Único de Saúde (SUS) pelo remédio.

A previsão, segundo o Ministério da Saúde, é que a nova fábrica – localizada no Bloco B07 do complexo da Hemobrás – esteja em plena atividade a partir de 2025, com distribuição dos produtos para o SUS. Segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, a previsão é que o medicamento produzido pela Hemobrás chegue ao SUS a partir de setembro.

“A produção terá um impacto enorme na vida das pessoas com hemofilia, que sofrem muito em função de traumatismos, hemorragias e que agora vão ter a garantia de uma autonomia dessa produção a partir desse trabalho da Hemobrás”, explicou a ministra.

Pacientes comemoram fábrica de recombinantes

A entrega do Bloco 7, correspondente à Fábrica de Recombinante, no início do mês, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem sido comemorada por pacientes e instituições representativas dessas famílias.

“A Hemobrás representa a entrada do Brasil em um grupo muito seleto de países que produzem essa medicação. Ela é uma empresa que tem grande importância estratégica para o Brasil, porque ela retira nossa dependência do mercado externo e traz autonomia para o país, na produção dos fatores de coagulação”, diz Mariana Battazza, presidente da Abraphem.

Pacientes também têm dado testemunhos sobre a expectativa quanto à linha produtiva da Hemobrás. No evento de inauguração, alguns deles estiveram presentes para prestigiar a nova fábrica. O paraibano João Pedro Dias, por exemplo, agradeceu em nome de outros pacientes o trabalho da Hemobrás.

A médica e presidente da empresa, Ana Paula Menezes, diz que a Hemobrás está empenhada em ampliar a sua contribuição para o tratamento das pessoas com hemofilia. A expectativa é que logo a unidade estará produzindo o medicamento Hemo-8R totalmente em solo nacional e em maior escala.

“A nossa nova Fábrica de Recombinantes cumprirá um grande papel com a produção nacional, trazendo a segurança de abastecimento que os pacientes tanto precisam. Na prática, daremos mais qualidade de vida com o nosso medicamento profilático que tem sido tão elogiado pelos pacientes. É um avanço grande para o Sistema Único de Saúde, o nosso SUS”, diz ela.

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Expectativa é reduzir em 30% o preço do medicamento

Antes do início da oferta da produção nacional do medicamento, haverá um processo de qualificação, que prevê várias fases. “A produção nacional  não será disponibilizada para o SUS imediatamente, pois ainda deverá cumprir várias etapas de qualificação, até que a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] nos dê a certificação e a gente possa colocar de fato no mercado a produção nacional”, explicou a diretora-presidente da Hemobrás, Ana Paula Menezes.

O Hemo-8r já é fornecido para o SUS pela Hemobrás por meio de uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP). A expectativa é que, com a produção totalmente nacional, haja redução de 30% no preço do remédio, e consequentemente o aumento da oferta do medicamento no país.

“Do ponto de vista econômico, a nova fábrica representa uma autonomia frente a medicamentos essenciais, o domínio de uma tecnologia, a  capacidade de expansão até para novas tecnologias, além da redução de custos. Quem detém essa tecnologia tem uma vantagem muito grande do ponto de vista não só de mercado mas de uma competência científica que vai poder também alimentar outros produtos”, disse a ministra Nísia Trindade.

Projeto inspirada em planta na Suíça

O projeto da nova fábrica foi desenvolvido a partir de uma planta instalada na Suíça e envolveu especialistas dos Estados Unidos e profissionais de biotecnologia de outros países. O investimento na infraestrutura é de aproximadamente R$ 1,2 bilhão.

Além de tornar o Brasil autossuficiente na fabricação do medicamento, a fábrica terá capacidade de atender a demanda de outros países, por meio de uma tecnologia dominada por poucos países. “A Hemobrás foi considerada uma empresa estratégica de defesa, ou seja, de soberania nacional. Só cinco países detêm a tecnologia que o Brasil agora deterá”, garantiu a ministra.

Segundo ela, a Hemobrás desempenha um papel decisivo para o tratamento de pacientes do SUS, fornecendo fatores de coagulação para terapia de reposição, conduzindo conscientização e educação sobre a doença. Com essa diretriz, a empresa vem renovando as esperanças da população que depende dessas terapias contínuas.

Lula faz homenagem a Betinho e Henfil, que eram hemofílicos

Goiana (PE), 04.04.2024 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, inaugura Fábrica de Medicamentos Hemo-8r - Fator VIII Recombinante, da Hemobrás, no Complexo Industrial da Hemobrás. Goiana - PE. Foto: Ricardo Stuckert/PR
Lula inaugura Fábrica de Medicamentos Hemo-8r – Fator VIII Recombinante no Complexo Industrial da Hemobrás (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

A nova fábrica de Recombinantes foi inaugurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 4 de abril. Inicialmente, ela produzirá exclusivamente o Hemo-8R (Fator VIII Recombinante), destinado ao tratamento de pessoas com Hemofilia A.

Lula, que estava acompanhado da ministra da Saúde, Nísia Trindade, e da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, além de outras autoridades, disse que a fábrica faz parte da estratégia do governo de impulsionar a indústria da saúde no Brasil e tornar o país autossuficiente na produção de remédios.

“Nosso objetivo, ao criar essa estratégia, é expandir a produção nacional de itens prioritários para o Sistema Único de Saúde (SUS), além de reduzir a dependência de insumos, medicamentos, vacinas e outros produtos estrangeiros da saúde”, afirmou o presidente.

Em seu discurso, Lula lembrou de milhares de hemofílicos que sofreram, durante muitos anos, sem tratamento adequado para a doença no Brasil, e fez uma homenagem à memória dos irmãos Betinho e Henfil, que tiveram a doença.

“Há 27 anos perdíamos nosso companheiro Betinho, e, há 36 anos, o seu irmão, Henfil. Dois brasileiros extraordinários que lutaram pelo Brasil, pela justiça e pela democracia. Mas, em meio à luta por um país melhor, Betinho e Henfil também travaram uma dura batalha contra as consequências e complicações da hemofilia. Perdemos vidas precocemente por não termos o tratamento adequado para os portadores de hemofilia”, assegurou o presidente

 

Fábrica da Hemobras localizada em Goiana – Pernambuco. Foto: Divulgação/Hemobras
Fábrica da Hemobrás em Goiana (PE) (Divulgação/Hemobras)

Federação Mundial de Hemofilia visita fábrica

Representantes da Federação Mundial de Hemofilia (WFH, sigla em inglês) visitaram as instalações da nova fábrica de medicamentos recombinantes em janeiro e debateram o tratamento oferecido aos pacientes desta condição genética rara que afeta a coagulação do sangue. A fábrica é um marco para a produção nacional do Hemo-8r, para a autonomia nacional em pesquisa e produção de outros biotecnológicos.

Também participaram do encontro integrantes da Federação Brasileira de Hemofilia (FBH), da Associação Pernambucana de Pessoas com Hemofilia (Aphemo) e da Sociedade de Hemofílicos da Paraíba. A comitiva ouviu e foi ouvida sobre o modelo adotado para pessoas com hemofilia no Brasil, a produção e o abastecimento do mercado nacional, os avanços da Hemobrás e as perspectivas para os próximos anos.

Salomé Mekhuzlar, diretora de Desenvolvimento Global da WFH, falou sobre a impressão que teve do progresso da fábrica e enalteceu a parceria que a Federação Mundial de Hemofilia mantém com o Brasil, dialogando e buscando o conforto e a melhoria da rotina diária dos pacientes.

A presidente da FBH, Tânia Pietrobelli, que luta a favor da causa há mais de 40 anos e já havia visitado a Hemobrás em outras duas oportunidades, diz que ficou impactada: “Quando eu cheguei e entrei no bloco do recombinante, fiquei impactada realmente. Pensei ‘isso é primeiro mundo’”.

Mais sobre a hemofilia e o dia mundial

Hoje, existem cerca de 13 mil pessoas com hemofilia no país. São cidadãos que dependem de medicamentos para terem uma vida ativa e produtiva e que contam com o recombinante como uma profilaxia eficaz na melhoria da qualidade de vida deles.

A hemofilia tem como sintomas sangramentos internos, frequentes e prolongados e hematomas incomuns. A hemofilia A destaca-se como a forma mais comum da doença, com 80% dos casos. Essa condição, de origem genético-hereditária, resulta em deficiência na coagulação do sangue, provocando hemorragias que podem ser leves, moderadas ou graves. Geralmente diagnosticada na infância, a hemofilia afeta principalmente homens.

Estudos mostram que em 70% dos casos a mutação genética causadora da hemofilia já está presente na família e é transmitida pelas mães portadoras aos filhos. O diagnóstico precoce é feito por meio de testes de coagulação do sangue.

Embora não haja cura, o tratamento adequado pode controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida, envolvendo a reposição do fator de coagulação deficiente por infusões intravenosas, prevenção de lesões e promoção de um estilo de vida saudável

O Dia Mundial da Hemofilia foi instituído em 1989 em homenagem ao empresário canadense Frank Schnabel que sofria de forma severa com a condição. A data marca a luta por melhores condições de vida para aqueles que lidam com a doença. A celebração tem servido como ferramenta de mobilização social para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e promover a conscientização da sociedade sobre o tema.

Com informações da Hemobras e Agência Brasil
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