De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 35% da população mundial lida com doenças alérgicas.  A projeção do Atlas Global de Alergia da EAACI (Academia Europeia de Alergia e Imunologia) prospecta um crescimento nessa estimativa, apontando que até 2030 quase metade do público terá algum tipo de alergia, seja alimentar, respiratória, de pele ou proveniente de outras causas.

No Brasil, já são 61 milhões de pessoas sofrendo com algum tipo de alergia. Não surpreende que a procura por consultas médicas ambulatoriais com alergistas e imunologistas tenha crescido 42,1% no país entre 2019 e 2022, conforme levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).

Dados apontam que as alergias respiratórias e alimentares são as que mais afetam brasileiros, especialmente a rinite alérgica e a asma. O que pouca gente fala – e a gente lembra neste Dia Mundial da Alergia (8 de julho) – é da alergia a medicamentos, que afeta aproximadamente 14 milhões de brasileiros, o que representa 6% da população, como estima a Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).

Trata-se de uma reação adversa exagerada do sistema imunológico a uma substância da formulação do fármaco, que o identifica erroneamente como nocivo ao organismo. Essa reação leva à produção de anticorpos, que são células do sistema imune. Na presença do medicamento, elas liberam substâncias químicas como a histamina, que causam os sintomas da alergia.

Antibióticos e quimioterápicos são medicações que mais causam alergias

Os sintomas mais frequentes deste tipo de alergia são a urticária, que envolve coceira e vermelhidão no corpo, erupções na pele, inchaço nos olhos, lábios, dificuldades respiratórias devido à broncoespasmos e até mesmo anafilaxia, que é uma reação severa que pode ser fatal, caracterizada por queda de pressão arterial, dificuldade extrema de respirar e perda de consciência.
No Brasil, as alergias a anti-inflamatórios não esteroides (Aine) e antibióticos são as que causam reações alérgicas mais frequentes, mas outras classes, como a dos quimioterápicos, também podem desencadear crises”, afirma a médica alergista Adriana Rodrigues, do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), um dos principais centros públicos de referência no tratamento e pesquisa de alergias no país.
A especialista comenta que há estudos que associam o fator genético para desenvolver sensibilizações com a predisposição para a alergia a medicamentos com reações tardias graves, como, por exemplo, a Síndrome de Stevens Johnson e à Reação Medicamentosa com Eosinofilia e Sintomas Sistêmicos (DRESS). Nestes casos, nas manifestações clínicas há o comprometimento da pele e também alterações hepáticas, renais, além do risco de óbito. 

Como diferenciar reação adversa e alergia a medicamento?

A médica explica que as reações adversas normalmente são previsíveis e estão na bula, como a sonolência causada pelo uso de anti-histamínico ou a dor no estômago devido ao anti-inflamatório.
As reações alérgicas a medicamentos são tratadas de diferentes maneiras, mas geralmente há indicação de uso de corticóides e anti-histamínicos, além da recomendação da exclusão da medicação que estava sendo utilizada. Nas reações anafiláticas, que são mais raras, o uso de adrenalina é a principal medicação utilizada, com capacidade de salvar a vida do paciente
A alergista reforça a importância de tomar medicamentos somente com prescrição médica e, em caso de suspeita de alergia ou reação adversa, suspender o uso e procurar um serviço de saúde imediatamente.
Apenas um médico especialista pode diagnosticar e indicar qualquer tipo de tratamento. Infelizmente não há cura, mas é reversível com tratamento na grande maioria dos casos”, destaca.

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Alergias de contato causam desconforto e podem ter diferentes causas

Outro tipo de alergia pouco divulgado é a alergia de contato. Algumas pessoas têm sintomas alérgicos ao entrar em contato com certos materiais, o que causa desconforto, podendo afetar inclusive a qualidade de vida.

Essa alergia acontece quando há exposição a um material ou substância em que o organismo desenvolve mecanismos de defesa contra certas substâncias, causando reações na pele. Segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), 80% dos casos de dermatite de contato são do tipo irritativo.

As alergias de contato podem ser a dermatite de contato alérgica, dermatite de contato irritativa ou, ainda mais raramente, a urticária de contato”, afirma a médica alergista Maria Elisa Bertocco, do Serviço de Alergia e Imunologia do HSPE.

A dermatite de contato do tipo alérgico normalmente é causada por um mecanismo do sistema imune, que é ativado para tentar eliminar o agente agressor, sendo muito comum seu aparecimento devido aos metais nas bijuterias, que contém níquel ou cobalto, e também nos produtos de cuidados pessoais como sabonetes e produtos capilares, como xampu e tinturas. 

A dermatite de contato irritativa ocorre com o uso crônico de substâncias que irritam ou agridem a pele, como detergentes, produtos de limpeza ou devido ao uso de substâncias fortes, como ácidos e bases que, mesmo em pequenas quantidades, podem causar lesões graves à pele”, explica Bertocco.

Ambas podem demorar horas ou dias para se manifestar e as reações mais comuns são manchas avermelhadas, coceira e descamação. Outra causa comum desse tipo de dermatite é o contato com a borracha, por reação às substâncias usadas para a sua produção a partir do látex, que são catalisadores. 

A urticária de contato é uma reação alérgica que tem um mecanismo diferente, com sintomas que ocorrem logo após que a substância causadora entra em contato com a pele e o látex é o desencadeante mais comum. 

Na urticária há a formação de pápulas na pele, que são lesões que se manifestam por um inchaço, localizadas e avermelhadas, que desaparecem sem deixar marcas. Caso seja mais grave, as vias respiratórias podem ser envolvidas e pode ocorrer a anafilaxia, que pode ser fatal”.

Ainda de acordo com a médica, não há cura para as dermatites de contato, mas existe a possibilidade de controle. A recomendação é procurar especialistas médicos que possam ajudar a identificar as causas e indicar o tratamento adequado e personalizado, que pode envolver medicamentos de alívio sintomático.

Existem testes para confirmar o diagnóstico de alergia a determinadas substâncias e também é possível fazer a escolha de produtos substituam os que causam reações alérgicas na pele do paciente, ajudando a eliminar os agentes responsáveis pela alergia”, finaliza.

Com informações do HSPE

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