A cantora Lady Gaga, que faz show no Rio de Janeiro na noite deste sábado (3), enfrenta uma rotina difícil com o tratamento de duas doenças autoimunes altamente prevalentes entre mulheres jovens. Além da fibromialgia – doença que leva a dores crônicas invisíveis, como já vimos aqui -, a artista de 39 anos convive com o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) – ou simplesmente lúpus.
Essa doença inflamatória, autoimune e crônica, tem como principal característica a ampla variedade de manifestações clínicas. Embora a maioria das pessoas apresentem manifestações cutâneas e articulares, os sintomas podem surgir em diversos outros órgãos, de forma lenta e progressiva (meses) ou mais rapidamente (em semanas) e variam com fases de atividade e de remissão.
Lúpus é quatro vezes mais incidente em mulheres negras do que em brancas
A doença frequentemente, se manifesta em mulheres jovens, com idade entre 20 e 45 anos, mas pode ser diagnosticada em qualquer idade, principalmente, entre adolescentes. A cantora Selena Gomez já precisou passar por um transplante de rim por conta da condição.
No Brasil, não há números exatos da prevalência da doença. A Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) estima que o Lúpus já afeta entre 150 mil e 300 mil pessoas no país, sendo a maioria em mulheres.
De acordo com o Ministério da Saúde, o lúpus, além de ser mais comum em mulheres, prevalece mais comum em populações afro-americanas, hispânicas e asiáticas, sendo até quatro vezes mais incidente em mulheres negras do que em mulheres brancas.
Uma doença complexa, com múltiplas manifestações
A doença pode atacar os tecidos dos órgãos e ocasiona dores musculares e artríticas, anemia, fadiga, febre, mal estar, além de erupções escamosas ou manchas vermelhas na pele. Um de seus indicadores mais preocupantes é a inflamação dos rins (nefrite) que pode chegar a estados muito graves e levar ao desenvolvimento de demais mazelas.
O lúpus também pode causar importantes inflamações nas membranas do coração e pulmão. Por mais que as manchas e erupções na pele gerem um estigma estético, o lúpus não é uma doença contagiosa, ou seja, não pode ser transmitida de uma pessoa para outra.
Por ser uma doença complexa e por vezes de difícil diagnóstico, a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) alerta que o controle e o tratamento começam pela conscientização do paciente sobre a doença e seus sintomas. A precocidade do diagnóstico é extremamente importante para um tratamento adequado, e pode determinar uma melhor resposta clínica.
Pode ser uma doença de fácil manejo, de fácil controle, mas pode vir a ser uma doença de muita gravidade. Por isso, fundamental procurar um médico rapidamente”, alerta o presidente da SBR, José Eduardo Martinez. De acordo com ele, o médico fará não só uma avaliação do diagnóstico e sim da gravidade, de acordo com a manifestação e o órgão envolvido.
Não existe uma causa específica para o lúpus, como a maioria das doenças autoimunes, estudos apontam que as causas estão relacionadas com fatores hormonais, infecciosos, ambientais e genéticos. Dentre eles, a exposição excessiva à luz solar, traumas emocionais e infecções virais como o covid podem desencadear a doença”, explica Levi Jales Neto, reumatologista na Rede de Hospitais São Camilo,
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Dois tipos de lúpus
São reconhecidos dois tipos principais de Lúpus: um exclusivo de pele ou Lúpus cutâneo, que tem como sintomas manchas na pele (geralmente avermelhadas ou eritematosas), principalmente nas áreas que ficam expostas à luz solar (rosto, orelhas, colo e braços) e o outro Lúpus sistêmico, no qual múltiplos órgãos podem ser acometidos, além de quadros cutâneos e articulares.
Alguns sintomas gerais do Lúpus são emagrecimento, febre, perda de apetite, fraqueza e desânimo. Outros, são específicos de cada órgão acometido, como dor nas juntas, manchas na pele, inflamação na pleura, hipertensão e/ou problemas nos rins.
De acordo com o reumatologista Odirlei Andre Monticielo, coordenador da Comissão de LES, da SBR, o tratamento do Lúpus depende muito do tipo de manifestação apresentada pela doença e deve ser individualizado. “O foco é tentar controlar a atividade de doença, prevenindo a perda de função dos órgãos e evitando danos irreversíveis ao paciente”, afirma o especialista.
Ele explica também que a pessoa com Lúpus tem, habitualmente, fases em que apresenta mais sintomas, chamados de `períodos de atividade´ da inflamação e, outros momentos, nos quais a pessoa fica sem nenhum tipo de manifestação da doença, chamado de `período de remissão´.
Sintomas do LES
O Lúpus pode apresentar sintomas em vários órgãos, sendo esses decorrentes de uma inflamação, ocasionada por um desequilíbrio no sistema imunológico da paciente, fazendo com que ela produza uma quantidade aumentada de anticorpos. O aparecimento da doença depende de uma herança genética, isto é, existe uma predisposição genética, mas que pode ser desencadeada por fatores ambientais como a radiação ultravioleta, infecções virais, dentre outros.
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), desencadeia sintomas, que podem surgir em diversos órgãos de forma lenta e progressiva (meses) ou mais rapidamente (em semanas). Nas fases iniciais do LES, os sintomas que mais incomodam são desânimo, cansaço e perda de apetite.
A maioria das pessoas com LES na sua fase inicial apresentam dor nas juntas, às vezes, também com inchaço. Além disso, podem também apresentar quadros cutâneos da doença, principalmente no rosto e em áreas expostas ao sol, que agravam sobremaneira as lesões. Na pele do rosto, a pessoa pode ficar com marcas e por isso, estigmatizada, o que determina diminuição da autoestima, principalmente para as mulheres.
Qualquer outro órgão ou tecido pode ser envolvido pela inflamação que ocorre no Lúpus, mas alguns são particularmente preocupantes. Um grande problema da doença, que afeta aproximadamente 50% dos pacientes, é a inflamação nos rins, que não determina dor, mas leva a uma perda da sua função, com perda de proteínas na urina, inchaço nas pernas e no rosto, hipertensão arterial e, nos casos mais graves levar a insuficiência renal com necessidade de hemodiálise.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico do LES é feito pelo reconhecimento dos sintomas e sinais da doença pelo médico, em associação com alguns exames laboratoriais. É importante a avaliação de alguns exames gerais, como hemograma e os que medem a função renal, além de alguns exames mais específicos que confirmam a possibilidade de lúpus, como a identificação dos distúrbios imunológicos próprios da doença (presença de autoanticorpos no sangue). Neste sentido, é extremamente importante a avaliação do reumatologista para ajudar e confirmar a possibilidade da doença.
São importantes no manejo do Lúpus as medidas de proteção da radiação solar (com o uso de fotoprotetores), suspensão do tabagismo quando presente, afastamento de condições de estresse, alimentação balanceada, repouso adequado e atividade física regular. Além disso, o uso de medicamentos que controlem a atividade de doença, previnam reativações e diminuam o acúmulo de danos são fundamentais.
Na atualidade, ainda não é possível falar em cura do Lúpus, mas em controle da doença. A maioria dos pacientes irá precisar de um acompanhamento regular, a cada três ou seis meses com um reumatologista, pois, em caso de uma reativação dos sintomas da doença, esses devem ser controlados logo no início, permitindo que a pessoa rapidamente reequilibre o seu sistema imunológico e recupere sua saúde.
É consenso entre os especialistas da SBR que quanto mais se conhece sobre os mecanismos envolvidos no desenvolvimento do Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), maior a chance de controle da doença e maior a chance de se ter medicamentos com maior eficácia e menos efeitos adversos.
Desmistificando o cuidado com o Lúpus
Campanhas de conscientização, combate, prevenção e diagnóstico precoce destacam o lúpus como uma doença crônica que não tem cura. Ela pode ser agravada pela exposição ao sol e deve ser evitada com chapéus e óculos, por exemplo.
Neto ressalta que não existe um exame específico para a doença, porque cada paciente a manifesta de forma diferente, no entanto, um exame físico ou um hemograma completo pode indicar sinais da doença.
O tratamento para a condição autoimune é feito com antiinflamatórios, corticóides e imunossupressores. É essencial consultar um reumatologista para diagnosticar e iniciar o tratamento correto para o lúpus. Além disso,
Por mais que não haja uma causa específica para a condição, o reumatologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo lista algumas formas de prevenir o lúpus e outras condições, como:
- Evitar a exposição excessiva ao sol sem proteção;
- Prezar por uma alimentação balanceada;
- Atividade física aeróbica regular;
- Medidas de controle de fatores emocionais;
- Estar atento a sintomas como manchas que podem aparecer na face, porque podem ser um sintoma do lúpus.
Para o paciente diagnosticado, é preciso o acompanhamento frequente e a medicação em períodos de crise por se tratar de uma doença crônica, assim como em casos de mulheres que desejem engravidar, o ideal é optar pelo período de remissão das crises para isso. Com o acompanhamento correto, a pessoa portadora do lúpus pode alcançar uma boa qualidade de vida”, finaliza o reumatologista.
Cenário da doença
- Estima-se que entre 150 mil a 300 mil pessoas no Brasil têm Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES).
- A prevalência da doença é mais alta em mulheres, principalmente, na faixa etária entre 20 e 45 anos. Porém pode ocorrer em pessoas de qualquer idade e etnicidade.
- São reconhecidos dois tipos principais de Lúpus: exclusivo de pele ou Lúpus cutâneo, que tem como sintomas o de manchas na pele (geralmente avermelhadas ou eritematosas) e Lúpus eritematoso sistêmico, no qual múltiplos órgãos podem ser acometidos.
- O diagnóstico do LES é feito pelo médico reumatologista, que reconhece os sintomas característicos da doença, com associação a exames específicos, principalmente os distúrbios imunológicos próprios da doença.
- O melhor controle da doença depende da conscientização do paciente e sua adesão ao tratamento proposto.
- O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) não é contagioso.
A Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) disponibiliza gratuitamente uma cartilha com foco no esclarecimento e orientação sobre a doença Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), com linguagem simples e informativa para leigos. O material para download está disponível no site: www.reumatologia.org.br
Com Assessorias