Considerada a doença do século pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão atinge mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo e é a principal causa de suicídios no planeta – a cada ano, estima-se que 800 mil pessoas tiram a própria vida. Ainda segundo a OMS, 15% dos pacientes com depressão cometem suicídio.
O problema chega aos escritórios das empresas. Nos Estados Unidos, estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças levantou que 80% dos adultos com depressão reportaram alguma dificuldade no trabalho.
Neste Setembro Amarelo, mês mundial de prevenção ao suicídio, um aplicativo gratuito oferecido este mês às empresas brasileiras pode ajudar os gestores a medir o índice de felicidade corporativa em suas organizações. A partir do diagnóstico elaborado pela ferramenta, os gestores podem adotar as ações e iniciativas indicadas para restabelecer o equilíbrio e a saúde mental dos trabalhadores.
Eu não tenho o direito de chegar tarde na vida das pessoas! Muitas empresas não têm condições de contratar as nossas soluções e, por isso, resolvi criar essa versão automatizada e gratuita para alcançar essas vidas. O mundo precisa do que nós sabemos. Essa frase me move todos os dias”, afirma Renner Silva, empresário e professor de Ciência da Felicidade e Bem-Estar na PUC Minas Gerais, que desenvolveu o aplicativo.
O programa é o mesmo que o especialista usa em suas consultorias de gestão de felicidade corporativa, elevando ao máximo o potencial de colaboradores de empresas pelo Brasil. “Sei que todas as empresas estão passando por problemas invisíveis ao mercado. É isso que fazemos: os tornamos visíveis, para assim combatê-los, antes que seja tarde demais”, conta ele, garantindo que o app pode ser aplicado em qualquer empresa.
Como funciona o app que mede a felicidade dos colaboradores
O diagnóstico elaborado pelo Método S.I.M. – A Ciência da Felicidade analisa as respostas dos colaboradores em referência a três esferas direta ou indiretamente relacionadas ao trabalho – qualidade de vida, produtividade e clima organizacional. Por meio de uma série de perguntas com respostas no formato simples, de múltipla escolha e respondidas de forma anônima pelos trabalhadores, o app fornece à empresa um raio x geral sobre o estado mental da equipe como um todo.
Da mesma forma, oferece aos trabalhadores um diagnóstico completo sobre os pontos que devem receber atenção. Em ambos os casos, o diagnóstico é acompanhado de indicações de ações pessoais e iniciativas corporativas voltadas a estabelecer o equilíbrio individual e coletivo – a empresa, porém, não tem acesso aos dados individuais dos funcionários.
Cada pessoa tem um estoque de energia limitado”, explica Renner Silva, que aborda a felicidade e o desenvolvimento humano sob o prisma científico. Segundo ele, os transtornos mentais consomem grande parte dessa energia. “Então, quando uma pessoa tem depressão, altos níveis de ansiedade, culpa e medo, por exemplo, não sobra energia para que ela possa ser produtiva no trabalho”, destaca o especialista em temas como autoconhecimento, liderança, relacionamentos e inteligência comportamental.
Funcionários felizes dão mais lucro para as empresas
O oposto da depressão e do suicídio é a felicidade, cientificamente falando. Pesquisas ao redor do mundo provam que os colaboradores cientificamente felizes entregam mais e melhor, têm salários mais altos, maior desempenho e redução de até 15 dias por ano em afastamentos por doença ou acidente de trabalho.
Segundo Renner, alcançar a almejada felicidade é uma forma de não só aumentar a produtividade dos colaboradores – funcionários felizes dão lucro para qualquer empresa –, mas também de garantir a saúde física e mental dos indivíduos e do grupo como um todo.
Nós, enquanto empresas, temos um papel fundamental na sociedade, não só na vertente econômica, mas também na social e intelectual. As empresas são, de longe, o melhor lugar para se desenvolver competências humanas e formarmos um mundo com pessoas mais preparadas para a vida”, afirma o professor de Ciência da Felicidade e Bem-Estar.
De acordo com o diagnóstico, são detectados os pilares mais debilitados propostos dois tipos de programa, um para a empresa, baseado nas respostas globais, e outro para o funcionário, baseado nas respostas individuais.
Por meio do Método S.I.M., Renner também pretende alertar os empresários e gestores a respeito da seriedade com que a depressão e seus efeitos devem ser encarados no ambiente corporativo. Embora trate-se de um problema patológico, a doença muitas vezes é subestimada nas empresas, vista como preguiça ou corpo-mole por parte do funcionário, o que contribui para o agravamento da situação.
Como identificar e acolher casos dentro das empresas
A vida das cidades grandes e a pressão no ambiente de trabalho e/ou acadêmico são situações que acabam desencadeando a depressão e outras síndromes como a de burnout e transtorno de ansiedade. A palestrante e especialista em desenvolvimento humano, Rebeca Toyama, explica que a depressão pode ser uma válvula para o suicídio e alerta alguns pontos para ser identificado o quanto antes, no mundo corporativo.
A especialista revela que os sintomas podem ser identificados com uma simples observação do comportamento da pessoa em seu dia a dia, assim como em suas ações dentro do ambiente de trabalho. “ Observar se o colaborador está se afastando das pessoas de sua convivência, se houve diminuição na produtividade, redução do autocuidado e faltas frequentes, são alertas importantes para se analisar.”, afirma.
Para as pessoas que já se viram nessa situação, o ideal é se cuidar, conhecer e respeitar os próprios limites, a busca por ajuda profissional faz muita diferença. Além disso, se afastar do ambiente de trabalho pode não ser a melhor forma de resolver, já que quando a pessoa retornar, é possível que os sintomas voltem também.
“Nesses momentos, o papel dos líderes é essencial! Acolher e apoiar o colaborador de forma humana, mostrando o quão é importante seu trabalho para equipe, além de ajudar o núcleo entender esse momento sem perder o foco e a motivação”, finaliza, Rebeca Toyama.
Diante disso, a expert apontou 5 dicas para analisar se você possui essa tendência, e diante disso, possa procurar um especialista:
1 – Dê a devida prioridade ao seu autocuidado;
2 – Inclua em sua rotina atividades prazerosas, como: música, esporte e arte;
3 – Procure dedicar mais tempo ao convívio com pessoas agradáveis;
4 – Dedique seu tempo a novos aprendizados;
5 – Insira na sua agenda atividades que deem significado e sentido a sua existência, como por exemplo: ações de voluntariado ou espiritualidade.
Estratégias das empresas para manter o equilíbrio mental dos funcionários
Ambientes de trabalho tóxicos, com alta pressão por resultados de curto prazo e gestores que não cultivam uma cultura positiva, levam a taxas de turnover até 50% maiores, de acordo com alguns estudos. Doenças como Burnout – que está associada diretamente ao contexto do trabalho, estão cada vez mais presentes na vida dos funcionários e interferindo, consequentemente, na performance e resultados individuais e coletivos.
Problemas como estresse e burnout estão preocupando os profissionais de RH, já que isso impacta as taxas de absenteísmo e de engajamento. Cuidar do bem-estar das pessoas precisa estar na agenda dos líderes. Ambientes de trabalho tóxicos, com alta pressão por resultados de curto prazo e gestores que não cultivam uma cultura positiva, levam a taxas de turnover até 50% maiores, de acordo com alguns estudos”, avalia Roberta Perdomo, consultora de RH e cofundadora da Gestaum Lab, empresa que conecta profissionais de RH às contratantes.
Conheça exemplos de empresas que promovem ações de saúde mental
Segundo o Instituto Gallup, colabores preferem o bem-estar no ambiente de trabalho ao invés de incentivos financeiros, o que dá destaque à necessidade de as empresas estabelecerem políticas e programas que promovam o bem-estar e zelem pela saúde mental dos colaboradores.
Mas nenhuma estratégia é suficiente se a cultura da empresa não mudar. “Cuidar das pessoas e estabelecer ambientes de trabalho positivos deve estar no DNA das organizações e, principalmente, deve ser valorizado pelos seus líderes”, lembra Roberta.
Após implementar o trabalho home office para os 220 funcionários, a Sanar, startup brasileira detentora da maior plataforma de educação médica do país, desenvolveu um pacote de ações completo para o time. Como benefício, a companhia disponibilizou duas sessões de terapia durante a pandemia para cada um dos funcionários.
Além disso, o time também conta com auxílio e educação financeira, agenda de atividades com momentos de desenvolvimento profissional, descompressão e lazer. Os profissionais têm acesso a aula de culinária, yoga, workshop de marketing, meetups online, papo com uma sexóloga e, ainda é possível dar boas gargalhadas com os episódios de stand up comedy disponibilizados pela empresa.
O comitê de crise elaborado internamente auxilia os colaboradores em problemas que não envolvam diretamente o trabalho como sintomas da COVID-19, problemas financeiros e de equipamento. De acordo com o CEO da Sanar, Ubiraci Mercês, a empresa já avalia a continuidade do concelho e das outras ações no ‘’novo normal”, “Sabemos da importância da saúde mental das pessoas, pois só é possível extrair o melhor das pessoas, quando elas estão realmente bem”, finaliza Ubiraci Mercês.
Estresse, ansiedade, depressão são condições que estão sendo acentuadas pela vida moderna e, com a pandemia da Covid-19, as condições psicológicas se intensificaram. Acompanhando os principais fatores de risco apresentados pelas carteiras de saúde, a TopMed desenvolveu o programa ‘’Saúde Emocional’’.
A solução de cunho preventivo conta com atendimentos ativos realizados por psicólogos. O trabalho visa proporcionar ao indivíduo adquirir o autoconhecimento, fomentar o hábito do autocuidado e promover melhora significativa na qualidade de vida, ampliando as condições para lidar com as adversidades no ambiente pessoal ou corporativo.
Além de cuidar de quem está lá fora, a empresa também se preocupou em cuidar de quem cuida dos seus clientes. Desde o ano passado, o time comercial da empresa começou a estimular entre si hábitos mais saudáveis. A partir daí, surgiu a ideia dos “100 pagos”. O objetivo é praticar 100 atividades físicas no mês realizadas pelo grupo. Caso alguém não consiga cumprir seu resultado individual, outra pessoa do time precisa compensar, incentivando o trabalho em equipe.
A ação tem resultado em melhora da condição de saúde física e emocional dos profissionais. É visível que temos mais intimidade e empatia, cujos benefícios refletem na forma como nos tratamos nos nossos desafios de trabalho, como um time mais receptivo às críticas e feedbacks entre os colegas e mais colaborativo”, explica Carla Hoffmann, diretora comercial da TopMed.
Nos últimos três meses, a equipe do OiMenu, startup de cardápios digitais, têm iniciado o trabalho com uma meditação guiada. Por meio de exercícios de relaxamento e práticas mentais e espirituais, a empresa busca contribuir para a saúde mental dos colaboradores, gerar bem-estar no ambiente de trabalho e auxiliar na produtividade e foco durante o dia.
As aulas são realizadas com uma professora de Kundalini Yoga e vêm trazendo ótimos resultados para a equipe. Segundo o CEO da startup, Isaac Paes, iniciar diariamente os últimos meses com uma meditação guiada com respiração profunda fez com que os profissionais da empresa se identificassem com a atividade e trabalhassem melhor. Alguns até foram além e trouxeram novidades para a atividade em equipe – que só vem sendo cada vez mais valorizada e tratada como uma importante parte da rotina de trabalho.
Campanha – Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Centro de Valorização da Vida (CVV), organiza nacionalmente o Setembro Amarelo. O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e durante todo o mês são promovidas campanhas, eventos e debates sobre o assunto que é cada vez mais presente dentro das empresas e famílias. Mas as estratégias para manter a saúde mental devem ser mantidas o ano inteiro.
Com Assessorias