Mais de 60% da população irão desenvolver problemas na tireoide em algum momento da vida, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM). A doença atinge 300 milhões de pessoas no mundo e no Brasil. Apesar do conhecimento dos fatores de risco, as causas dos nódulos não são bem determinadas. Quando a tireoide não está funcionando bem os sintomas podem incluir, além do hipotireoidismo (baixa produção de hormônios), dificuldades para engolir, falar e aumento da glândula (bócio), o que incomoda principalmente a estética.

Em todas as faixas de idade as mulheres são até quatro vezes mais afetadas que homens. De todos os casos diagnosticados anualmente quase 90% dos nódulos são benignos. Esse importante problema de saúde pública leva dezenas de milhares de pacientes às salas de cirurgia para a remoção total ou parcial da glândula a cada ano. A tireoidectomia tradicional, apesar de ser bem estabelecida e com taxas de complicações baixas, causa hipotireoidismo quando se realiza a remoção total da glândula.

Uma boa notícia neste Dia do Endocrinologista (1 de setembro) é o tratamento de nódulos de tireoide por meio da ablação por radiofrequência sem cicatriz. Essa tecnologia minimamente invasiva segue uma tendência da medicina internacional em diminuir cada vez mais o número e o trauma de intervenções cirúrgicas. O Hospital Universitário Pedro Ernesto (UERJ), no Rio de Janeiro, foi o primeiro hospital público do país a oferecer a nova técnica à população e hoje tem fila zerada para o tratamento. Apesar da pandemia, até o fim de 2020 quase cem pacientes da fila do SUS no Hupe terão sido beneficiados pela nova técnica. 

O Brasil está entre as quatro maiores referências mundiais nesta técnica, segundo a Universidade de Columbia, em Nova York (EUA). A citação faz parte de um estudo da professora de cirurgia endocrinológica Jennifer Kuo. Ela analisa a experiência brasileira e busca saber mais sobre os resultados do procedimento na população norte-americana para avaliar a qualidade de vida dos pacientes submetidos ao método, em comparação às operações tradicionais com corte.

Veja o relato de Jennifer Kuo:

Médico explica como a técnica é empregada

A grande inovação dessa técnica é a aplicação da radiofrequência para destruir nódulos tireoidianos benignos, reduzindo seu volume e, assim, eliminando os sintomas compressivos e alterações estéticas. O método é realizado guiado por ultrassom, com a introdução de uma agulha fina no nódulo sob anestesia local mais sedação leve por via oral e os pacientes são liberados no mesmo dia. Nos estudos mais recentes, a incidência de complicações é menor do que os procedimentos cirúrgicos convencionais”, explica Leonardo Rangel, cirurgião de cabeça e pescoço, especialista em tireoide, médico e pesquisador da Uerj.

Segundo ele, o maior benefício da ablação através da radiofrequência é a destruição de tecido nodular com a preservação do tecido normal, o que confere ao método uma característica única que é tratar, mesmo nódulos grandes, sem alterar a função hormonal.  Outras vantagens são menor risco de problemas na voz, não é preciso fazer reposição hormonal o resto da vida, além de não deixar cicatriz no pescoço. 

 A redução do volume dos nódulos tratados com a ablação por radiofrequência ocorre ao longo de seis meses, pois não retiramos tecido nodular e contamos com o processo de fagocitose (absorção por glóbulos brancos) para remoção dos tecidos tratados pela radiofrequência. Essa reabsorção gradual do nódulo alcança uma média de 80% até o sexto mês e pode continuar até o primeiro ano após o procedimento”, explica Dr Leonardo Rangel.

Exemplo de pioneirismo brasileiro na técnica, Dr Leonardo foi um dos três convidados do país a participar de um webinar gratuito sobre o tema com grandes profissionais da Universidade de Stanford (Estados Unidos), no dia 30 de agosto. Foi um evento em conjunto com outros experientes no método, destinado a públicos de todas as disciplinas, para esclarecer o assunto que ainda é novidade para muitos médicos.

A deficiência do hormônio tireoidiano tem grande repercussão clínica, uma vez que está envolvido com diversas reações metabólicas. O cérebro, o coração e o tecido adiposo são alguns dos órgãos mais afetados pelo hipotireoidismo, que se caracteriza pelo ganho de peso, edema difuso, pensamento mais lento, depressão, diminuição da capacidade de atividade física e aceleração de ateroesclerose.  Quando o diagnóstico é câncer, a cirurgia é sempre o tratamento indicado”, completa o médico.

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