Durante o período de distanciamento ou isolamento social, por conta da pandemia da Covid-19, a saúde mental tornou-se um tema ainda mais discutido. Muitos profissionais da saúde alertam que o isolamento pode acarretar uma epidemia de transtornos de depressão e ansiedade. Um estudo feito pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) apontou que os casos de depressão praticamente dobraram desde o início da quarentena. Entre março e abril de 2020, dados coletados online indicam que o percentual de pessoas com depressão saltou de 4,2% para 8%.
Melina Cury Haddad, coordenadora de psicologia da Care Plus, indica quais são os principais hábitos para manter o bem-estar mental durante este momento: “O equilíbrio em nossa vida vem quando conseguimos dosar a quantidade de estresse que temos com momentos de lazer e que proporcionam prazer; então é necessário fazer um balanço, por exemplo, se estou trabalhando muito e até tarde por causa do home office, preciso tentar deixar um momento no dia para relaxar, ouvir uma música que gosto, tomar um banho relaxante”, afirma.
Ainda segundo ela, o sono é um fator primordial para manter a saúde emocional, busque ter horário pra dormir e acordar, fazer um ritual para o sono antes de dormir e se desligar com antecedência de telas de celular, TV, tablets. Ter como base uma alimentação balanceada, com alimentos nutritivos irá auxiliar você no bem-estar. Praticar exercícios físicos regularmente, mesmo em casa, pois são responsáveis pela liberação de neuro-hormônios que auxiliam na sensação de prazer e bem-estar. Além disso, conversar com pessoas, mesmo que seja a distância, faz nos sentirmos conectados, e isso é muito importante para enfrentar sentimentos de solidão e sentir que pertencemos a um lugar.
Na depressão, temos a tendência de abandonar atividades que nos dão prazer; é essencial não abandonar. Preste atenção no excesso de informações que recebe no dia a dia, escolha algum veículo confiável para se informar e não se conecte apenas com notícias ruins. Tem muitas coisas boas que estão acontecendo também, muitas pessoas se ajudando e se solidarizando. Então vamos nos nutrir daquilo que nos faz bem”, destaca.
Janeiro Branco e Setembro Amarelo: como ajudar?
Assim como o Setembro Amarelo, que foca especificamente na prevenção do suicídio, a campanha Janeiro Branco tem como objetivo informar e conscientizar a população em relação à busca pelo equilíbrio mental. Este ano, a campanha apresenta um papel ainda mais relevante ao trazer informações sobre o aumento do número de transtornos.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país mais deprimido e ansioso da América Latina. Um relatório da organização, divulgado no fim de 2018, mostra que, nos últimos dez anos, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4% em todo o mundo – o que corresponde a 322 milhões de indivíduos ou 4,4% da população global.
A partir do lançamento da campanha Setembro Amarelo, em 2003, as informações sobre saúde mental começaram a mudar. “Fomos aprendendo e entendendo que esse assunto precisa ser falado e discutido da forma correta; a informação aliada à ciência e a educação à saúde podem ser bases fortes para se prevenir a depressão. Sim, todos nós podemos contribuir para ajudar as pessoas que estão em profundo sofrimento.
A especialista dá algumas recomendações para ajudar a enfrentar o problema do suicídio. “Procurar uma conversa com alguém, uma oferta de ajuda, encontrar uma informação com um direcionamento para um serviço de saúde ou mesmo um serviço voluntário podem fazer com que ela encontre outro caminho. Vamos falar do tema, vamos perder o medo de conversar”, afirma.
Ainda segundo ela, durante a pandemia, quem está próximo pode ajudar muito ao ouvir o que a pessoa tem a dizer. “Muitas vezes temos medo de perguntar, até porque não vamos saber lidar com aquilo ou achamos que não temos capacidade de ajudar, mas todos temos essa capacidade, não precisa se preocupar em falar a coisa certa, apenas em ouvir, dar atenção, perguntar como está, oferecer o telefone de um profissional, um copo d’água. O mais importante é abrir um espaço para esse momento, não fazer nenhum julgamento sobre o que ela está passando, não dar broncas achando que vai ser bom para ela, apenas escutar com empatia”, explica a psicóloga.
Os principais hábitos para manter a saúde mental
Melina destaca os principais hábitos para se manter o bem-estar mental durante este momento, confira:
– O equilíbrio vem quando conseguimos dosar a quantidade de estresse que temos com momentos de lazer e que proporcionam prazer; então é necessário fazer um balanço, por exemplo, se estou trabalhando muito e até tarde por causa do home office, então tentar deixar um momento no dia para relaxar, talvez ouvir uma música que goste, tomar um banho relaxante;
– O sono é um fator primordial pra manter a saúde emocional. Busque ter horário pra dormir e acordar, fazer um ritual para o sono antes de dormir e se desligar com antecedência de telas de celular, TV, tablets, não beber nada estimulante, isso ajuda muito a equilibrar e preparar o cérebro pra dormir, pode também fazer um exercício de respiração profunda, relaxamentos ajudam muito na indução do sono.
– Ter como base uma alimentação balanceada, com alimentos nutritivos irá auxiliar você no bem-estar. Praticar exercícios físicos regularmente, mesmo em casa, pois são responsáveis pela liberação de neuro-hormônios que auxiliam na sensação de prazer e bem-estar.
– Conversar com pessoas, mesmo que seja a distância, faz nos sentirmos conectados, e isso é muito importante para enfrentar sentimentos de solidão e sentir que pertencemos a um lugar. Na depressão, temos a tendência de abandonar atividades que nos dão prazer; é muito importante não abandonar, mesmo sem vontade, não deixe de fazer tarefas simples do dia a dia, lembre-se de que o fazer antecede o prazer, então pra ter vontade de fazer as coisas, é necessário começar a fazer, a vontade pode surgir depois.
Maior procura por programa de saúde mental
O programa Mental Health, implementado pela Care Plus, que oferece desde a sensibilização e o treinamento de gestores até o suporte 24 horas com especialistas, teve um aumento de 56% em comparação aos três meses no início da pandemia. Para ela, o aumento no número de inscrições entre julho e setembro reflete o momento delicado que vamos enfrentar daqui para frente.
Também percebemos que nos acionamentos os participantes vêm se demonstrando mais ansiosos, mais cansados, estressados, e os problemas com a longa duração do confinamento começam a repercutir de forma mais crônica em saúde mental. Acredito que e o impacto negativo na saúde mental e até mesmo a depressão e o aumento da ansiedade sejam problemas que vamos enfrentar daqui pra frente”, afirma Melina.
Segundo ela, no início, as pessoas não procuraram tanto o programa, pois ainda era uma fase de adaptação e, a princípio, ninguém imaginava que o isolamento duraria tanto tempo: “As pessoas estavam em um ‘estado de férias’ e, quando acontece alguma mudança inesperada, tendemos a buscar dentro da gente algum recurso para lidar com o fato”. Porém, com o passar dos meses, as incertezas e medos, o pouco contato social, dúvidas em relação a perder emprego, parentes, começaram a surgir, e isso vem se refletindo nos números do programa, que voltaram a crescer.
Fonte: Care Plus