Uma doença que atinge mais de 1 milhão de pessoas no Brasil, segundo dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), recentemente passou a ser um tema mais abordado por conta da participação da modelo de Minas Gerais Natália Deodato na edição de 2022 do reality show Big Brother Brasil (BBB). A mineira possui vitiligo, uma doença que provoca manchas brancas na pele, e passou a falar abertamente sobre a doença e derrubar os tabus que tomavam conta do assunto anos atrás.

O vitiligo é uma doença muito mais comum do que se pode imaginar, mas nem sempre é possível prever o diagnóstico. O principal sintoma é o aparecimento de manchas brancas causadas pela perda da pigmentação natural da pele. Isso ocorre porque o próprio organismo acaba com as células que produzem a melanina, encarregada pela cor do corpo e proteção contra radiação UV. Por isso, a pele acaba ficando mais desprotegida e sensível, e pede por cuidados cotidianos e exclusivos.

Embora não seja uma doença contagiosa, ainda há preconceito em relação ao vitiligo, uma doença autoimune e sem cura. Por conta das manchas brancas que se alocam em determinadas partes do corpo, muitos acham que essa doença pode ser transmissível. Mas é um engano. “Quem sofre de vitiligo também não tem limitações físicas ou cognitivas”, explica o médico dermatologista Rafael Soares.

BBB Natália faz com naturalidade sobre vitiligo, doença que causa manchas esbranquiçadas na pele (Foto: Reprodução de internet)

Saiba mais sobre a doença

Diante do preconceito pela falta de informação sobre o vitiligo, um dos maiores desafios enfrentados pelos pacientes é o impacto na saúde mental, já que as mudanças na aparência podem levar à baixa na autoestima.

Por isso, ViDA & Ação reuniu uma série de informações de especialistas a respeito para ajudar você a conhecer mais sobre a doença e a abandonar qualquer tipo de preconceito em relação à doença. Confira:

O que é vitiligo? 

O vitiligo é caracterizado pela alteração da função ou ausência de melanócitos, que são as células responsáveis pela produção de melanina, que é o pigmento que dá a cor à pele, cabelo, pelo e olhos.

“Devido à ausência de produção de melanina, há o aparecimento de manchas esbranquiçadas com localização e distribuição características, principalmente nas mãos, pés, joelhos, rosto e cotovelos. Em alguns casos, pode haver descoloração de cabelo e pelo e alteração na sensibilidade do local. Isso possibilita o diagnóstico essencialmente clínico”, ressalta Renata Bertino, dermatologista e docente do Idomed.

Vitiligo pega?

“Muito importante ressaltar que o vitiligo não é contagioso! Uma vez que não é causado por nenhum microrganismo, não há qualquer risco de contágio quando se toca na pele de uma pessoa com essa alteração de pele”, afirma 
“A doença se caracteriza pela perda da pigmentação natural da pele, que se torna branca (hipocrômica ou acrômica). Pode ser segmentar, localizada ou generalizada”, diz a dermatologista Paula Rahal, da Clínica Otávio Macedo e Associados, de São Paulo.

O que causa?

Apesar da sua causa ainda não estar esclarecida, acredita-se que seja uma doença autoimune, em que o corpo produza anticorpos contra os melanócitos (células que produzem a melanina, responsáveis pela pigmentação). “Trata-se de uma patologia idiopática. Ou seja, ocorre de modo espontâneo, sem razão aparente e não se forma a partir de outra doença”, ressalta Dra Paula.

Estudos mostram que a doença está relacionada aos fatores genéticos, ambientais e imunológicos, podendo ser desencadeado por alterações autoimunes. “Sabe-se que outros fatores estão envolvidos e que o estresse, trauma, medicações, exposição química e histórico familiar podem estar associados ao aparecimento da doença – cerca de 30% dos pacientes têm algum parente com a doença”, diz o dermatologista Otávio Macedo.

Todo o corpo é afetado?

Segundo Dr Rafael, o maior impacto da doença no corpo é realmente estético: “As manchas brancas são ocasionadas pela falta de melanina, que é o pigmento da derme. Podem ocorrer tanto em uma parte segmentada do corpo, como por toda a extensão da pele”, explica o especialista.
“Há diferenças entre os quadros da doença, pois as manchas podem se manifestar em várias áreas. Existe a manifestação segmentada ou unilateral, ou seja, as manchas se formam só em um lado do corpo. E também a não segmentada ou bilateral, na qual as marcas aparecem em duas partes ou lados do corpo”, completa Dra Paula.

É mais comum em negros?

De acordo com os especialistas, os sinais do vitiligo podem acontecer em qualquer época da vida, mas costumam aparecer antes dos 30 anos de idade. A doença afeta homens e mulheres na mesma proporção.
Os sintomas podem surgir em qualquer tipo de pele, embora seja mais frequente e perceptível em pessoas de fototipos mais altos, que apresentam a pele mais escura (morenos, pardos e negros).

Vitiligo dói?

A maioria dos pacientes não manifesta qualquer sintoma além do surgimento de manchas brancas na pele. Entretanto, em alguns casos, os pacientes relatam sentir sensibilidade e dor na área afetada.  

Outro fator relatado pelos pacientes é o aumento da sensibilidade da região despigmentada, o que exige mais cuidados, principalmente tratando-se de proteção solar.

Como diagnosticar? 

O diagnóstico normalmente é clínico e deve ser feito por um dermatologista, que irá determinar o tipo de vitiligo do paciente, verificar se há alguma doença autoimune associada e indicar a terapêutica mais adequada.

O diagnóstico pode ser feito também com ajuda de alguns dispositivos como a Lâmpada de Wood para identificar as áreas de vitiligo, que emitem fluorescência específica quando submetidos à luz UV. O equipamento geralmente permite verificar a presença de lesões em peles mais claras.

É importante também que sejam realizados exames de sangue, principalmente imunológicos, para verificar se há alguma indicação de que o vitiligo está relacionado às alterações autoimunes. 

Em alguns casos, para realizar o diagnóstico diferencial com outras doenças de pele, o médico pode indicar a realização de biópsia das manchas, principalmente para investigar a presença ou ausência de melanócitos.

Vitiligo tem cura? 

O fato de não se falar em cura, não quer dizer que não existam várias opções terapêuticas. Existem várias formas de tratamento que ajudam a melhorar a aparência da pele, reduzindo a inflamação do local e estimulando a repigmentação das regiões afetadas, como imunossupressores, corticoides ou fototerapia, por exemplo. 

O tratamento do vitiligo é individualizado e deve ser discutido com um dermatologista, conforme as características de cada paciente. Os resultados podem variar consideravelmente entre uma pessoa e outra.  Por isso, somente um profissional qualificado pode indicar a melhor opção. “O paciente tem que acreditar e buscar ajuda médica. Atualmente, existem resultados excelentes no tratamento da doença”, destaca Dra Renata. 

Pode tomar sol?

Uma dica importante é alertar que as áreas sem melanina são mais suscetíveis aos raios solares! Por isso, é importante que a pessoa use roupas que cubram essas regiões e, caso não seja possível, que faça uso de protetor solar com fator de proteção  (FPS) mais alto. Em alguns casos, é possível também disfarçar as regiões mais esbranquiçadas com maquiagem, sendo indicado que seja utilizado um produto com FPS. 

Em alguns casos, pode ser interessante ter acompanhamento psicológico, principalmente no caso das crianças, pois podem achar que são diferentes em relação às outras pessoas. Além disso, por mais que não seja uma doença contagiosa, é possível que exista preconceito, o que pode também fazer com que o processo de aceitação seja mais difícil. 

Dá para prevenir?

Não existem formas de prevenção do vitiligo. Como em cerca de 30% dos casos há um histórico familiar da doença, os parentes de indivíduos afetados devem realizar vigilância periódica da pele e recorrer ao dermatologista caso surjam lesões de hipopigmentação e/ou esbranquiçadas, a fim de detectar a doença precocemente e iniciar cedo o tratamento.  

Em pacientes com diagnóstico de vitiligo, deve-se evitar os fatores que possam precipitar o aparecimento de novas lesões ou acentuar as já existentes. Evitar o uso de roupas apertadas, ou que provoquem atrito ou pressão sobre a pele, e diminuir a exposição ao sol. Controlar o estresse é outra medida bem-vinda. 

Tratamento pode incluir transplante de células-tronco

Quanto ao tratamento, depende do tamanho das lesões, tempo de desenvolvimento e estabilidade da doença. Pode ser feito com cremes tópicos, medicação oral, fototerapia.

No entanto, a resposta com esses tratamentos pode ser mais demorada. Mas novas terapias vêm tendo bons resultados, como enxertos de peles ou de células tronco da pele normal para áreas de vitiligo. “O transplante de células tronco retiradas dos folículos pilosos estão sendo cada vez mais utilizados”, diz Paula Rahal.

Uma amostra de pele de tecido sadio é retirada e levada a um centro de referência para expansão celular biológica e então milhares de células tronco são aplicadas nas áreas acometidas com seringa. O número de sessões e o intervalo entre elas varia de acordo com o tamanho e severidade do vitiligo.

“Acredita-se que melanócitos vindos da área doadora migram para a superfície da pele e assim são capazes de fazer a repigmentação. Essa técnica deve ser considerada não só pelos resultados encorajadores, mas também para ajudar a garantir uma melhor adesão ao tratamento, que costuma ser longo e duradouro”, afirma Paula.

Hidratantes são aliados de quem tem vitiligo

“Sem o uso do protetor solar, a área branca tende a ficar mais vermelha e com indícios de ardência, pois recebe muito mais radiação UV na região desprotegida, podendo desencadear complicação mais grave como câncer de pele”, explica a esteticista dermaticista, Patrícia Elias. “A melhor recomendação é usar filtro solar todos os dias, até mesmo durante os climas nublados e com chuva. O fator dos protetores deve ser sempre maior que 50 com aplicação a cada 2 horas”.

Segundo a esteticista, a textura do protetor solar pode ser variada entre creme, gel ou toque seco. Esse detalhe varia de acordo com o tipo de pele de cada pessoa. A recomendação também se destaca para o uso de protetores com cor, que possuem uma camada de proteção mais ampla.

Patrícia também destaca que os cremes hidratantes com antioxidantes são grandes aliados de quem possui vitiligo, especialmente durante o inverno. “Manter uma hidratação reforçada é essencial na época mais fria do ano, uma vez que a pele ressecada é mais propensa a alergia e infecções”, aponta a especialista. “No rosto, a escolha do tipo de creme não interfere na doença, então o ideal é procurar por produtos que se adequam a cada tipo de pele: oleosa, mista ou seca”, finaliza.

Patrícia alerta que, para montar uma rotina de skincare, o ideal é procurar um bom profissional da área da estética.

Curiosidade

A doença de Michael Jackson

Sucesso nos anos 80, o cantor Michael Jackson descobriu que sofria de vitiligo durante a adolescência, fato que provocou problemas emocionais no astro do pop. Devido a variabilidade da doença, algumas pessoas possuem mais manchas brancas do que as outras.

De acordo com a biografia de Michael Jackson produzida por Randy Taraborrelli, no caso do cantor, o vitiligo afetou a maior parte da sua pele, então Michael realizou procedimentos estéticos para clarear as poucas partes da sua pele que permaneceram intactas.

Essa é uma das razões pelas quais Michael Jackson vivia sob guarda-chuvas, sempre usava roupas que cobriam a maior parte do seu corpo (como luva e meias) e também utilizava muita maquiagem.

Com Assessorias

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