O Brasil possui o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo, com mais de 5,6 milhões de pessoas voluntárias cadastradas no Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea). Mas a chance de encontrar um doador compatível entre não aparentados é de uma em cada 100 mil, segundo o Ministério da Saúde. Entre irmãos, a chance é de cerca de 25%.
O transplante de medula óssea (TMO) é o tratamento para cerca de 80 doenças do sistema sanguíneo e imunológico, como leucemia, falências medulares adquiridas e hereditárias, imunodeficiências primárias e doenças raras. Hoje, 650 pessoas aguardam por um transplante de medula óssea (TMO) no país.
Desde 2014, o o Dia Mundial do Doador de Medula Óssea (World Marrow Donor Day), conhecido como WMDD, é celebrado no terceiro sábado de setembro que, neste ano, ocorre no dia 16 de setembro. A data foi criada pela Associação Mundial de Doadores de Medula (World Marrow Donor Association – WMDA), uma organização global de registros de células-tronco do sangue, medula e sangue do cordão umbilical.
A WMDA reúne organizações que representam mais de 39 milhões de doadores de medula em 55 países diferentes, entre eles o Brasil, por meio do Redome (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea). O objetivo principal da comemoração é agradecer a todos os doadores e destacar a cooperação global pelo TMO.
A data tem o intuito de conscientizar as pessoas sobre a importância da doação, que pode ser essencial para a cura de doenças como leucemia, linfomas e alguns tipos de anemias e para salvar vidas, como a de Wellington, de 40 anos. Diagnosticado com leucemia aos 37 anos, ele conta que descobriu a doença quando estava me preparando para correr uma meia maratona em uma montanha e estava cuidando da saúde.
‘Ou você luta ou você desiste’, disse médico a paciente com leucemia
“Uma semana depois da corrida de 21 quilômetros que fiz, comecei a sentir uma exaustão, um cansaço muito grande. Depois, tive febre, suor noturno e fui buscar um médico desconfiando que eu estava com dengue, mas, depois do exame de sangue, descobrimos a leucemia”.
Ao ter conhecimento do diagnóstico, a vida de Wellington mudou por completo, porque ele teve que ficar internado logo no mesmo dia. Foram 30 dias internado e já iniciou o processo de quimioterapia.
“Meu médico me disse: ‘ou você luta, ou você desiste’. Escolhi a primeira opção e, a partir dali, por ser uma pessoa muito curiosa, fui buscar entender em detalhe o que era a leucemia e como funcionava o transplante. Todas as vezes que eu lia um relato e a pessoa dizia que se curou, eu acreditava que isso aconteceria comigo também. Também tive um amparo médico muito grande, que fez com que eu me tranquilizasse porque no transplante estava a possibilidade da minha cura. E foi o que aconteceu”, conta.
Wellington destaca a importância dos pacientes não desistirem de nenhuma das etapas do tratamento.
“Eu diria para que as pessoas que estiverem em tratamento sigam os médicos, o tratamento, se apeguem à fé, no caso de terem alguma, e que enfrentem com confiança as diferentes etapas do tratamento, porque hoje existem muitos caminhos para a cura e a doação de órgãos é uma delas. Por isso, é tão importante que esse banco de doadores cresça”, afirma.
Quem precisa receber transplante de medula
O transplante de medula óssea é indicado para portadores de doenças onco-hematológicas: leucemias, síndrome mielodisplásica, linfomas e mieloma múltiplo e alguns tumores sólidos, doenças benignas, como falências medulares, imunodeficiências congênitas, hemoglobinopatias e doenças autoimunes.
“A doação de medula óssea é importante para o tratamento de pacientes com doenças que comprometem a produção normal de células sanguíneas, como as leucemias, além de portadores de aplasia de medula óssea e síndromes de imunodeficiência congênita”, detalha o médico nefrologista Alexandre Tortoza Bignelli, coordenador do Serviço de Transplante Renal do Hospital Universitário Cajuru (HUC), em Curitiba.
Roberto Luiz da Silva, hematologista na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, destaca que a medula óssea utilizada para realização do transplante pode curar diversas doenças além das citadas anteriormente.
“A medula óssea é uma substância gelatinosa presente no interior dos ossos, capaz de produzir as células sanguíneas, glóbulos vermelhos, plaquetas e glóbulos brancos. Quando o paciente recebe a medula óssea ou células tronco hematopoéticas, o organismo passa a produzir essas células de forma saudável novamente”, comenta ele.
Incentivo a maior número de doadores negros, asiáticos e indígenas
Segundo o Dr. Roberto, há necessidade de se incentivar um maior número de doações na região norte e de doadores negros, asiáticos e indígenas, aumentando assim as probabilidades de se encontrar um doador, pois o Brasil possui grande miscigenação.
A médica transplantadora Fernanda Benini, do Hospital Pequeno Príncipe, ressalta a importância de doadores que representem a miscigenação brasileira, com todas as raças e etnias. “Desta forma, maiores são as chances de encontrar um doador compatível”.
Fundadora da Ameo (Associação da Medula Óssea), a médica hematologista Carmem Vergueiro, explica que há cerca de 20 anos não tínhamos no Brasil um banco de doadores de medula, ou testes de compatibilidade, sofisticados que pudessem facilitar os transplantes.
“Hoje, as possibilidades de cura ou fornecimento de mais qualidade de vida aos pacientes são enormes. Temos bancos de doadores muito ricos. Os tratamentos estão disponíveis gratuitamente à população pelo Sistema Único de Saúde, o SUS, algo que é muito valioso e importante. É um enorme diferencial disponível no Brasil. É muito importante que esse banco seja permanentemente renovado”, diz ela.
Para ser um candidato a doador de medula óssea é necessário, antes de tudo, realizar o cadastro, mas os hemocentros revelaram que houve uma redução de quase 30% na procura para se tornar um voluntário. Os números foram um reflexo do medo de contágio e de diagnosticados com o novo coronavírus ou com histórico de síndrome respiratória aguda grave serem contraindicados para doação.
Como ser um candidato a doador de medula óssea
Não apenas após a morte, mas também em vida, qualquer um pode ser doador de medula óssea. Para isso, basta entre 18 e 35 anos de idade, estar em bom estado geral de saúde, não ser portador de doenças infecciosas ou incapacitantes, câncer, condições hematológicas ou do sistema imunológico. Algumas condições de saúde impedem a doação, por isso, é importante que cada caso seja devidamente analisado e o doador deve ser avaliado por um médico, fazer um cadastro no Redome e obter o cartão de doador.
“Os voluntários devem se ater a manter seu cadastro atualizado (telefone, endereço, e-mail). Assim, quando houver compatibilidade o doador será contatado”, informa Wellington Azevedo, hematologista do Grupo Oncoclínicas.
A doação de medula óssea é um procedimento de baixo risco e, dependendo de alguns fatores, pode ser realizada pelo sangue periférico através de um processo chamado de citaférese ou pela coleta da medula óssea nas cristas dos ossos ilíacos, sob anestesia geral.
“É um processo feito em centro cirúrgico que requer internação de 24 horas. Para ser doador é necessário ter entre 18 e 60 anos de idade, estar em bom estado geral de saúde, não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico”, elucida Azevedo.
Receptor de medula óssea: como é o transplante
O transplante de medula óssea pode ser autólogo, quando as células transplantadas são do próprio paciente, ou alogênico, quando são transplantadas células de um doador parente ou não aparentado. Encontrado um doador compatível, o receptor passa, antes do transplante, pela quimioterapia.
“Dependendo do caso clínico, é feita radioterapia no corpo inteiro para tratar a doença de base e enfraquecer seu sistema imunológico para aceitar as células do doador”, descreve dr. Wellington Azevedo.
“Só então, e quando o paciente estiver sem infecções, se alimentando e se hidratando adequadamente, o que pode levar até 90 dias, ele receberá alta hospitalar”, relata o hematologista.
Transplante de Medula Óssea: como ser um doador e ajudar a salvar vidas
O Hospital Pequeno Príncipe, que é referência nacional em transplante de medula óssea em crianças e adolescentes – em 2022, foram feitos 56 transplantes p reforça a importância da doação e responde às principais dúvidas sobre o tema:
Quais são os requisitos para ser doador de medula óssea?
– Ter entre 18 e 35 anos, para efetuar seu cadastro.
– Estar em bom estado geral de saúde.
– Não ter infecções ou doenças impeditivas para doação. Confira a lista completa aqui.
Como ser doador de medula óssea?
– Procurar o Hemocentro do seu estado, com um documento de identidade, preencher uma ficha com informações pessoais e realizar a coleta de amostra de sangue (10ml).
– O sangue é analisado por exame de histocompatibilidade (HLA), e os dados pessoais são incluídos no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).
– Quando houver um possível paciente compatível, o doador será consultado para decidir quanto à doação. Por isso, a importância de manter o cadastro atualizado.
– A doação ocorre após a realização de outros exames de compatibilidade e avaliação clínica da saúde do doador.
– Os custos envolvendo despesas do doador voluntário e seu acompanhante, como deslocamento, alimentação e estada, são de responsabilidade do Redome.
Como é feita a coleta da medula óssea?
Uma das preocupações comuns entre os potenciais doadores é se a coleta de medula óssea dói. A boa notícia é que o procedimento é realizado sob anestesia, o que significa que o doador não sente dor. Existem duas formas de coleta, que é definida pelo médico responsável. A recuperação é tranquila, e o retorno à rotina habitual é rápido, sem nenhum impacto na saúde do doador.
– Coleta por punção aspirativa: uma agulha é inserida na região posterior do osso da bacia, e uma pequena quantidade de medula óssea é aspirada. Esse processo dura cerca de 30 minutos, é realizado no Centro Cirúrgico com anestesia e requer internamento de 24 horas. Pode ocorrer uma leve dor no local, que é aliviada por meio de analgésico.
– Coleta por aférese: o doador recebe um medicamento para aumentar a produção de células-tronco na medula óssea, que são então coletadas por meio de um procedimento similar à doação de plaquetas ou plasma. Esse processo pode levar algumas horas. Pode ocorrer pequenos desconfortos, como náuseas, dormência e hematoma no local do acesso.
Com Assessorias
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