Agosto está chegando ao fim, mas as lições deixadas pela campanha Agosto Branco devem ser lembradas todos os dias. O mês traz um alerta para um dos cânceres mais incidentes na população: o câncer de pulmão, a principal causa de morte por câncer no mundo, com cerca de 1,8 milhão de mortes e cerca de 2,5 milhões de novos casos anualmente, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
No Brasil, este é o terceiro mais frequente entre homens e o quarto entre mulheres, atrás apenas dos cânceres de próstata, de mama e de pele, mas é o mais letal de todos. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2000 e 2022, o número de mortes por câncer de pulmão mais que dobrou, atingindo 30 mil óbitos anuais. Isso resulta em uma taxa de mortalidade de 8 a 14 mortes por 100 mil habitantes.
Estudos realizados pela Fundação do Câncer mostram que o tabagismo é responsável por 80% das mortes por câncer de pulmão em ambos os gêneros no Brasil. O tabagismo é responsável também por aproximadamente 80% dos casos de câncer de pulmão, traqueia e brônquios. No país, 9,3% dos adultos são fumantes, tornando o câncer de pulmão uma das neoplasias mais comuns e letais também entre essa população. Atualmente, são registradas mais 28 mil mortes pela doença anualmente no país, sendo que apenas 15% dos pacientes são diagnosticados nos estágios iniciais.
Tabagismo responde por 80% das mortes por câncer de pulmão
Cigarros – incluindo os eletrônicos – são responsáveis por 85% dos casos da doença. Especialistas alertam para riscos
Por isso, além da conscientização sobre o câncer de pulmão, o Agosto Branco traz à pauta também o combate ao tabagismo. A campanha coincide com o Dia Nacional do Combate ao Fumo (29/8), o principal fator de risco associado ao câncer de pulmão – cerca de 85% de pessoas com esse tumor são fumantes. Especialistas alertam que é muito importante conscientizar a população sobre os riscos do tabagismo.
Guilherme Harada, oncologista e especialista em tumores torácicos, cabeça e pescoço do Hospital Sírio-Libanês, esclarece que, com exceção do fator de histórico familiar, trata-se de uma doença potencialmente evitável.
O principal fator de risco para o câncer de pulmão é o tabagismo, estando associado em cerca de 85% dos casos diagnosticados. Além disso, há ainda a exposição passiva ao tabaco e a agentes carcinogênicos, como asbesto, arsênico, berílio, cádmio, por exemplo”, afirma.
Para Daniel Bonomi, diretor Científico da SBCT, professor de Cirurgia Torácica da Faculdade de Medicina da UFMG, os números evidenciam como “é necessário ampliar a discussão sobre essa doença grave, que já conta com tratamentos específicos e eficazes”.
Não é todo mundo que fuma que vai ter câncer de pulmão, mas esse é um fator de risco predominante, já que os fumantes têm até 30 vezes mais chances de desenvolver esses tumores”, descreve o cirurgião torácico do Hospital Edmundo Vasconcelos, Mario Claudio Ghefter.
Risco dos cigarros eletrônicos para o pulmão
O Brasil tem sido muito bem-sucedido nos últimos 30 anos em suas políticas de controle do tabagismo, apresentando redução significativa com 12,5% da população fumante atualmente, uma média sete pontos percentuais menores que a média global, segundo a plataforma Progress Hub, da OMS.
Porém, a Medicina tem apresentado uma grande preocupação nos últimos anos com os cigarros eletrônicos, ou vapes, cujo uso tem sido associado a uma dependência ainda maior da nicotina. Os especialistas chamam atenção também para o uso dos cigarros eletrônicos, tão prejudiciais quanto o cigarro.
Estudos mostram que as novas gerações de Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEF) possuem diversas substâncias tóxicas, representando graves riscos cardiovasculares, respiratórios e, principalmente, de desenvolvimento de cânceres.
Os DEFs ampliam as formas de apresentação e consumo do tabagismo, a principal causa de morte evitável no mundo, responsável por 85% dos casos de câncer de pulmão”, afirma Daniel Bonomi.
Mario Claudio Ghefter faz um alerta especialmente aos mais jovens sobre os perigos desses aparelhos.
Ainda nem conhecemos todos os seus malefícios, mas já há uma doença denominada como Evali nos Estados Unidos, que corresponde à lesão pulmonar associada ao uso do cigarro eletrônico ou produto vaping, que tem sido mortal. Já há notícias de diversos jovens que morreram por conta do cigarro eletrônico e é grande a possibilidade de aumentar a incidência de câncer de pulmão por conta disso”, destaca.
Segundo o médico, é importante salientar que o tabagismo não é apenas uma questão de escolha individual, já que as doenças causadas pelo fumo envolvem toda a sociedade e envolvem custos elevados também para a saúde pública.
O desafio do diagnóstico precoce
O câncer de pulmão é o que mais mata no mundo e que esse dado revela o tamanho do desafio na busca do diagnóstico precoce e da prevenção. O grande alerta apontado por Mario Ghefter diz respeito à falta de sintomas apresentados pelo câncer de pulmão em suas etapas iniciais.
Os sintomas nunca são iniciais. Eles sempre aparecem na fase tardia da doença quando as chances de cura diminuem muito. Nesses casos os sintomas já são graves como dores, tosse com sangue, falta de ar e outros sintomas decorrentes da metástase para outros órgãos. Por isso, é essencial realizar o diagnóstico precoce. A detecção precoce do câncer sempre colaborará para aumentar as chances de cura”, explica.
Cessação do tabagismo pode reduzir a mortalidade da doença em 38%
Diante disso, reforça-se a importância do rastreamento. “Pessoas entre 50 e 80 anos com histórico de tabagismo, sendo fumantes atuais ou que pararam nos últimos 15 anos, com uma carga tabágica de 20 maços-ano ou mais, fazem parte de um grupo que precisa desse acompanhamento mais de perto”, explica Harada.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), o rastreamento precoce por tomografia aliado à cessação do tabagismo pode reduzir a mortalidade da doença em 38%.
Isso mostra como é urgente discutirmos o diagnóstico precoce do câncer de pulmão e a adoção de hábitos saudáveis – principalmente o combate ao tabagismo, já que tanto o cigarro tradicional como os DEFs possuem substâncias altamente tóxicas e metais pesados”, diz o dr Daniel.
Terapia-alvo e imunoterapia são novidades no tratamento
Na maioria dos casos, o câncer de pulmão é assintomático em fases iniciais e, quando causa manifestações, pode já estar avançado. Alguns dos sintomas incluem: problemas respiratórios; dor torácica; falta de ar e tosse com sangue.
Atualmente existem tratamentos inovadores para o tratamento do câncer de pulmão como a terapia alvo ou a imunoterapia. “A decisão do tratamento depende do estágio e tipo de câncer, sendo necessário considerar também o estado de saúde do paciente como um todo”, finaliza Dr Harada.
Por isso, a importância de um acompanhamento multidisciplinar com oncologista clínico, pneumologista, cirurgião torácico, cardiologista, radiologista, entre outras especialidades.
Com Assessorias