Moradora de São Paulo (SP), Isabella Santos Alcântara, de 10 anos, nasceu com uma condição rara, a hemimelia tibial, quando o bebê não possui a tíbia, um dos ossos presentes na perna do ser humano. A família chegou a tentar uma cirurgia de reconstrução da tíbia, mas isso afetaria a mobilidade dela.
Após algumas tentativas de salvar o membro da filha, os pais Vinícius e Flávia foram aconselhados de que a amputação da perna direita seria a melhor solução, o que ocorreu quando ela tinha apenas dois anos. Desde então, a menina passou a usar próteses.
Hoje, Isabella faz balé, educação física, handball, além das aulas de teatro. “Neste ano ela participou do torneio interclasses da escola e, jogando handball, conquistou medalha de prata”, diz a mãe, orgulhosa.
A menina não dispensa um passeio com as amigas e com o colégio em que estuda. Um dos passeios mais recentes de Isabella foi um evento internacional: o show da cantora Taylor Swift, no mês de novembro, em São Paulo.
Mais de 1,7 milhão de crianças e adolescentes com deficiência
Isabella faz parte de um grande contingente de pequenos brasileiros e brasileiras que possuem algum tipo de deficiência. Ato todo, são cerca de 760 mil crianças de dois a nove anos de idade, o que representa 4,1% do total da população de deficientes do país, que são 18,6 milhões de pessoas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e referente ao ano de 2022.
Quando os números são somados ao da faixa etária de 10 a 19 anos, que inclui também pré-adolescentes, adolescentes e jovens no início da fase adulta, o total chega a 1,7 milhão de habitantes. Enquanto isso, no mundo, são 240 milhões de crianças nesta situação, conforme dados do Unicef, o Programa das Nações Unidas para a Infância.
O Dia da Criança com Deficiência, celebrado neste sábado (9), é uma data que ajuda a retomar as demandas para este grupo de pequenos brasileiros e brasileiras, em especial a inclusão em diferentes ambientes, como saúde e educação. Isso porque as deficiências podem variar, desde dificuldades de aprendizagem, de visão ou mesmo de mobilidade, segundo o IBGE, o que revela a necessidade de ações públicas e da sociedade como um todo em diferentes situações.
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Avanço da tecnologia nas próteses permite maior mobilidade
A tecnologia é uma das formas de garantir mais autonomia e inclusão para crianças como Isabella. Desde os dois anos, o casal leva a filha à clínica da Ottobock localizada em São Paulo para acompanhamento técnico e multiprofissional do uso de próteses.
“Como a Isabella era muito nova, tinha apenas dois anos quando a levamos para a primeira protetização, o equipamento que ela recebeu foi bastante simples. Não havia muita mobilidade para andar e ajudava a Isabella a ficar em pé. Mas, desde então, graças à evolução da tecnologia, o uso da prótese melhorou sua mobilidade, conforme suas necessidades”, comenta Flávia.
Para conseguir realizar todas as atividades de que mais gosta com a autonomia que precisa, ela utiliza atualmente duas próteses. Uma delas é o joelho mecânico 3R67, que oferece estabilidade e a possibilidade de caminhar em diferentes tipos de velocidade. A outra é o pé Taleo, que permite fácil locomoção em terrenos irregulares e íngremes.
“Percebemos que ela cada vez se sente mais independente para o manuseio das próteses”, afirma o pai. Em uma fase da vida em que o crescimento fica mais acelerado para Isabella, as visitas à clínica são cada vez mais focadas em ajustes necessários conforme o seu desenvolvimento corporal. “Consequentemente as próteses precisam acompanhar o crescimento dela”, diz o pai.
Tudo registrado nas redes sociais
A rotina da garota é também motivação para muitas pessoas. Isso porque os pais mantêm para Isabella um perfil nas redes sociais com quase 38 mil seguidores. A intenção inicial era focar na autoestima da filha, mas a página ganhou proporções maiores.
“Outras famílias que passam pela mesma situação que passamos conseguem enxergar que ela faz tudo o que outra criança sem deficiência faz. Uma família que tem alguém na mesma situação percebe que existe solução e que existe vida após a amputação”, comenta a mãe.
E sua rotina com a prótese é um dos temas que ela aborda em seu perfil na rede social. Em um dos vídeos, do dia 19 de setembro deste ano, a pequena influencer mostrou como é o processo de encaixe do equipamento ao membro residual, a parte não amputada da perna de Isabella que se conecta com a prótese. No mesmo vídeo, ela mostra como é o trabalho dos técnicos protesistas na clínica que ela frequenta em São Paulo.
Segundo os pais, se tem algo do qual a Isabella gosta de cuidar e mostrar ao público é de sua prótese e não larga o equipamento com facilidade. “Nós até pedimos para ela deixar o corpo respirar um pouco sem a prótese, mas ela só tira quando toma banho e quando vai dormir”, diz o pai.
Adaptação e acompanhamento
De acordo com o diretor de academy na América Latina da Ottobock, Thomas Pfleghar, em geral o trabalho dos profissionais envolvidos na protetização e no acompanhamento parte sempre da necessidade da criança e no ganho da confiança com o pequeno paciente.
“Quanto mais novo, mais fácil para ele se acostumar, mas ainda assim é importante trabalhar de forma mais lúdica, perto do universo deles, para a melhor adaptação e aceitação do equipamento que fará parte da rotina dessas crianças”, explica.
O especialista explica que, da mesma forma que um adulto, todas as questões específicas de cada paciente, seja criança ou adolescente, precisam ser analisadas antes da prescrição de uma prótese.
“Os técnicos fazem toda a medição da estrutura corporal do paciente, levam em consideração se é uma criança ativa ou não, quais as demandas diárias dela em casa, seja escola ou em outros ambientes, para que o equipamento possa ser montado e posteriormente utilizado”, explica.
Pfleghar ainda comenta que tudo isso é acompanhado ainda mais de perto devido ao crescimento e evolução orgânica da criança. “Nestes casos, é necessário lembrar que estamos tratando de uma pessoa em evolução de sua altura e de seu peso maior do que um adulto, o que demanda mais atenção”, explica.
Fonte: Ottobock