A lipodistrofia é uma doença rara que altera a forma como o corpo armazena, usa e produz a gordura no corpo, seja pelo aumento (hipertrofia) ou pela diminuição e ausência (atrofia). Algumas formas podem ser hereditárias e estarem relacionadas a síndromes. Mas essa condição também pode ter relação com doenças como o HIV e a esclerodermia.

lipodistrofia causada pelo uso da terapia antirretroviral vem se tornando cada vez mais frequente em todas as regiões do mundo, sendo um dos distúrbios frequentes em pacientes infectados pelo vírus HIV. Além disso, outros medicamentos sistêmicos e locais (como insulina e corticoide) podem causar alteração da deposição da gordura.

A causa exata da lipodistrofia é desconhecida, mas está ligada à infecção pelo HIV e a alguns medicamentos anti-HIV. Os principais fatores de risco para a lipodistrofia são o tempo de infecção pelo HIV, a idade e o tempo da TARV (terapia antiretroviral).

Estudo do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Retrovírus da Universidade de São Paulo (USP), publicado em 2015, avaliou junto a pacientes com HIV submetidos ao tratamento antiretroviral a sequela da síndrome da lipodistrofia (LDS), ou seja, a mudança na distribuição de gordura pelo corpo. Apesar da inicial perda de peso pela falta de apetite e em razão das doenças oportunistas que causam debilidade, os pacientes que adotam a medicação mostraram uma prevalência de sobrepeso e obesidade abdominal.

Isso se deve à má distribuição dos lipídeos no corpo. Esse evento adverso afeta a autoestima e interfere na aderência ao tratamento. Um estudo anterior constatou que 33% dos soropositivos investigados não teriam começado a terapia se soubessem da sua aparência futura, mesmo conhecendo os riscos à saúde.

A LDS ocorre de forma a acumular adiposidade no abdômen, pescoço e mamas, que se expandem, e há perda do tecido subcutâneo na região do rosto, pernas e braços. Os indivíduos tendem a apresentar os efeitos de maneira isolada, porque sua combinação é pouco comum. As alterações mais graves têm correção por cirurgias plásticas, podendo ser a lipoaspiração ou o preenchimento. Elas são oferecidas gratuitamente em várias unidades da rede pública de saúde do País.

Os pesquisadores analisaram 227 pessoas contaminadas pelo HIV. Dentre elas, estabeleceram uma comparação dos que estavam usando a Haart e notaram a lipodistrofia, os que não a constataram, e os que não tomavam medicamentos antiretrovirais.

Observou-se que os grupos sob intervenção terapêutica apresentaram significativa perda de tecido adiposo em relação aos que não passavam pelo mesmo procedimento. “Assim como os pacientes que reportaram a LDS tinham um risco maior de desenvolverem doenças cardiovasculares”, afirma Jorge Casseb, coordenador do NAP.

As mudanças corporais foram observadas entre 20% e 80% dos indivíduos que aderem ao Haart. Elas acontecem, aproximadamente, entre seis e 24 meses após o início da terapia. Devido ao acúmulo de gordura, os enfermos ganham peso (constatado pelo alto IMC, que deve ser acompanhado por outras medições), e consequentemente a obesidade abdominal influencia nos problemas cardiovasculares. Esses resultados têm uma prevalência de forma mais impactante nas mulheres.

Lipodistrofia por insulina afeta pacientes diabéticos

Outra forma de lipodistrofia é a causada por insulina. Um artigo da Divisão de Diabetes, Nutrição e Doenças Metabólicas, do Departamento de Medicina do Hospital Universitário Sart Tilman, na Bélgica, explica que a infusão contínua de insulina subcutânea e injeções de análogos de insulina com uma sequência de aminoácidos alterada em comparação com a insulina nativa pode causar lipodistrofia em pacientes diabéticos.

Ou seja, quando o rodízio de áreas onde a insulina é aplicada não acontece ou quando uma agulha é utilizada diversas vezes, ocorre uma distribuição anormal da gordura nessa região. Além do surgimento de nódulos, inchaço e endurecimento da pele, a lipodistrofia também retarda a absorção da insulina pelo corpo, sendo assim, muito prejudicial ao diabético.

O manejo do diabetes mellitus pode ser responsável por eventos adversos cutâneos, incluindo a lipodistrofia, que se desenvolvem no local das injeções de insulina. Nestes casos, a recomendação é não aplicar a insulina na região em que a condição já apareceu e intercalar os locais das injeções dentro da área do corpo escolhida”, diz Fernando Amato.

Manifestações clínicas 

A lipodistrofia pode se apresentar de diferentes formas, sendo estas as principais:

  • Lipoatrofia, ou perda de gordura no rosto, braços, nádegas e pernas.
  • Lipohipertrofia, ou acúmulo de gordura nos seios, abdome, mas principalmente, na base do pescoço e na região da coluna torácica.
  • Lipomas, que são nódulos redondos e móveis de gordura sob a pele.

Consequências

A lipodistrofia pode causar alterações morfológicas e metabólicas, o que pode colaborar para a redução da adesão ao tratamento e diminuição da qualidade de vida.  Pode causar estigmatização, afetar os relacionamentos, a função sexual e até a aderência ao tratamento. Os impactos causados pelas deformidades corporais incluem depressão, prejuízos nas relações sociais e a má aceitação da própria imagem corporal.

Neste caso, mais do que um tratamento estético, a cirurgia plástica pode ajudar a reconstruir a autoestima dessas pessoas, contribuindo para o seu bem-estar e qualidade de vida. É uma questão que vai muito além da imagem.”, afirma o cirurgião plástico Fernando Amato.

Diagnóstico

O diagnóstico é, principalmente, clínico. A investigação inicia com perguntas genéricas e específicas para entendimento das queixas do paciente e conhecimento dos seus antecedentes pessoais e familiares. Dessa forma é possível identificar fatores que favoreçam o seu desenvolvimento e até condições hereditárias e genéticas.

O médico explica que durante a consulta é importante uma avaliação corporal completa para caracterizar a distribuição anormal de gordura. Medidas antropométricas como o índice de massa corporal (IMC – relação entre peso e altura) e exames complementares como RX, ultrassom, densitometria, tomografia computadorizada e ressonância magnética podem auxiliar no diagnóstico.

Tratamento

Existem várias opções de tratamento para ajudar a diminuir a morbidade que os pacientes podem apresentar. Quem tem HIV e está sofrendo de lipodistrofia, deve consultar seu médico para determinar se é necessário mudar seu medicamento.

Muitas doenças sistêmicas associadas à lipodistrofia necessitam de equipe médica multidisciplinar, como o infectologista, nos portadores de HIV, e o endocrinologista, em doenças metabólicas”, comenta Dr. Amato.

Nutrição adequada pode atenuar os sintomas

Não há um consenso sobre a prevenção da LDS. Contudo, a Organização Mundial da Saúde indica que a nutrição e a boa dieta alimentar façam parte do tratamento do HIV para que ele seja mais efetivo. Além disso, tem que estar acompanhada por exercícios físicos, amenizando, assim, a acumulação de gordura.

De acordo com o estudo, o tratamento antiretroviral, chamado de Haart (Highly Active Antiretroviral Therapy), tem grande eficiência em controlar o espalhamento do vírus e evitar infecções fatais, mas seus efeitos colaterais são fortes e causam, muitas vezes, resistência ao uso dos medicamentos.  As reações adversas podem ser diarreia, vômitos, manchas avermelhadas pelo corpo, insônia, danos no fígado, entre outras.

Ainda que as sequelas da medicação sejam desconfortáveis, nem todas sofrem a lipodistrofia. Além disso, os pesquisadores salientam que o medicamento é imprescindível para assegurar a vida do paciente e estabilizar sua carga viral. Além disso, a identificação precoce das mudanças corporais pode ajudar a estabelecer as intervenções adequadas para o tratamento dessas reações, proporcionando melhor qualidade de vida.

Conheça ainda a lipodistrofia ginoide, a conhecida celulite

Existe ainda a Lipodistrofia trocantérica, quando a gordura acumula no culote

Conhecida popularmente como celulite, a Lipodistrofia Ginoide (LDG)  é uma alteração estrutural e inflamatória do tecido subcutâneo que causa modificações na pele, deixando-a com aquele aspecto ondulado da epiderme, semelhante à “casca de laranja” em algumas áreas do corpo. “O problema atinge até 90% das pacientes, praticamente em todas as etapas da vida, começando pela puberdade”, explica o especialista.

A LDG pode ser tratada com diversos procedimentos. Entre eles estão a lipoaspiração, que pode liberar as traves do subcutâneo; lipolaser, que pode soltar as traves e estimular o colágeno; lipoenxertia, que consiste no preenchimento do subcutâneo com gordura, melhorando o aspecto de depressão; e os bioestimuladores de colágeno (Radiesse, Sculptra, Elleva, Ellanse), que melhoram o aspecto com o estímulo da produção do colágeno. Dr. Fernando conta que o mais importante é saber quando utilizar essas opções e associá-las sempre que possível!

Este é o tipo de lipodistrofia que mais incomoda as mulheres, já que acúmulo de gordura fica localizado na região do culote. Neste caso, o tratamento pode envolver lipoaspiração, dermolipectomias – remoção cirúrgica do excesso de pele, podendo associar lifting glúteo e lifting de coxas drenagem linfática feita por um profissional de confiança do médico cirurgião e fisioterapia dermatofuncional.

Para pacientes que apresentam lipoatrofia (redução significativa de gordura nas pernas, braços, bumbum e rosto), o tratamento de correção pode ser feito mediante lipoenxertia – técnica de cirurgia plástica que usa a gordura do próprio corpo como preenchimento.

Durante o procedimento, é realizada lipoaspiração em partes do corpo com mais gordura acumulada como barriga, costas ou coxas. Depois de tratada, essa gordura é enxertada na região pretendida com agulhas finas. O procedimento pode até ser feito com anestesia local, com ou sem sedação e a recuperação é bastante rápida. Os sintomas mais comuns no pós-operatório são dor discreta e controlável, pequeno desconforto, inchaço ou hematoma”, explica o cirurgião plástico.

Vale lembrar que uma boa forma de prevenir a gordura localizada é mantendo um estilo de vida saudável com boa alimentação e atividades físicas diárias.

Com Assessorias

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