Um estudo divulgado este ano pela conceituada revista científica Lancet assustou a população mundial informando que nos próximos 30 anos haverá o dobro de pessoas diabéticas no planeta em relação aos dias de hoje. Isso significa uma projeção de 1,3 bilhão de pacientes com diabetes mellitus em 2050. De acordo com a Federação Internacional de Diabetes (IDF), o Brasil é o quinto país em incidência de diabetes no mundo – cerca de 17 milhões de pessoas (6,9% da população brasileira) – e até 2045 a estimativa de casos pode chegar em 23,2 milhões.

Outro dado relevante diz respeito à subnotificação da doença. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), cerca de 8 milhões desses pacientes ainda não sabem de seu próprio diagnóstico. Apesar de tantos números alarmantes, a desinformação e os maus hábitos de vida contribuem para a descompensação glicêmica e o aumento de incidência da condição. Especialistas alertam que complicações, como as doenças renais e cardiovasculares, são consequências das altas taxas de açúcar no sangue.

A melhor forma de controlar o DM e ter uma vida normal é conhecer melhor a doença para aprender a gerenciar a glicemia e aderir ao tratamento. Nesse sentido, quando não são amparados pelos profissionais de saúde, muitos pacientes com DM buscam informações não confiáveis na internet, o que pode gerar ainda mais dúvidas e confusões, além da possibilidade de uma piora do quadro clínico.

Por isso, neste Dia Mundial de Combate ao Diabetes, 14 de novembro, a seção Mitos e Verdades do Portal ViDA & Ação, que é publicada sempre às terças-feiras, selecionou 17 esclarecimentos importantes sobre a doença. Oito deles são descritos pelo endocrinologista e metabologista Levimar Araújo, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

A médica endocrinologista Mariana Pereira, consultora da Roche Diabetes Care, também esclarece as verdades do que significa conviver com o diabetes. Já Tassiane Alvarenga, endocrinologista e metabologista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), ainda dá dicas para saber quando é necessário investigar uma suspeita e como se dá o tratamento dessa doença.

“Você pode escolher o bom controle dessa doença todos os dias, não só nesta data. Plantar um estilo de vida saudável para colher saúde e qualidade de vida é uma decisão diária”, lembra a médica.

tipos, sintomas e diagnóstico

1. Pré-diabetes e diabetes são iguais

Mito – O diabetes é um grupo de doenças que resultam no alto índice de açúcar no sangue. Isso acontece quando o hormônio insulina, que regula a glicose e garante energia para o nosso organismo, passa a ser produzido em quantidade insuficiente pelo pâncreas ou se torna incapaz de produzir seu efeito2.

“Em alguns casos, quando os níveis de glicose no sangue estão mais altos do que o normal, entre 140 e 199 mg/dL na medição da glicemia pós-prandial (cerca de 2 horas após a refeição), mas ainda não o suficiente para caracterizar o diabetes, pode ser diagnosticado como pré-diabetes. Ou seja, este é um sinal de alerta para a doença”, ressalta Dr Levimar.

2. Existe mais de um tipo de diabetes e o tipo 2 não é uma evolução do tipo 1

Verdade – Apesar de serem ambos diabetes mellitus, DM1 e DM2 são causados por fatores diferentes. O DM1 concentra cerca de 5% a 10% de diagnósticos no Brasil e é causado por uma falha no sistema imunológico em que anticorpos atacam as células que produzem a insulina. É uma doença crônica não transmissível que aparece geralmente na infância ou adolescência.

Já o DM2 é uma doença crônica que influencia a maneira como o organismo absorve o açúcar do sangue, resultando na resistência à insulina, e atinge cerca de 90% da população com diabetes que convive com diabetes. Além disso, é mais comum em pacientes acima de 45 anos e que fazem parte de outros grupos de risco, como a obesidade, sedentarismo, entre outros.

3. Na maioria das vezes, os sintomas do diabetes 1 e 2 são similares

Verdade –  Fome e sede excessiva, boca seca, vontade frequente de urinar, perda de peso sem causa aparente, cansaço excessivo, demora na cicatrização de feridas, tontura e vômitos em alguns casos são alguns dos sintomas que podem caracterizar o diabetes.

“Os sinais podem ser similares, mas apenas um médico pode diagnosticar corretamente, por meio de exames clínicos e físicos de rotina, além de indicação de tratamento individualizado”, afirma Dr Levimar.  No entanto, é bom ressaltar que o diabetes, geralmente, não causa sintomas. “Em cerca de 50% dos casos, a doença fica assintomática nas suas fases iniciais e intermediárias”, segundo a médica.

Causas e fatores de risco do diabetes

4. Diabetes tem causa genética

Verdade – Já se sabe que há uma influência genética significativa na fisiopatologia do diabetes. Ter um parente de primeiro grau com a doença aumenta consideravelmente as chances de você ter também. O diabetes tipo 2 tem uma maior predisposição genética que o diabetes tipo 1. Dra. Tassiane explica: “Se um dos pais tem diabetes, ocorre uma chance três vezes maior de o filho desenvolver a doença ao longo da vida. Se pai e mãe possuem esta condição, o risco aumenta em seis vezes”.

5. Estresse pode subir a glicose no diabético

Verdade. De acordo com Dra. Tassiane, o estresse pode levar ao descontrole glicêmico (açúcar alto no sangue) por vários motivos. “A primeira razão tem causa hormonal: o estresse crônico aumenta o nível do hormônio cortisol, que ocasiona, dentre outras coisas, o aumento da gordura abdominal, que, por sua vez, aumenta o risco de diabetes“, explica ela.

A segunda razão, continua a médica, se revela justamente por meio do comportamento: “O estresse aumenta a fome, a gula e a ansiedade, o que faz o paciente ir em busca de alimentos ricos em calorias, como bolo, pizza, chocolate e massas, entre outros”, diz a especialista.

Cura e tratamento

6. Existem chás, alimentos e simpatias que curam o diabetes

Mito – O Diabetes Mellitus é uma doença crônica que não tem cura. “O que pode acontecer em casos da doença do tipo 2 é que a pessoa apresente, durante o tratamento, níveis estáveis de açúcar no sangue, que podem ser considerados como níveis normais”, destaca o Dr Levimar.

Para que isso aconteça, é fundamental a adesão ao tratamento e mudanças no estilo de vida. Por isso, a melhor forma de prevenir o diabetes é a partir de hábitos de vida saudáveis, como boa alimentação e prática de exercícios físicos, além do acompanhamento médico para o rastreamento de complicações, que podem aparecer devido ao diabetes descompensado.

“A adesão ao tratamento garante que o paciente permaneça saudável, não enfrente um agravamento no quadro clínico e tenha uma vida normal. O controle da glicemia, objetivo principal do tratamento da doença, é feito por meio de alimentação adequada e administração diária de insulina ou uso de medicamentos orais”, enfatiza Dra Mariana.

7. Diabetes não tem cura, mas é possível atingir a remissão da doença

Verdade – Nos casos do diabetes mellitus tipo 2, existem estudos que confirmam casos de remissão da doença. “Como essa variação da doença é desencadeada principalmente pela obesidade e excesso de gordura abdominal, a cirurgia que promove a perda de peso e a eliminação de tecido adiposo pode contribuir para a melhora do quadro clínico”, diz Mariana Pereira.

Porém, segundo Dr. Levimar, remissão não significa cura. “Mesmo com o diabetes controlado, com os índices de açúcar no sangue normais, a pessoa não deixa de ter diabetes. Por isso, ainda assim, é importante seguir com acompanhamento médico, a realização de exames para o acompanhamento glicêmico e adesão do tratamento para o controle da doença’.

Diabetes x alimentação

8. A doença atinge apenas idosos e pessoas que consomem muito açúcar

Mito – “Este é um mito popular equivocado que reforça um estereótipo negativo para as pessoas que convivem com a doença”, afirma o Dr. Levimar. Segundo ele, Os fatores de risco mais conhecidos são associados a causas genéticas e a fatores externos, relacionados ao estilo de vida. Pressão alta, colesterol alto ou alterações na taxa de triglicérides no sangue, sobrepeso.

Além disso, o uso de medicamentos da classe dos glicocorticoides e algumas doenças e transtornos psiquiátricos são fatores de risco para o desenvolvimento do diabetese indicam a necessidade de rastreio da doença. Entre elas, estão doenças renais crônicas, diabetes gestacional, síndrome de ovários policísticos, apneia do sono, esquizofrenia, depressão e transtorno bipolar.  

9. Comer muito doce causa diabetes

Mito – O Diabetes Mellitus tipo I é uma doença autoimune, em que ocorre a destruição das células pancreáticas produtoras de insulina, e isso não tem relação com a ingestão prévia de doces e outros açúcares. Já o Diabetes Mellitus tipo II está associado ao estilo de vida e predisposição genética hereditária, de forma que maus hábitos como obesidade e sedentarismo aumentam a probabilidade do desenvolvimento da doença, esclarece a Dra Mariana.

Já Tassiane lembra que 90% dos casos de diabetes são do tipo 2, que é desencadeado por fatores conjugados, como tendência genética, ganho de peso, alimentação errada e vida sedentária. “A ingestão de doces contribui com o excesso de calorias, a verdadeira razão do ganho de peso. Ainda assim, mesmo que o paciente não consuma muitos doces, outros alimentos como pães, arroz, massa ou qualquer item rico em carboidrato tem o potencial de estimular o ganho de peso e, por consequência, favorecer o risco de desenvolver diabetes“, pontua a endocrinologista.

Segundo ela, o consumo desses produtos em excesso, aliado à tendência genética e ao sedentarismo, por exemplo, pode estimular a doença. Ou seja, o principal fator de risco para desenvolver diabetes tipo 2 ao longo da vida é o ganho de peso.

10. A pessoa com diabetes não pode comer doces nem carboidratos
Mito – “Embora o diabetes seja uma doença causada pelo aumento da glicose no sangue, se o paciente com Diabetes Mellitus tipo I souber realizar a contagem de carboidratos e administrar corretamente a insulina, ele pode sim se alimentar de produtos que contenham açúcar”, afirma a Dra Mariana. O paciente com Diabetes Mellitus tipo II, que faz uso de medicamentos orais precisa ajustar sua dieta e fazer escolhas mais saudáveis, controlando a ingesta de carboidratos na maior parte das vezes.
11. Todo produto diet é liberado para os diabéticos

Mito – É preciso entender a diferença entre produtos diet e produtos light. Os alimentos diet se destinam a grupos populacionais com necessidades específicas e significa que o produto é isento de um determinado nutriente. Na maioria dos casos, os produtos diet são livres de açúcar, mas é importante comprovar se o nutriente retirado foi mesmo o açúcar, e não gordura, sódio ou outro componente.

O produto pode, ainda assim, apresentar calorias, tornando seu consumo sujeito a restrições para diabéticos. Além disso, os produtos dietéticos sem adição de açúcar podem conter outras formas de carboidratos que também interferem na glicemia, como frutose, lactose, amido ou maltodextrina. “O mais importante é usar com moderação e ficar sempre de olho na quantidade de carboidratos contida no produto”, recomenda a endocrinologista.

Por sua vez, os alimentos light são direcionados a pessoas que buscam uma alimentação mais saudável. Eles apresentam redução mínima de 25% em determinado nutriente ou calorias, quando comparado ao produto convencional. “A redução de calorias pode vir da diminuição no teor de qualquer nutriente (carboidrato, gordura, proteína), mas não quer dizer que seja sem açúcar”, alerta Dra. Tassiane.

 

relação com outras doenças

12. Pessoas com diabetes são propensas a desenvolver doenças renais e cardiovasculares

Verdade – De acordo com os dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN)diabetes é uma das principais causas de doença renal crônica (DRC) – dois em cada cinco pacientes com DM2 irão desenvolver a DRC. A estimativa de casos no Brasil é que mais de 12 milhões de pessoas tenham a condição. “Por ser, na maioria dos casos, assintomática nos primeiros estágios, a doença renal pode ser rastreada por meio de exame de sangue de rotina e de urina, Esse controle mostra-se indispensável para as pessoas que já convivem com o diabetes”, comenta o Dr Levimar.

Ainda segundo ele, as chances de pacientes com diabetes apresentarem algum evento cardiovascular é de duas a quatro vezes mais, em comparação aos sem diabetes. No entanto, pessoas com diabetes podem evitar complicações com os rins, coração e até mesmo com os olhos, por conta da retinopatia diabética. “O bom controle da glicemia é capaz de evitar todas as complicações”, garante a especialista Tassiane Alvarenga.

13. O Diabetes Mellitus tipo I está associado a outras doenças autoimunes

Verdade –Diabetes Mellitus tipo I é uma doença de origem autoimune e está frequentemente associado a outras doenças da mesma etiologia, tais como a tireoidite de Hashimoto, doença celíaca, doença de Addison e outros quadros relacionados com o mesmo determinante gênico.

14. Pacientes com diabetes têm maior probabilidade de ter Covid-19

Mito –  Até o momento não há estudos que indiquem que o paciente com Diabetes Mellitus tipo I ou II tenha maiores chances de ter Covid-19. O que se tem acompanhado é pessoas com diabetes descompensado, têm maior probabilidade de desenvolver quadros mais graves de COVID.

Prevenção e controle

15. Pacientes com diabetes devem ter mais atenção com a vacinação

Verdade –  O paciente com Diabetes Mellitus tem maior probabilidade de adquirir e desenvolver complicações graves de outras doenças, bem como é mais suscetível a doenças respiratórias como pneumonia e influenza. Por esse motivo é fundamental estar em dia com o calendário vacinal.

16. Atividade física ajuda no controle do diabetes
Verdade – A prática de exercícios físicos, aliada a uma alimentação saudável, deve fazer parte do nosso dia a dia. O exercício físico estimula a captação da glicose circulante pelas células musculares e melhora a ação da insulina, pois aumenta a sensibilidade ao hormônio. Além disso, a perda de peso promovida pelo exercício físico reduz a resistência celular à insulina e colabora para a captação da glicose e consequente redução da glicemia. Assim, com uma rotina adequada de atividade física, o paciente pode diminuir a dose de insulina ou antidiabético oral.
17. Diabetes controlado é o fator principal para uma boa qualidade de vida

Verdade – diabetes é desafiador e requer autocuidado e controle. Complicações como o desenvolvimento da doença renal crônica, podem ser silenciosas e permanecer assintomáticas durante anos. Por isso, é importante, não apenas para pessoas com diabetes, mas, para todas as pessoas manterem um estilo de vida saudável.

Ir ao médico e realizar exames de rotina para rastreamento precoce também é fundamental. Além disso, é necessário que os profissionais da saúde acompanhem a atualização de novas tecnologias, para que cada vez mais, as novas soluções de tratamentos contribuam para o gerenciamento de uma das mais prevalentes doenças da humanidade como o diabetes

Mais sobre o Diabetes Mellitus

Diabetes Mellitus é uma doença crônica, o mau controle da glicemia pode levar a quadros agudos de descompensação que pode levar à internação hospitalar e cronicamente este mau controle está relacionado às complicações como amputações, lesão nos rins e olhos, além de aumentar deste paciente ter algum evento cardiovascular.

Estima-se que até 2030 o Diabetes Mellitus seja a sétima causa mais importante de morte em todo o mundo. Por esse motivo é fundamental diagnosticar o paciente o mais cedo possível e educá-lo a respeito da doença a fim de obter uma boa adesão ao tratamento e reduzir as chances de complicações.

O DM tipo I acomete entre 5 e 10% do total de pacientes e costuma ser diagnosticado na infância ou juventude, mas pode acontecer em outras fases da vida. Já o Diabetes Mellitus tipo II é mais comum na idade adulta, em pessoas que têm parentes com este tipo de diabetes e tem relação com sobrepeso, sedentarismo e hábitos alimentares inadequados, o que reforça a importância de estimular uma rotina e dieta saudáveis a toda a população como forma de prevenção.

Quem deve investigar se pode estar com diabetes?

– Toda pessoa acima de 45 anos;

– Pacientes com menos de 45 anos que apresentem sobrepeso (IMC > 25 Kg/m2);

– Pessoas sedentárias;

– Quem tem histórico familiar de diabetes tipo 2;

– Pacientes HAS (Hipertensão Arterial Sistêmica), ou seja, pessoas com pressão alta;

– Pessoas com DLP (Dislipidemia): colesterol e triglicerídeos;

– Indivíduos com acantose nigricans, aquela mancha escurecida e aveludada no pescoço, virilha e axilas. Ela é um sinal de que o pâncreas está sobrecarregado;

– Crianças com sobrepeso e fatores de risco também devem ser investigadas.

Como faz para diagnosticar o diabetes?

Teste de glicemia em jejum;

Teste oral de tolerância a glicose (1 copo com 75g de glicose): medir a glicemia 2 horas depois;

Hemoglobina glicada: exame que fornece a média da glicemia dos últimos 3 meses e se torna um excelente parâmetro para avaliar se o diabetes se encontra ou não bem controlado;

Teste DXT acima de 200, com muita ingestão de água, urinando em excesso, fome e perda de peso

Pilares fundamentais para o tratamento de diabéticos

A pacientes que usam medicação, a Dra. Tassiane pede atenção: “O ideal é usar um remédio que controle o açúcar, mas que também ajude o paciente a emagrecer”, diz ela, ao pontuar que a obesidade é um dos grandes fatores fortalecedores da doença”.

Para ela, a medicação deve, ainda, ajudar na diminuição da circunferência abdominal (barriga), no controle da pressão arterial e dos níveis de colesterol e triglicerídeos, além de diminuir a chance de infarto e AVC, a principal causa de morte no Brasil e no mundo.

1) Alimentação saudável

2) Atividade física

3) Medicação correta

4) Parceria médico-paciente visando um controle da saúde global

5) Equilíbrio entre estresse e felicidade

Com Assessorias

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