As mudanças climáticas estão elevando as temperaturas e colocando milhões de pessoas em risco em um mundo cada vez mais urbano. De acordo com especialistas, o progresso na redução das emissões de gases de efeito estufa não será capaz de impedir o aumento das temperaturas e da duração dessas ondas de calor extremo, e o consequente aumento de doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, doença renal crônica, enxaquecas e outras condições debilitantes.

Os efeitos da crise climática na saúde estão no nosso dia a dia e não são mais projeções, são consequências reais e norteiam as discussões nos três dias do encontro global da Forecasting Healthy Futures, iniciativa que reúne centenas de organizações ao redor do mundo que trabalham para proteger a saúde humana dos impactos das mudanças climáticas.

Um dos nossos principais objetivos é aumentar o investimento em estratégias inovadoras de adaptação climática que protejam nossa saúde dos impactos do aquecimento global. A agenda climática global subestimou o impacto do aquecimento global na saúde humana”, destaca Kelly Willis.

Segundo ela, são necessários recursos urgentes para “ajudar as comunidades vulneráveis a responder às ameaças imediatas à nossa saúde causadas pelas mudanças climáticas e para construir sistemas de saúde mais resilientes ao clima, adequados para o futuro”.

Financiamento de soluções para a crise climática é destaque

O Forecasting Healthy Futures Global Summit acontece todos os anos nos países que sediam a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes) e nesta edição suas temáticas se alinham às prioridades da COP 30, que acontece em novembro, em Belém (PA).

Ao instagram do Vida e Ação, Kelly Willis fez questão de compartilhar sobre suas expectativas para o FHF Summit, que acontece esta semana no Rio de Janeiro – veja aqui.  Segundo ela, a cúpula global realizada anualmente no país-sede da COP é uma oportunidade de falar sobre todos os tipos de soluções globais no contexto das mudanças climáticas.

Não só tudo que possa ser útil aqui no Brasil, mas também coisas que possam ser comunicadas para o mundo, coisas que possam ajudar comunidades em vulnerabilidade climática para que elas possam ser mais protegidas para os impactos. Focamos em intervenções que linkem a biodiversidade, as mudanças climáticas e a saúde humana”, disse.

No primeiro dia, o Forecasting Healthy Futures Global Summit abordou água, insegurança alimentar e combate às arboviroses, entre outros temas (veja mais detalhes abaixo). Nesta quarta-feira (9), o evento ouve algumas palavras dos times da liderança da COP30 e o que pode ser extraído das soluções apresentadas no FHF. “Também vamos falar de colaborações do setor privada e interseções sobre as mudanças climáticas e a saúde”, contou.

A quinta-feira será dedicada ao financiamento climático. “Passaremos um dia inteiro falando sobre financiamento climático para a saúde porque o setor climático e a adaptação é muito chave para que a gente possa proteger. O financiamento, infelizmente, não está fazendo parte desse planejamento e precisamos proteger a adaptação dos impactos das mudanças climáticas”, antecipou.

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Ministério da Saúde defende ‘plano inclusivo’

À frente dos preparativos para a COP30, a médica Agnes Soares da Silva, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, falou sobre o papel da saúde para mitigar os impactos das mudanças climáticas e destacou o papel crucial que o setor da saúde desempenha também na liderança das transformações necessárias para garantir um futuro mais resiliente e equitativo para todos.

Durante sua apresentação no segundo dia do Forecasting Healthy Futures Global Summit (FHF Summit), a médica enfatizou a importância da ação coletiva e do compromisso com a implementação de políticas e estratégias baseadas em evidências.  De acordo com a Dra. Agnes, embora as negociações sejam essenciais, o verdadeiro desafio está em como avançar na implementação de soluções práticas.

Não se trata apenas de negociações, mas de encontrar maneiras concretas de agir e construir uma agenda que todos possam apoiar e levar adiante. Precisamos de um plano inclusivo, para que as necessidades dos mais afetados se tornem visíveis e priorizadas”, disse.

Mutirão global para ajudar os mais vulneráveis

A representante do Ministério da Saúde destacou a necessidade da participação social, um “mutirão global” para resolver problemas coletivos e complexos, em busca de melhorar a resiliência dos sistemas de saúde, garantir a continuidade dos serviços e reduzir a morbilidade e a mortalidade causadas pelas mudanças climáticas, com ênfase nas populações mais vulneráveis.

Dra Agnes também mencionou a importância de fortalecer a colaboração internacional e adiantou que o plano de ação do Ministério da Saúde para a COP30, que está em desenvolvimento, é baseado em iniciativas passadas, incluindo as conferências da COP20 e as resoluções da Organização Mundial da Saúde (OMS).  A proposta também está alinhada com o Programa de Trabalho de Berlim, que visa promover a meta global  de adaptação ao clima.

O setor da saúde tem um papel essencial não só na resposta aos impactos climáticos, mas também na liderança da transformação em direção ao cuidado, à reparação e à resiliência”, afirmou Agnes Soares da Silva.

O Brasil, com o apoio da OMS, propôs recentemente uma resolução que garante a participação do setor de saúde em todo o processo de tomada de decisões climáticas. Agnes reforçou a importância dessa resolução e da consulta inicial, que foi realizada em março. Agora, o próximo momento decisivo será durante a Assembleia Mundial da Saúde da OMS, que ocorrerá entre os dias 19 e 31 de maio.

Para OMS, mudança climática é a maior ameaça global à saúde humana

Ainda no evento, Daniel Buss, chefe de Unidade, Mudanças Climáticas e Determinantes Ambientais da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), falou sobre como proteger a saúde global das mudanças climáticas por meio da conservação dos recursos naturais e o o potencial transformador do ‘Trio do Rio’. Já Paulo Gadelha, pesquisador sênior e coordenador da “Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030′, falou das perspectivas da Fundação Oswaldo Cruz para saúde e mudanças climáticas.

Gadelha destacou a necessidade de compreender as transformações ambientais no contexto da crise planetária global e destacou que a mudança climática foi reconhecida como a maior ameaça global à saúde humana, conforme declarado pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom.

Quando pensamos em mudanças climáticas, precisamos entender que isso não é um problema isolado. É preciso conectar a questão com a crise planetária como um todo. Estamos falando de grandes acordos multilaterais, como a Agenda 2030, o Acordo de Paris e o Marco de Sendai, que se relacionam de maneira direta com a saúde e o bem-estar das populações ao redor do mundo”, afirmou.

Desigualdades sociais agravam efeitos das mudanças climáticas

De acordo com Paulo Gadelha, o ex-presidente da Fiocruz, as principais questões em debate devem envolver a implementação e o financiamento de soluções para as mudanças climáticas, sem deixar de lado o desenvolvimento sustentável de forma ampla. Ele ressaltou que as crises ambientais, sociais e econômicas têm uma origem comum: o modelo desigual de desenvolvimento.

As determinações dessas crises surgiram da mesma raiz, que é o modelo desigual de desenvolvimento e a maneira como ele é compartilhado, o que produz desigualdade, especialmente com as populações mais vulneráveis”.

Vinculada ao Ministério da Saúde, a Fiocruz é uma das instituições de referência no Brasil e no mundo, dedicada à pesquisa, ao desenvolvimento tecnológico e à promoção da saúde pública. Em 2017 foi instituída a “Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030” (EFA 2030), que incorpora o documento das Nações Unidas ao desenvolvimento estratégico e ao programa de trabalho da Fiocruz em médio e longo prazos.

Para Gadelha, a Agenda 2030, com seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), representa a abordagem mais abrangente para conectar as questões econômicas, sociais e ambientais. Gadelha explicou que a agenda oferece um quadro articulado para enfrentar os principais desafios da crise climática, por isso é essencial integrá-la com o Acordo de Paris, pois ambos abordam a necessidade urgente de mitigar e adaptar as sociedades aos efeitos das mudanças climáticas.

Com informações do FHF Global Summit (atualizado em 9/4/25)

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