O lançamento da músicaBorderline’, da dupla sertaneja Maiara e Maraisa, reacendeu o debate entre especialistas sobre a responsabilidade ao tratar de saúde mental na cultura pop.  A canção, que descreve relações amorosas intensas, ciumentas e instáveis, usa o termo “borderline” de forma metafórica para ilustrar os altos e baixos emocionais de um relacionamento, mas especialistas alertam para o risco de banalização e desinformação sobre transtornos mentais.

Pressionada nas redes sociais a se posicionar contra a nova ‘criação’ das irmãs sertanejas, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) emitiu uma nota oficial em seu perfil no instagram, juntamente com um posicionamento do presidente da entidade, Antônio Geraldo da Silva, alertando sobre a psicofobia e afirmando que é preciso combater esse preconceito com informação. “PSICOFOBIA é um crime!

A psicofobia o preconceito contra pessoas que enfrentam deficiências e transtornos mentais. Ela se manifesta de formas muitas vezes sutis, com piadas, julgamentos e exclusões, mas suas consequências são profundas. Ela pode contribuir com a negação da doença, o abandono do tratamento e cronificação de quadros que poderiam ser facilmente resolvidos com o tratamento adequado”, disse.

A psicóloga Êdela Nicoletti, especialista em Terapia Comportamental Dialética (DBT) pela Behavioral Tech (Seattle-EUA), alerta para os riscos da banalização do transtorno de personalidade borderline, uma condição psiquiátrica grave que afeta milhões de pessoas.

Diretora do Centro de Terapia Cognitiva (CTC) Veda, ela analisa o uso do termo de maneira equivocada compromete anos de trabalho contra o estigma relacionado a transtornos mentais.

Borderline é uma condição psiquiátrica grave, que vai muito além de emoções intensas em histórias de amor. Trata-se de um transtorno que envolve medo extremo de abandono, impulsividade, instabilidade crônica nas relações e risco elevado de autolesão e suicídio”, explica.

A especialista destaca que associar o transtorno a comportamentos passionais reforça estereótipos, dificulta o diagnóstico sério e agrava o isolamento de quem convive com a condição. “Produções culturais como essa ampliam a desinformação, reforçam preconceitos e afastam indivíduos do apoio de que realmente precisam”, aponta Êdela.

Pacientes e familiares protestam contra a música

Pacientes e familiares sofrem o impacto desse tipo de representação na luta contra o estigma e a importância de abordagens responsáveis no debate público sobre saúde mental, O impacto também é sentido na vida de quem lida diretamente com o transtorno.

Quando ouvem essas músicas, as pessoas acham que a gente é só dramático ou exagerado, mas ninguém vê o desespero real que é viver com isso todos os dias”, desabafa uma paciente diagnosticada com transtorno de personalidade borderline, que preferiu não se identificar.

Uma mãe de paciente também lamenta: “É como se transformassem uma luta diária em entretenimento. As pessoas cantam sem saber o que isso significa para quem vive de verdade.”

Êdela ressalta que a liberdade artística é legítima, mas temas de saúde mental exigem responsabilidade. “O ritmo da música é contagiante, o que torna o efeito ainda mais perigoso. Quando se populariza um conceito técnico de forma distorcida em uma canção de grande alcance, o prejuízo social é inevitável”, afirma.

A especialista reforça a importância de buscar fontes confiáveis e promover uma abordagem respeitosa dos transtornos mentais na cultura pop. “A saúde mental não pode ser reduzida a metáforas românticas. Precisamos lutar para que a informação correta prevaleça e ajude a construir uma sociedade mais consciente e empática”, conclui.

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Você sabe o que é o Transtorno de Personalidade Borderline?

Essa condição ainda é cercada por desinformação e, infelizmente, alvo de muito preconceito. “O Transtorno de Personalidade Borderline afeta profundamente as emoções, pensamentos e relações interpessoais. Ele costuma surgir na adolescência ou início da vida adulta, impactando de maneira intensa a qualidade de vida de quem convive com ele”, afirma a ABP.

As causas são diversas e incluem fatores genéticos, neurobiológicos e experiências traumáticas na infância, como abuso e negligência. São características comuns em quem convive com o transtorno:

– Instabilidade emocional intensa

– Mudanças rápidas de humor

– Impulsividade e comportamentos de risco, como abuso de substâncias e gastos excessivos.

O diagnóstico correto e tratamento adequado são fundamentais e ele precisa ser feito por um psiquiatra com RQE, avaliando histórico médico, familiar e sintomas. A psicoterapia é a base do tratamento e pode transformar vidas. “Transtornos psiquiátricos não são brincadeira, muito menos motivo de piada. Estigmatizar é praticar a psicofobia, e ela gera sofrimento real”, ressalta a ABP.

Com informações de assessorias e instagram

 

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