A baixa adesão ao tratamento farmacológico de doenças crônicas é um desafio significativo no Brasil. De acordo com um estudo publicado na Revista de Saúde Pública, aproximadamente 30,8% dos pacientes com doenças crônicas não seguem corretamente as prescrições médicas. Diversos fatores estão associados a essa baixa adesão, incluindo idade; escolaridade; região de residência; custos do tratamento; número de doenças e uso de múltiplos medicamentos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 50% dos pacientes interrompem a adesão correta já no primeiro ano de tratamento.
Outro estudo, com base nos dados de hospitalizações por doenças cardiovasculares no SUS entre os anos de 2014 e 2023, estima que a economia potencial para o sistema de saúde brasileiro ao reduzir as hospitalizações e óbitos por doenças cardíacas relacionadas à hipertensão arterial – doença que enfrenta como um dos principais desafios a adesão ao tratamento – pode chegar a R$ 9,25 bilhões em dez anos, em um cenário de redução de 30% de hospitalizações e 20% em óbitos.
A Federação Mundial do Coração (World Heart Federation – WHF na sigla em inglês) alerta que as taxas de adesão ao tratamento, às recomendações de estilo de vida e às orientações gerais de saúde estão perigosamente baixas em todo o mundo, aumentando as hospitalizações evitáveis e piorando os resultados clínicos. Em países de alta renda, estima-se que mais de 50% dos pacientes com condições crônicas não seguem os tratamentos prescritos. As taxas de adesão são ainda mais baixas em países de baixa renda.
Para incentivar a população a seguir os tratamentos médicos recomendados, ajudar a salvar vidas e melhorar a saúde dos pacientes, instituições brasileiras apoiam nesta quinta-feira (27) o primeiro “Dia Mundial da Adesão”. A campanha global da WHF busca conscientizar sobre a importância da adesão aos tratamentos, visando melhorar os resultados de saúde e reduzir custos desnecessários.
Com apoio de 15 instituições internacionais, a campanha #DontMissaMoment mobiliza sociedades científicas e médicas de todo o mundo. No Brasil, a iniciativa, traduzida como “Proteja seus momentos”, tem apoio da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Vozes do Advocacy – Federação de Associações e Institutos de Diabetes e Obesidade, ADJ Diabetes Brasil e Servier.
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Estigma e barreiras de comunicação
Este é um momento decisivo e aumentar a conscientização é o primeiro passo para fechar essas lacunas crítucas na saúde”, diz o professor Jagat Narula, presidente da Federação Mundial do Coração. “As razões para a não adesão são complexas – desde o estigma e as barreiras de comunicação até as restrições financeiras – e devemos agir agora”, destaca.
Para profissionais de saúde e cuidadores, garantir que os pacientes cumpram seus planos de tratamento – incluindo medicamentos, dieta, exercícios e acompanhamentos regulares – é uma tarefa árdua. Tempo, recursos e mecanismos de acompanhamento limitados dificultam o rastreamento da adesão, deixando os pacientes vulneráveis a consequências com risco de morte. Por isso, a WHF, em coalizão com 15 parceiros globais, está convocando pacientes, cuidadores, indústria farmacêutica e comunidade médica a se unirem para quebrar as barreiras à adesão.
“O tratamento não para no consultório médico”, diz Narula. “Com o Dia Mundial da Adesão, pretendemos iniciar um diálogo global e invocar um movimento para tornar a adesão – seja a
medicamentos, à um estilo de vida mais saudável ou a cuidados de acompanhamento – uma prioridade de saúde que merece um compromisso universal”,
O médico cardiologista Paulo Caramori, presidente da Sociedade Brasileira Cardiologia (SBC) – instituição membro da WHF no Brasil – ressalta que aderir a um tratamento é fundamental para a sua eficácia e para melhorar a saúde geral do paciente.
Tomar os medicamentos corretamente garante que o tratamento seja eficaz em controlar ou até mesmo curar a doença. Aderir à orientação médica pode prevenir complicações relacionadas à doença, reduzir o risco de hospitalizações futuras, melhorar a qualidade de vida e economizar recursos. Se você tiver alguma dúvida, antes de interromper o tratamento, comunique-se com o seu médico”, ressalta.
Sobre a coalizão para o Dia Mundial da Adesão
O Dia Mundial da Adesão é um movimento global dedicado a capacitar as pessoas a permanecerem no caminho certo de seus planos de tratamento e escolherem estilos de vida mais saudáveis. A iniciativa abrange diversos setores de atendimento, todos impulsionando um futuro melhor para a saúde cardiovascular.
A campanha disponibiliza uma plataforma para promover o movimento #DontMissAMoment, que reúne públicos de todo o mundo, interagindo com todos, desde pacientes, cuidadores, familiares e amigos à comunidade médica e formuladores de políticas.
Junte-se ao movimento #DontMissAMoment e aja por um futuro mais saudável. Para obter mais informações, visite o site da campanha
A coalizão reúne 15 parceiros até o momento. São eles:
- Federação Mundial do Coração
- Sociedade Europeia de Hipertensão
- Sociedade Europeia de Cardiologia
- Inoca Internacional
- Fórum Europeu de Diabetes
- Associação Cardiovascular Chinesa
- Conselho Internacional de Enfermeiros
- Sociedade Internacional de Hipertensão,
- Federação Farmacêutica Internacional (FIP)
- Federação Internacional de Diabetes,
- Centro Global do Coração
- Sociedade Internacional de Aterosclerose
- Associação Europeia para o Estudo do Diabetes
- Fórum Venoso Europeu
- Servier.
Sobre a Federação Mundial do Coração
A Federação Mundial do Coração (WHF) é uma organização guarda-chuva de cerca de 250 membros em mais de 100 países, representando a comunidade cardiovascular global e unindo
grupos de pacientes, médicos, cientistas e da sociedade civil. A missão tripla da WHF é conectar e liderar a comunidade cardiovascular, traduzir a ciência em política e estimular a
troca de conhecimento.
Com informações da SBC