Acometido de mais uma crise de obstrução intestinal, logo após ter se tornado réu no processo em que é acusado de liderar a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, o ex-presidente Jair Bolsonaro, de 70 anos, passou por uma longa cirurgia no intestino neste domingo (13), no Hospital DF Star, em Brasília.
Bolsonaro foi submetido a uma laparotomia exploradora para liberação de aderências intestinais e reconstrução da parede abdominal. O procedimento – que implica abrir o abdômen do paciente – para a liberação de aderências intestinais e reconstrução da parede abdominal, começou por volta das 10h e durou mais de 11 horas.
A obstrução intestinal foi causada por uma dobra do intestino delgado que dificultava o trânsito intestinal, diz um novo boletim médico. A cirurgia ocorreu sem intercorrências e sem necessidade de transfusão de sangue. Bolsonaro está estável e sem dor, segundo a equipe médica. No momento, o ex-presidente está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde recebe medidas de suporte clínico, nutricional e prevenção de infecções.
Quais são as prováveis causas da obstrução intestinal?
No intestino delgado as duas principais são as aderências – que geralmente estão associadas à cirurgias prévias – e as hérnias da parede abdominal. A obstrução também pode ocorrer no intestino grosso e nesse caso a principal causa é um tumor ou uma neoplasia (câncer)“, explica o cirurgião do aparelho digestivo e professor de cirurgia da Universidade Positivo, Christiano Claus.
Segundo o especialista, existe a obstrução total e a obstrução parcial de intestino, chamada de suboclusão. “Nos casos das totais invariavelmente ocorre um bloqueio completo da possibilidade do trânsito intestinal, exigindo cirurgia. Nos casos de obstrução parcial, o paciente pode ter uma solução sem necessidade de operar”.
No caso de Bolsonaro, não se sabe qual é o tipo de obstrução intestinal que ele apresenta, mas segundo o ex-presidente e seus familiares e apoiadores, o problema teria sido decorrente de uma suposta facada que ele recebeu durante a campanha ao Planalto, em setembro de 2018. O caso, entretanto, nunca foi bem esclarecido.
Não é possível dizer se o caso de Bolsonaro é um câncer de intestino sem os devidos exames que precisam ser feitos pela equipe médica”, esclareceu Christiano Claus.
Principais sintomas e diagnóstico da obstrução intestinal
Entre os principais sintomas estão dores abdominais (cólicas), estufamento abdominal, parada da eliminação de gases e fezes e a presença de vômitos que se tornam cada vez mais intensos e frequentes.
Ainda segundo ele, a tomografia de abdome é a melhor forma de diagnóstico da obstrução intestinal. “Muitas vezes é capaz de dar o diagnóstico preciso e também da causa da obstrução, como uma hérnia, aderência ou tumor“, afirma o especialista.
Para aliviar os sintomas do paciente geralmente é esvaziado o estômago com o uso de uma sonda, com o objetivo de reduzir os vômitos. “Além disso, é importante manter o jejum, fazer reposição hidroeletrolítica endovenosa e o uso de antibióticos para evitar infecções”.
A partir da realização do exame que se define a necessidade ou não da cirurgia e a complexidade do caso. “O principal cuidado é evitar para que a obstrução evolua para uma isquemia, que pode levar a uma piora significativa do caso”, alerta o cirurgião.
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Alteração do hábito intestinal é sinal de alerta do câncer colorretal
A alteração do hábito intestinal, ou seja, apresentar prisão de ventre e diarreia alternados, assim como alteração na forma das fezes (fezes muito finas e compridas), é um importante sinal de alerta do câncer colorretal, que devem ser investigados.
Os demais sintomas mais comuns são sangue nas fezes, dor ou desconforto abdominal, fraqueza e anemia e perda de peso sem causa aparente”, informa a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBCO).
O câncer colorretal (intestino grosso e reto) é o segundo tumor maligno, excluindo o câncer de pele não melanoma, mais comum em homens e mulheres, atrás apenas, respectivamente, de câncer de próstata e mama. São 41 mil novos casos previstos para 2022, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
O risco de desenvolver a doença aumenta com a idade. A doença pode ser evitada com exame de colonoscopia a partir dos 50 anos ou a partir dos 40 anos, caso haja histórico de câncer na família. O cirurgião oncológico Héber Salvador, explica que o câncer colorretal pode se desenvolver silenciosamente por um tempo, sem apresentar nenhum sintoma.
Quando o paciente apresenta sintomas, já pode ser sinal de uma doença mais avançada. Por conta disso, é fundamental a realização de colonoscopia a partir dos 50 anos em pessoas – ou 40 anos, caso haja histórico de câncer na família. Este exame pode evitar a doença, pois, por meio dele, é possível retirar pólipos, que são lesões presas na parede do intestino que poderiam evoluir para câncer”, explica.
Facada pode ter causado inflamação, diz especialista
De acordo com o gastroenterologista Alexandre Carlos, médico-assistente do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC-FMUSP), a perfuração pela facada que Bolsonaro sofreu em 2018 pode ter gerado uma inflamação dentro da cavidade abdominal e algumas cicatrizes (tecnicamente chamadas de “bridas”).
Às vezes essas cicatrizes ‘puxam’ o intestino, causando uma obstrução parcial ou total do órgão”, descreveu o especialista em conversa com a CNN. O especialista explica, no entanto, que os quadros variam de pessoa para pessoa. “Vai depender do grau de inflamação e da quantidade de bridas formadas”, elucida Carlos.
A obstrução pode ser temporária ou definitiva, no segundo caso, uma cirurgia é necessária, o que provavelmente ocorreu com Bolsonaro. “Mas para entender se a obstrução é temporária ou definitiva, é preciso manter o paciente por um tempo em ‘jejum’ de alimentos sólidos e alguns melhoram espontaneamente, e outros vão precisar fazer um tratamento cirúrgico”, completa.
Ao site Poder 360, João Paulo Carvalho, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, avalia o quadro de Bolsonaro como perigoso. Pode gerar diversas complicações no organismo do paciente, como desidratação e distúrbios hidroeletrolíticos”.
Além disso, quando não tratada, a obstrução intestinal pode levar à necrose do seguimento intestinal obstruído, ocasionando perfuração intestinal e infecção intraabdominal”. Segundo o médico, por causa do alto número de cirurgias na região, “a parede abdominal tornou-se enfraquecida, aumentando as chances de desenvolver uma hérnia incisional”
A sexta operação em Bolsonaro em mais de cinco anos
Esta é a sexta vez que Bolsonaro é operado no intestino. No sábado (12), o ex-presidente publicou nas redes sociais: “Depois de tantos episódios semelhantes ao longo dos últimos anos, fui me acostumando com a dor e com o desconforto. Mas, desta vez, até os médicos se surpreenderam.”
Enquanto estava internado, Bolsonaro foi submetido a novos exames laboratoriais e de imagem que evidenciaram a “persistência” da subobstrução intestinal. A equipe médica optou pela intervenção cirúrgica.
A mulher do ex-presidente, Michelle Bolsonaro, 43, pediu no Instagram que os seguidores de seu marido sigam rezando por ele, e ressaltou que, segundo informado pela equipe médica, a operação seria longa. De acordo com especialistas, toda vez que um paciente é reoperado, tem mais chances de formar novas aderências.
Bolsonaro dependeu de helicóptero cedido por governadora do PT
Na sexta-feira (11), Bolsonaro passou mal durante um evento político na cidade de Santa Cruz (RN), no interior do estado. Ele foi socorrido por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), do Sistema Único de Saúde (SUS), e transferido de helicóptero para Natal. A aeronave foi cedida pela governadora Fátima Bezerra, do PT, o mesmo partido do seu arquirival, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No sábado (12), o ex-presidente deixou o Hospital Rio Grande, na capital potiguar, e seguiu para Brasília, “por decisão pessoal”, de acordo com o boletim médico. Em vídeo nas redes sociais, o ex-presidente disse que passaria ainda por avaliação para saber se haveria necessidade de intervenção cirúrgica, mas não detalhou o motivo.
Por decisão pessoal do senhor ex-presidente, em conjunto com sua família, e visando dar continuidade ao tratamento com o suporte e proximidade de seus entes queridos, está programada para o decorrer do dia de hoje sua transferência para a cidade de Brasília/DF”, diz o boletim assinado pelo diretor técnico do hospital, Luiz Roberto Leite Fonseca.
O comunicado informou ainda que a saúde de Bolsonaro está evoluindo de forma estável nas últimas 24 horas, com todos os sinais vitais e exames complementares dentro da normalidade, sem intercorrências clínicas.
Trama golpista e risco de prisão
Nas redes sociais, não faltaram memes sobre a situação de Bolsonaro, insinuando que a nova crise teria sido uma farsa para tentar fugir de uma possível prisão. Na sexta-feira (11), o Supremo Tribunal Federal (STF) publicou a decisão da Primeira Turma que tornou Bolsonaro e mais sete aliados réus por planejarem e tentarem um golpe de Estado. O STF também abriu a ação penal contra o ex-presidente e o ministro Alexandre de Moraes concedeu prazo de cinco dias para os advogados apresentarem defesa prévia.
Bolsonaro é acusado de ter tramado uma conspiração, envolvendo colaboradores próximos, incluindo ex-ministros e altos oficiais militares, para permanecer no poder após as eleições de 2022, que ele perdeu no segundo turno para seu arquirrival, o presidente Lula.
Declarado inelegível até 2030 por seus ataques sem comprovação à confiabilidade do sistema de voto eletrônico, Bolsonaro ainda se apega à possibilidade de ter essa condenação anulada ou reduzida para poder concorrer à presidência em 2026.
A decisão de transferi-lo para a capital federal foi tomada por sua esposa, Michelle Bolsonaro, apesar de aliados terem sugerido que ele fosse levado para São Paulo.
Com informações de Assessorias e agências