Muitas vezes problemas financeiros podem iniciar quadros de depressão levando até mesmo ao suicídio. Atualmente o número de inadimplentes no Brasil já chega quase ao 63 milhões, segundo últimos dados divulgados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). 

O cenário macroeconômico do país tem contribuído para o alto nível de endividamento dos brasileiros, somado à falta de controle das finanças pela população. A pesquisa aponta que dentre os principais vilões da inadimplência, os mais citados são a perda do emprego (37%), que chega a 38% nas classes C e D, a redução da renda (24%) e a falta de controle financeiro (12%).

Além da falta de controle sobre o orçamento, as emoções diante de determinadas situações acabam gerando um consumo desordenado em muitas pessoas. Ao investigar que tipo de acontecimento pode ter contribuído para o desequilíbrio das finanças no período em que os entrevistados fizeram a dívida, a pesquisa constatou que o fator número um está ligado à ansiedade (21%).

Em seguida, foi mencionada a insatisfação ou problemas no trabalho (13%) como responsável por esse tipo de comportamento. Outros 12% contraíram dívidas em momentos de estado emocional abalado por dificuldades financeiras, enquanto 9% passavam por problemas no relacionamento familiar.

O presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos, afirma que o dinheiro pode sim ter uma parcela de culpa na depressão, porém deve ser um meio e não o fim. “Sempre pode haver uma saída para quem está com problemas financeiros. Às vezes chegar ao fundo do poço financeiro pode ser a solução para poder recomeçar do zero e mudar definitivamente de vida”.

Com o intuito de auxiliar essas pessoas e apoiar o “Setembro Amarelo”, campanha criada pelo Centro de Valorização à Vida (CVV) que tem o objetivo de prevenção ao suicídio, a DSOP Educação Financeira disponibilizará gratuitamente, até o dia 30 deste mês, o curso EAD “Como Quitar Suas Dívidas”. Esse pode ser o início de um caminho para quem está em desespero com a sua situação financeira, mas em casos mais graves, o indicado é sempre buscar ajuda médica especializada.

Causas do desequilíbrio financeiro

A facilidade de crédito e a falta de educação financeira são os principais aspectos para que as pessoas não respeitem o seu padrão de vida e acabem consumindo compulsivamente, sem conseguir sair dessa situação e se enrolando cada vez mais com as contas. Além disso, a relação conturbada as finanças pode mostrar que o dinheiro desenvolve um papel maior do que deveria na vida das pessoas.

Os impactos desse desequilíbrio financeiro são muito mais amplos, atingindo não somente a pessoa que se descontrola, mas também a família, os amigos e até a empresa em que trabalha. Isso pode acontecer mesmo com aqueles que ganham bons salários, pois quanto mais se ganha, mais se gasta.

Comprar com compulsividade pode se tornar uma válvula de escape para esquecer dos problemas, portanto voltar a ter sonhos e relacioná-los pode ajudar as pessoas a entenderem o conceito da educação financeira e a mudarem seus hábitos com relação ao uso do dinheiro. Uma pessoa que não tem seus objetivos bem definidos não vê sentido em poupar e, quando poupa, fica vulnerável a gastar com coisas supérfluas, consequentemente entra em dívidas.

Aproveitar as promoções leva a endividamento

Considerando apenas aqueles que se endividaram por descontrole do orçamento ou porque tiveram crédito fácil, 39% afirmam que quiseram aproveitar as promoções oferecidas pelas lojas, levando-os a contrair gastos extras sem avaliar o orçamento. Já 24% reconhecem não ter negociado bem os preços no momento da compra e 14% disseram que costumam comprar mais do que o necessário para se sentir bem quando estão ansiosos.

O levantamento mostra também que seis em cada dez brasileiros inadimplentes (61%) têm pouco conhecimento sobre a própria renda, entre salários e outros rendimentos. Para muitos, negligenciar as finanças se estende até os compromissos mais importantes do dia a dia. Um termômetro disso é que 45% reconhecem saber pouco ou quase nada sobre o valor das contas básicas que precisam pagar no fim do mês, mesmo que elas não estejam em atraso, como água, luz, telefone, aluguel, condomínio, plano de saúde e mensalidade escolar. Já 61% desconhecem o número exato de parcelas das compras realizadas por meio do crédito e, em geral, 36% não planejam o orçamento mensal.

“A conjuntura econômica continua afetando o bolso da população, que sente dificuldades financeiras com a perda do emprego ou a redução da renda. Mas a atitude do próprio consumidor tem papel fundamental diante dessa situação preocupante de alta inadimplência. O brasileiro possui o mau hábito de `andar no escuro´, ao não conhecer profundamente quanto gasta e quanto ganha”, alerta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.

Apenas 19% buscaram ajuda para enfrentar o problema

Mas mesmo após vivenciar todos os contratempos associados à inadimplência, a má notícia é que pouco são os consumidores dispostos a adotar novos hábitos para evitar a reincidência. Entre os que se endividaram por descontrole financeiro ou compras impulsivas praticamente seis em cada dez não tentaram mudar a atitude para reverter esse quadro (58%). Metade desses entrevistados alega não ser esse um problema tão grande (50%), 19% afirmam que o hábito faz parte do seu jeito de ser e que nunca irão mudar e 17% garantem que a situação não provoca nenhum incômodo.

Ainda sobre as medidas tomadas para manter as finanças em dia, apenas 19% buscaram algum tipo de ajuda para resolver suas dificuldades, enquanto 81% não fizeram nada. Nesse último caso, 49% justificam sua decisão dizendo que são capazes de resolver esses problemas sozinhos, ao passo que 18% afirmam não ter dinheiro para contratar ajuda profissional.

37% gastam mais do que podem para aproveitar a vida 

O autocontrole é uma barreira importante contra o consumo exagerado, embora seja uma tarefa difícil para muitos. Quase metade dos inadimplentes ouvidos pela pesquisa disseram que quase sempre cedem aos desejos e impulsos quando querem comprar alguma coisa (46%), enquanto 43% não conseguem controlar os gastos, 42% demoram para cancelar serviços ou assinaturas que não usam e 31% vivem fora de seu padrão de vida.

A impulsividade e a imprudência financeira de parte dos inadimplentes ficam evidentes também quando respondem sobre sua relação com o dinheiro em várias situações. Para 40% é comum perder a noção do quanto podem gastar em uma balada ou jantar, extrapolando o orçamento, ao passo em que 40% se sentem pressionados a gastar mais dinheiro quando estão com amigos e família, 37% gastam mais dinheiro do que podempara aproveitar a vida e outros 37% às vezes deixam de pagar uma conta para comprar algo que têm vontade.

O estado emocional dos entrevistados também interfere na gestão do orçamento, uma vez que 36% admitem comprar, algumas vezes, coisas que não haviam planejado para se sentirem melhor. Já 27% excedem o orçamento para ficarem mais bonitos. “Se o consumidor cede frequentemente à impulsividade para satisfazer seus desejos de compra, se continua gastando sem planejar ou fazer reserva financeira é necessário reconhecer que algo precisa mudar. Valorizar o bem-estar imediato é uma tendência natural do ser humano, mas se a atitude não for bem pensada, pode trazer grandes prejuízos no médio e longo prazo. O primeiro passo é reavaliar o orçamento, identificando todas as despesas e receitas do mês, para então saber onde estão os gastos que podem ser cortados”, orienta a economista do SPC Brasil.

Metodologia

A pesquisa ouviu 609 consumidores que possuem contas em atraso há mais de 90 dias em todas as capitais do país, de ambos os gêneros, acima de 18 anos e de todas as classes sociais. A margem de erro é de no máximo 3,97 pp a uma margem de confiança de 95%. Baixe a íntegra da pesquisa em https://www.spcbrasil.org.br/pesquisas

Fonte: DSOP Educação Financeira e SPC

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2 Comments
  • Avatar João Salvador
    João Salvador
    10 de abril de 2019 at 01:43

    Eu acredito que estou com esse problema. Não consigo pagar as dividas que tenho a anos. E penso coisas ruins com frequência.

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  • Avatar Inútil
    Inútil
    28 de setembro de 2019 at 01:04

    Desisti de todos os meus sonhos, não realizei meus objetivos e não sou independente com mais de 30. Pelos cálculos, percebi que se me suicidar, a situação financeira da minha família vai se estabilizar de novo. Eu nem posso ter filhos, então não deixarei ninguém desamparado. Já tentei 2 vezes e fui pra UTI, só preciso de uma dose tripla longe de casa dessa vez.

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