Segundo o mais recente Boletim Epidemiológico HIV/AIDS 2020, entre 2009 e 2019 houve um aumento de 74,8% na detecção de casos de HIV entre jovens de 20 a 24 anos na contramão na queda de 17,2% de detecção do vírus da Aids na população em geral no mesmo período.

Para Carolina Parisotto, mulher trans, advogada, “o momento da tomada de conhecimento do diagnóstico é bastante delicado em muitos sentidos”. Leonardo Moura, jovem ativista, gay, diz que muitas coisas mudam na vida de uma pessoa, especialmente jovem, quando descobre que está vivendo com HIV. “Uma mudança importante é a falsa percepção de que não devemos mais fazer parte da sociedade e como consequência acabamos nos isolando”, conta.

Carolina e Leonardo são coautores do “Viver em Positivo: Guia rápido para jovens vivendo com HIV e seus direitos”, que o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) lança neste Dia Mundial da Juventude (12 de agosto).  Escrita usando uma linguagem acessível ao público, a publicação quer oferecer um material com informações e sugestões essenciais sobre o acesso a direitos sociais, zero discriminação e participação social a jovens vivendo com HIV/AIDS.

Diretora e representante do Unaids no Brasil, Claudia Velasquez explica que o documento aborda temas como direitos sociais e políticas públicas voltadas para jovens vivendo com HIV/AIDS, com indicações importantes relacionadas ao que fazer após receber o diagnóstico positivo para o HIV e como ter acesso aos serviços de saúde e previdência social e de apoio psicológico, entre outros.

“A participação social e o trabalho por um mundo com zero discriminação são outros temas abordados pelo guia, o que está relacionado com a estratégia do Unaids de colocar as pessoas no centro a fim de acabar com a AIDS até 2030. Nesse sentido, foi muito importante trazer a sociedade civil, por meio de lideranças jovens, para coliderar este processo”, afirma a representante do Unaids.

Jovens com HIV/Aids escreveram guia

A publicação nasce a partir da experiência do “Programa de Estágio Profissional Afirmativo”, uma ação inédita do Unaids voltada para garantir que pessoas pertencentes às populações-chave para o HIV pudessem ter a oportunidade de trabalhar com o tema, adquirir novas competências e habilidades nas áreas de atuação do programa e, dessa forma, potencializar o alcance de seus objetivos profissionais. As duas primeiras pessoas que fizeram parte do programa lideraram a iniciativa e co-escreveram o guia.

“Acredito que o guia vai auxiliar as juventudes a construir os diversos caminhos possíveis para uma vida digna e que nossos direitos possam ser respeitados”, diz Leonardo, ex-estagiário de comunicação do Unaids Brasil, estudante de serviço social e membro da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids.

Para Carolina Parisotto, ex-estagiária de operações do programa, ter participado do processo de construção dessa cartilha foi importante por causa de todo o aprendizado, principalmente relacionado aos direitos de pessoas vivendo com HIV/AIDS. “Por isso, a existência de materiais informativos com uma linguagem direcionada ao público jovem tem um potencial enorme de esclarecer dúvidas e facilitar o acesso a serviços públicos e outros direitos”, disse ela.

Colaboração de lideranças jovens:

A redação final do guia contou com a colaboração de lideranças jovens da sociedade civil e o apoio de influenciadores. Em grupo focal, Leonardo Moura e Carolina Parisotto lideraram um espaço de escuta para que as pessoas convidadas validassem o conteúdo, colaborassem com sugestões sobre formato e conteúdo, além do compartilhamento sobre como o guia “Viver em Positivo” dialoga com as realidades de cada pessoa e de seus pares.

Para San Diego Oliveira Souza, da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids, acrescenta que a iniciativa surge como “um farol de informação num mundo cheio de embaraços”. “A conscientização é um meio de combater o estigma sobre o HIV+ e, consequentemente. É um incentivo à participação da juventude como agente transformadora na sociedade”, completa Thais Albuquerque, advogada, pós-graduanda em Direito Internacional, representante da International Youth Alliance for Family Planning Brazil (IYAFP).

Ativista trans, pesquisadora, membro do Comitê Técnico Estadual de Saúde LGBT do Rio Grande do Sul, integrante do Coletivo Transfeminista e do ambulatórioT de Porto Alegre, Sophie Nouveau Guerreiro reforça a necessidade não só de promover o tratamento, mas a informação de qualidade. “O compromisso de profissionais de saúde não se resume a ofertar um tratamento, mas também nutrir de informações as pessoas que vivem com HIV, lutando junto contra a discriminação e o preconceito”.

Para Moisés Moises Maciel, da Rede Global de Jovens Vivendo com HIV (Y+ Global), o guia ajuda jovens vivendo com HIV a reconhecer direitos, além de responder a muitas de suas dúvidas quando recebem o resultado positivo. “É muito importante ter um material específico sobre direitos e juventude com informações sobre HIV e saúde sexual para esclarecer dúvidas e abrir diálogo”. O grupo também teve participação de Denise Santos Soares, coordenadora nacional da Articulação Brasileira de Jovens LGBT (ART JOVEM LGBT).

Acesse o Guia “Viver em Positivo”

 

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