Em ‘Central do Brasil’, filme que projetou o cinema nacional no circuito mundial de grandes produções, Fernanda Montenegro, a grande dama do teatro e do cinema nacional, vive Dora, uma ex-professora. Ela ganha a vida escrevendo cartas para pessoas analfabetas, que ditam o que querem contar às suas famílias. O filme expõe a realidade de um Brasil onde, naquela época, 14,7% da população acima de 15 anos não sabiam ler e escrever, sequer, um bilhete simples. Na década de 1960, quase 40% da população no Brasil era analfabeta.
No filme gravado na estação de trens do Rio de Janeiro, Dora embolsa o dinheiro sem sequer postar as cartas. Um dia, Josué (Vinicius Oliveira), o filho de nove anos de idade de uma de suas clientes, acaba sozinho quando a mãe é morta em um acidente de ônibus. Ela reluta em cuidar do menino, mas se junta a Josué em busca do pai que ele nunca conheceu, em uma viagem pelo interior do Nordeste. Naquele ano, a região apresentava a menor proporção de pessoas alfabetizadas (70,3%), contra 91% nas regiões Sudeste e Sul.
O filme que levou Fernanda Montenegro à indicação do Oscar de melhor atriz de 1999, para orgulho dos brasileiros, pode ser visto pela Globoplay. Mas desde ‘Central do Brasil’, muita coisa mudou na Educação brasileira, especialmente nos primeiros governos de Lula e Dilma Rousseff. Nos últimos 25 anos, a taxa de analfabetismo vem caindo no país. Segundo dados da última PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), caiu de 6,1% para 5,6% entre 2019 e 2022.
Entretanto, a taxa de analfabetos no país ainda preocupa. Se considerarmos os números absolutos, o número ainda é imenso e nos envergonha como nação. Em pleno século 21, o Brasil ainda tem tem quase 10 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever. Apesar da queda, o analfabetismo continua sendo uma questão grave que precisa ser combatida não apenas com políticas governamentais, mas de forma colaborativa e comprometida por parte de toda a sociedade.
Leia mais
Brasileiro lê menos de 5 livros por ano – e a maioria não termina
Falta de empatia ou analfabetismo emocional?
Mais de 20 mil meninas com menos de 15 anos engravidam todos os anos
A arte que imita a vida: cinema transforma
Nesta terça-feira (14), será celebrado o Dia Nacional da Alfabetização, data estabelecida no Brasil em 1960 em homenagem ao dia da criação do Ministério da Educação. E o país ainda tem muito que avançar para erradicar o analfabetismo. Mas o que estamos fazendo para mudar essa realidade? Felizmente, algumas iniciativas têm contribuído para isso. Para a diretora do Marista Escola Social, Irmã Lourenço, que atende gratuitamente crianças e adolescentes na Zona Leste de São Paulo, os desafios são diários.
“A educação tem que estar de portas abertas para esses alunos que podem possuir dificuldades na alfabetização e letramento. O olhar individual para cada uma das causas vai contribuir para que esses estudantes, sejam crianças, adolescentes ou jovens, possam aprender”, revela.
Muitos filmes, séries e livros abordam o tema da educação, sobretudo as questões de alfabetização e letramento. O cinema tem papel importante na transformação social. Além de ‘Central do Brasil‘, educadores recomendam quatro filmes e séries que abordam a alfabetização e letramento, mostrando os desafios desse trabalho ao redor do mundo.
“A discussão e a reflexão sobre um filme pode provocar trocas entre a vida real, histórias e personagens importantes que encontramos à nossa volta, e que podem ser semelhantes aos encontrados em obras cinematográficas”, revela a coordenadora dos Anos Iniciais do Colégio Marista Paranaense, Sheila Lippman.
4 dicas de filmes sobre alfabetização
No Ritmo do Coração
O filme retrata uma família que trabalha com pesca, em uma cidade litorânea dos EUA. Ruby, a filha mais nova e o único membro com audição da família, auxilia seus pais e irmão para viabilizar o trabalho. Após se juntar ao coral da escola, ela se apaixona pela música e seu maestro a incentiva a estudar em uma faculdade de música. Nesse cenário, Ruby deve escolher entre continuar ajudando sua família com o trabalho ou correr atrás de seu sonho.
Onde assistir: Prime Vídeo
Classificação – 14 anos
Matilda
A jovem Matilda (Mara Wilson) tem seis anos e meio, embora seus pais a negligenciem tanto que acreditam que ela ainda tem quatro anos. Ela, por conta própria, descobre o caminho até a biblioteca e, com a ajuda da equipe, transporta todos os seus preciosos livros em um carrinho vermelho infantil.
Onde assistir: Netflix
Classificação – 10 anos
Uma Lição de Vida
O filme “Uma Lição de Vida” é baseado em uma história real que narra a vida de Kimani Maruge (Oliver Litondo), um queniano que, aos 84 anos, toma a corajosa decisão de ingressar na escola, enfrentando, contudo, intensos níveis de preconceito e hostilidade por parte da comunidade local.
Onde assistir: Star Plus
Classificação – 12 anos
Como Estrelas na Terra
A história segue a vida de Ishaan Awasthi, um jovem que enfrenta desafios acadêmicos devido à dislexia. Mal compreendido por sua família e professores, sua vida muda quando encontra um professor compassivo, interpretado por Aamir Khan, que adota métodos inovadores para ajudá-lo. O filme destaca a importância de reconhecer e nutrir as habilidades individuais das crianças, transmitindo uma mensagem poderosa sobre empatia e compreensão no processo educacional, sendo aclamado por suas performances e narrativa comovente.
Onde assistir: Netflix
Classificação – 10 anos
Curiosidade
Aos 69 anos, Fernanda perdeu o Oscar de melhor atriz em 1999 para Gwyneth Paltrow, estrela de ‘Shakespeare Apaixonado’. Recentemente, aos 51 anos, a atriz americana chocou o público ao revelar que transformou sua estatueta do Oscar em um ‘peso de porta’ no jardim de sua casa.
Já Fernanda, aos 94 anos recém-completados, segue sua carreira no Brasil como uma das mais respeitadas atrizes – especula-se que seu salário na Globo gira em torno de 300 mil reais por mês.
Agenda Positiva
Programa leva alfabetização a comunidades no entorno de universidade
O Programa de Alfabetização e Letramento de Jovens e Adultos, do Instituto Yduqs, responsável por ações sociais em diversas unidades de ensino superior, já formou mais de mil alunos, da faixa etária entre 30 e 70 anos. A iniciativa conta com dezenas de coordenadores, professores e 80 alunos dos cursos de licenciaturas da Estácio e tem a atriz Malu Mader como embaixadora.
“A iniciativa está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de número 4, da Organização das Nações Unidas (ONU), cujo objetivo busca ajudar o indivíduo a exercer a sua cidadania. Nossa missão nessa parceria é combater o analfabetismo e erradicá-lo nas comunidades do entorno das instituições de ensino da Estácio”, comenta Cláudia Romano, presidente do Instituto Yduqs.
Em breve, serão abertas as inscrições para a 7ª edição do programa. As aulas serão realizadas a partir do primeiro semestre de 2024 nas Regiões Sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo); Nordeste (Natal e Salvador); Norte (Manaus) e no Centro-Oeste (Distrito Federal/Brasília). Somente no Rio, são nove endereços. Mais informações podem ser obtidas por meio do link.
Com informações de Assessorias