A ‘gripezinha’ – quem diria – pegou nosso presidente-atleta Jair Bolsonaro (sem partido). Aos 65 anos – e portanto, incluído pelos especialistas entre a população idosa, mais vulnerável aos riscos da Covid-19 -, ele é um dos 1.674.655 brasileiros infectados pelo novo coronavírus, segundo levantamento feito pelo consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde. A Covid-19 já causou 66.868 mortes, 1.312 dessas registradas em 24 horas, o quarto maior registro em apenas um dia no país desde o começo da pandemia.
Em mini-coletiva de imprensa – a Globo, considerada ‘comunista’ pelo atual governo, não foi convidada -, Bolsonaro informou que deu resultado positivo o exame para o qual se submeteu para detectar se está com a doença. Ele relatou que começou a sentir os sintomas no último domingo (5) e chegou a ter febre de 38 graus, mas que, à noite, a temperatura começou a ceder. E foi submetido a exames no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, logo na segunda-feira (6).
Começou no domingo com uma certa indisposição e se agravou durante a segunda-feira com mal-estar, cansaço, um pouco de dor muscular e a febre no final da tarde chegou a bater 38 graus”, disse em entrevista transmitida pela TV Brasil (emissora oficial do governo) e outras duas emissoras.
Bolsonaro ainda declarou ainda ter tomado azitromicina e hidroxicloroquina – este último, um medicamento derivado da cloroquina, que ele vem defendendo com unhas e dentes como tratamento para a Covid-19, mesmo com todas as evidências científicas de que não há eficácia desse medicamento para tratar a doença.

Com o médico da Presidência apontando para possibilidade de contaminação por Covid-19, Bolsonaro passou por uma tomografia no hospital e, segundo ele, os pulmões estavam limpos e agora está se sentindo “perfeitamente bem”.

Mas, dados os sintomas, a equipe médica resolveu aplicar a hidroxicloroquina. Eu tomei ontem por volta das 17h o primeiro comprimido. Também a azitromicina, todo aquele composto foi ministrado e confesso, como acordo muito durante a noite, depois da meia-noite consegui sentir alguma melhora. Às 5h, tomei a segunda dose e confesso a vocês que estou perfeitamente bem”, disse.

Para ele, o pronto atendimento médico e a forma como administraram essas medicações levaram à rápida melhora. “Reforço aqui o que os médicos têm dito, que [com] a hidroxicloroquina na fase inicial a chance de sucesso chega a quase 100%”, disse.

Presidente sem máscaras expõe jornalistas a risco

O presidente fez o anúncio do resultado do exame para a TV Brasil (emissora oficial do Governo) e mais duas emissoras. Ao final da entrevista, ele se afastou alguns passos dos repórteres e tirou a máscara. Mostrou o rosto, disse estar “bem” e pediu cuidado aos mais idosos, afirmando ainda que jovens estariam fora da faixa de risco – o que também contraria todas as principais e estatísticas oficiais que mostram que a doença e sua fatalidade não escolhem faixa etária.

Vamos tomar cuidado, em especial com os mais idosos e que têm comorbidade. Os mais jovens, tomem cuidado, mas se forem acometidos do vírus, fiquem tranquilos que para vocês a possibilidade de algo mais grave é próximo de zero”, declarou.

Dados oficiais sobre a pandemia mostram que pessoas mais jovens, e mesmo aquelas sem comorbidades, também podem desenvolver formas graves da doença. Mesmo defendendo cuidado com os mais velhos, Bolsonaro tem feito reuniões com ministros, alguns deles com mais de 60 anos, como ministro da Economia, Paulo Guedes, que tem 70.

Estou bem, estou normal. Em comparação a ontem [segunda], estou muito bem. Estou até com vontade de fazer uma caminhada, mas não vou fazê-lo por recomendação médica, mas eu estou muito bem”, afirmou.

Presidente achou que já tivesse contraído a doença

Bolsonaro disse ainda que imagina que já tivesse contraído a doença, sem manifestar sintomas, “em vista da minha atividade muito dinâmica perante a população”. Nos últimos meses, o presidente compareceu a manifestações de apoio a seu governo, andou pelo comércio da capital federal e cumprimentou apoiadores.

Tendo em vista esse meu contato bastante intenso nos últimos meses, eu achava até que tivesse contraído e não percebido, como a maioria da população brasileiro contrai o vírus e não percebe problema nenhum. As pessoas abaixo de 40 anos, a não ser que tenha problema de saúde, a chance é quase zero a sofrer, ter consequência maior da contaminação”, completou.

O presidente voltou a defender que apenas idosos e pessoas com comorbidades devem se submeter ao isolamento social. Para ele, as atividades no país devem ser retomadas. “A vida continua, o Brasil precisa produzir, você tem que colocar a economia para rodar. A vida, eu sei que ninguém recupera, mas a economia não funcionando leva a outras causas de mortes e óbitos no Brasil”, disse, citando problemas como depressão e suicídios.

Confira a íntegra da entrevista na TV Brasil:

A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) também divulgou nota sobre o resultado do exame do presidente. “O resultado do teste de covid-19 feito pelo presidente Jair Bolsonaro na noite dessa segunda-feira, 6, e disponibilizado na manhã de hoje, 7, apresentou diagnóstico positivo. O presidente mantém bom estado de saúde e está, nesse momento, no Palácio da Alvorada”, diz o texto.

O presidente cancelou as viagens previstas para a Bahia e Minas Gerais nesta semana. Nos próximos dias, Bolsonaro vai despachar por videoconferência e, em caso de necessidade, pessoalmente do Palácio da Alvorada, sua residência oficial,  e disse que talvez receba auxiliares para assinar documentos.

Segundo o presidente, ele deve repetir o exame na semana que vem. “As medidas protocolares que estou tomando é para evitar contaminação a terceiros, isso cabe a todo cidadão brasileiro, seja cidadão comum ou o presidente da República”, disse.

Entenda como funciona o teste feito por Bolsonaro

Uma cópia do resultado do exame de Bolsonaro, feito pelo laboratório Sabin, em Brasília, foi divulgada na tarde desta terça-feira pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (imagem abaixo). Desta vez, o nome que consta no exame foi o do próprio Bolsonaro. Em exames anteriores, o nome foi omitido a fim de preservar a identidade do presidente, segundo a versão oficial.
Bolsonaro realizou o teste RT-qPCR, que verifica a presença de material genético do vírus, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele foi submetido à coleta de secreções respiratórias para o teste às 20h33, segundo o documento do laboratório divulgado. No laudo ainda diz: “Este resultado deve ser correlacionado com os de outros exames e com os dados clínicos e epidemiológicos do paciente”.
De acordo com o biomédico Lucas Zanandrez, mestre habilitado em análises clínicas que atua na saúde pública há mais de quatro anos, isso significa que o diagnóstico também se dá pelos sinais e sintomas que o paciente apresenta, no caso, os dados clínicos, além do resultado do exame.
A soma dos sinais clínicos apresentados pelo presidente, o resultado positivo para detecção de material genético viral e a óbvia circulação do vírus no país fecharam o diagnóstico de Bolsonaro: positivo para Covid-19”, esclarece.
Lucas Zanandrez ainda explica que esse teste deve ser realizado nos primeiros dias após o início dos sintomas, sendo o ideal entre o terceiro ao sétimo dia. “O problema é quando o teste é realizado muito cedo ou muito tarde. Quando a pessoa é infectada, demora cerca de 3 a 5 dias para conseguir ter carga viral suficiente no corpo para que se detecte o material genético. Após 7 dias do início dos sintomas, termina o período ideal porque o vírus começa a ser eliminado do corpo”, explica.
Segundo ele,  material coletado do presidente Jair Bolsonaro foi o “SWAB nasofaríngeo” que é citado no documento. Essa é uma das formas de coletar a amostra quando se tem suspeita do coronavírus. “SWAB” é o cotonete que se coloca no fundo do nariz até encostar na região próxima da garganta, chamada de nasofaringe. Segundo o biomédico, esse local é de fácil acesso para coleta, além de apresentar carga viral suficiente para ser detectada no exame.

o que significa RT-qPCR?

É um teste de Reação em Cadeia da Polimerase com Transcrição Reversa. Isso significa que o coronavírus é um vírus de RNA, material genético que, antes de ser detectado, precisa ser convertido em DNA por meio da transcrição reversa. Segundo o biomédico Lucas Zanandrez, só então é ativada a reação em cadeia da polimerase, que amplifica cópias de DNA e emite sinais fluorescentes, que serão captados por uma máquina. Quando o sinal emitido pela amostra é amplificado a tal ponto que ultrapassa um limiar de detecção, estabelecido a partir de um controle positivo conhecido, é dito que foi detectado o vírus na amostra.
Com G-1, Agência Brasil e Assessorias
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