Segundo o relatório do Banco Mundial The Cost of Inaction (2024), a crise climática já agrava doenças, aumenta a frequência de eventos climáticos extremos e afeta sistemas alimentares. Entre 2026 e 2050, as mudanças climáticas podem gerar até 5,2 bilhões de casos de doenças e 15,6 milhões de mortes em países de baixa e média renda.
Mesmo antes de nascer, ainda na aparente segurança do ventre materno, bebês humanos já estão sentindo as consequências das mudanças climáticas, dizem os cientistas. Mas, embora esses efeitos já sejam dados como certos, sua extensão ainda não é totalmente conhecida pelos pesquisadores e pediatras.
De acordo com um relatório do Fórum Econômico Mundial, até 2050, as mudanças climáticas devem provocar 14,5 milhões de mortes. E, em um cenário trágico como esse, a saúde dos idosos e das crianças estará particularmente em risco, como explica a pediatra, neonatologista e professora do curso de Medicina da Universidade Positivo Gislayne Souza Nieto.
Os extremos de idade são mesmo os que mais sofrem porque, naturalmente, o corpo tem menos recursos para se defender e se adaptar no início e no fim da vida”, pontua.
O relatório “The climate-changed child”, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) aponta para essa mesma conclusão, enumerando ao menos sete consequências diretas das alterações no clima para a vida dos pequenos.
- Em risco antes de nascer
Diversos estudos vêm demonstrando que o aumento das temperaturas é prejudicial para os bebês ainda durante a gestação. Um deles, publicado por Alan Barreca e Jessamyn Schaller na revista Nature em 2020, afirma que “evidências sugerem que a exposição ao calor aumenta o risco de parto para mulheres grávidas. A aceleração do nascimento leva a uma gestação mais curta, o que vem sendo associado a consequências posteriores para a saúde e a cognição”.
Outro, publicado por um grupo de cientistas na mesma Nature em novembro de 2024, analisou uma série de pesquisas científicas desenvolvidas em 66 países e chegou à conclusão de que as ondas de calor aumentam não apenas o risco de parto prematuro, como também de crianças nascidas mortas, anomalias congênitas e diabetes gestacional, bem como de complicações obstétricas.
Podemos mesmo ter algumas intercorrências antes e durante o nascimento. Vem sendo provado por cientistas que as temperaturas mais altas são causa de prematuridade, que é o nascimento antes das 37 semanas de gestação. Além disso, o calor causa um desconforto significativo para a gestante, como inchaço, aumento e pressão arterial, retenção de líquido e outras condições que afetam a saúde dessa mulher e, consequentemente, do bebê que ela está gestando”, ressalta Gislayne.
- Doenças
“Doenças letais na infância estão se espalhando mais devido à degradação do meio ambiente e às mudanças climáticas”, afirma o relatório do Unicef. De fato, a maior frequência de eventos como enchentes e alagamentos pode causar um aumento no número de casos de viroses como dengue, zika e chikungunya. Isso acontece porque os mosquitos que servem de vetor para essas doenças precisam justamente de água para se desenvolver. Outras viroses, como as gastrointestinais, também podem aumentar nessas condições.
- Desnutrição
Segundo o documento do Unicef, as mudanças climáticas também têm impacto na nutrição das crianças. Safras menos abundantes, com perdas causadas por eventos climáticos extremos, como ondas de calor e chuvas mais frequentes e volumosas, fazem subir o preço dos alimentos, o que é determinante para que um sem número de crianças e adolescentes passem a ingerir uma menor quantidade e variedade de nutrientes.
A nutrição é extremamente importante para o desenvolvimento infantil, principalmente nos mil primeiros dias de vida. A falta de acesso a uma nutrição equilibrada, com todos os grupos alimentares, pode causar prejuízo até mesmo para o desenvolvimento cognitivo das crianças”, diz a pediatra.
- Temperatura corporal
Uma consequência direta das ondas de calor para a saúde dos pequenos é o fato de que o organismo infantil não é capaz de regular a temperatura corporal e, por isso, torna-se mais propenso à desidratação. “Os bebês, principalmente os mais novos, não transpiram como os adultos. Como resultado, eles podem ter até mesmo uma falência de órgãos importantes como os rins”, alerta Gislayne.
- Poluição
Bebês também têm a respiração muito acelerada, em comparação aos adultos. Isso significa que eles ficam mais vulneráveis à poluição do ar. Isso leva diretamente ao aumento nos registros de doenças respiratórias, como asma, rinite e alergias entre as crianças.
- Educação
O Unicef aponta, ainda, outras consequências diretas dessas alterações para o desenvolvimento infantil. Uma delas diz respeito à educação. “40 milhões de crianças têm seus estudos interrompidos todos os anos devido a desastres naturais que são agravados pelas mudanças climáticas e esse número segue crescendo”, aponta o relatório.
Exemplos disso não faltam. No início de 2025, uma onda de calor que atingiu o Rio Grande do Sul adiou a volta às aulas na rede estadual de ensino, prejudicando cerca de 770 mil estudantes.
- Saúde mental
Além disso, o calor extremo também vem sendo associado a problemas de saúde mental em crianças e adolescentes, entre eles depressão e transtorno do estresse pós-traumático, como destaca o relatório do Unicef.
A organização assinala, ainda, que “apesar de sua vulnerabilidade única, as crianças vêm sendo ignoradas ou amplamente negligenciadas na resposta às mudanças climáticas. Apenas 2,4% do financiamento climático dos principais fundos multilaterais apoiam projetos que incorporam atividades voltadas para as crianças”.
Para o relatório, essa negligência já está causando uma crise na garantia de direitos das crianças em todo o mundo, e recomenda: “As crianças devem estar no centro da resposta global”.
Agenda Positiva
Encontro global discute impactos das mudanças climáticas na saúde
No ano de COP no Brasil, Forecasting Healthy Futures reúne líderes globais para buscar soluções para enfrentar impactos na saúde humana
Com a COP30 marcada para novembro em Belém (PA), especialistas globais e locais vão se reunir por três dias no Rio de Janeiro para discutir soluções para a crise climática e seu impacto na saúde, com temas como o fortalecimento dos sistemas de saúde e a necessidade de financiamento sustentável para países vulneráveis.
Entre os dias 8 e 10 de abril, o Rio de Janeiro será palco do Forecasting Healthy Futures Global Summit, evento internacional que acontece nos países sede das COPs e que, após passagens pelos Emirados Árabes e Azerbaijão, chega ao Brasil em um momento estratégico, a poucos meses da COP30.
O Forecasting Healthy Futures se empenha para proteger e expandir os ganhos globais, no contexto das mudanças climáticas. Abordamos a nossa missão inspirando o compromisso com a ação de mitigação nos setores público e privado, promovendo o investimento em intervenções de saúde comprovadas e emergentes para lidar com o impacto do aquecimento global e acelerando a inovação para tornar os sistemas de saúde mais resistentes às ameaças climáticas do futuro.
O evento no Sheraton Grand Rio Hotel contará com a participação de líderes globais como Maria Neira, da Organização Mundial da Saúde (OMS); Agnes Soares da Silva, do Ministério da Saúde do Brasil; Hugh Montgomery, CEO da Lancet Countdown; Tabinda Sarosh, CEO da Pathfinder International, e Dinesh Arora, especialista em Saúde do Asian Development Bank.
- Dia 1 (8 de abril) – “Inspirando inovação em clima e saúde“: As discussões abordarão os impactos na saúde e as oportunidades para a conservação da biodiversidade e a reforma do uso da terra, soluções baseadas na natureza para a saúde, incluindo oceanos, florestas, agricultura e água, bem como novas descobertas de pesquisas e insights de jovens pesquisadores e inovadores.
- Dia 2 (9 de abril) – “Capacitando defensores da saúde“: Este dia será focado em exigir ações urgentes contra as mudanças climáticas, reformas políticas significativas e parcerias público-privadas para uma adaptação eficaz e proteção da saúde em locais vulneráveis.
- Dia 3 (10 de abril) – “Simpósio conjunto sobre finanças climáticas para a Saúde“: O último dia do FHF Global Summit será coorganizado pelo Banco Asiático de Desenvolvimento e promoverá o acesso equitativo ao financiamento para a adaptação do setor de saúde, além de explorar novas abordagens para priorizar e monitorar investimentos em resiliência climática e melhoria da saúde.
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Com Assessorias