O bullying desafia pais e educadores ao redor do mundo. E nas comunidades não é diferente. Mas como enfrentá-lo? Mãe de um filho com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Ana Lucia de Almeida, que atua há 26 anos como professora de Educação Física, tem uma receita. “SAL é a solução para o bullying. É preciso Segurança, Amor e Limite”.
Ana Lucia – que há cinco ela se tornou uma PAEE (Professora de Atendimento Educacional Especializado) no Instituto Cades, dando aulas de natação para crianças de comunidades de São Paulo – sugere algumas formas não só para solucionar, mas também para evitar que a criança se torne uma agressora:
- estimular e empatia,
- ensinar educação solidária,
- não tentar negar a realidade e buscar ajuda,
- dialogar para tentar entender o que está acontecendo,
- expor a reprovação sem recriminação, julgamento ou violência e
- buscar estratégias com a escola.
Quanto mais fortalecermos a relação escola-família, melhor, e, com a dinâmica da vida familiar hoje em dia, muitas vezes os pais não percebem o que está acontecendo”, explica a professora.
Segundo ela, alguns detalhes precisam ser reparados no comportamento das crianças e jovens, como, por exemplo, se estiveram uma mudança repentina no humor, na alimentação, nos estudos. Como forma de ajudar, ela aconselha os pais, educadores e cuidadores a ficarem atentos aos sinais, não culpar a vítima, não agir de cabeça quente e buscar ajuda profissional.
Não é para recriminar, bater nem tampouco dizer para se defender ou questionar o motivo dw a pessoa estar permitindo ser vítima. Ela já está passando por ofensas, humilhações, a última coisa que ela precisa é ser julgada. Usar da violência, bater é uma regra inegociável, também”, diz.
Ações e reações das vítimas e dos agressores
Com o intuito de mostrar aos pais a importância de saber identificar ações e reações com seus filhos, o Instituto CADES promoveu a palestra “Estratégias para prevenção e combate do bullying” aos pais dos alunos da EMEF Dom Veremundo Toth em Paraisópolis. Logo depois, foram realizadas atividades esportivas entre eles e seus filhos, também como forma de celebrar o Dia Internacional da Família (15 de maio).
As violências podem ser de quatro tipos: psicológica, física, patrimonial e em ambiente virtual, o cyberbullying. Para identificar este fato, é preciso entender o real significado do termo, a partir do momento que são “ações repetitivas no sentido de humilhar, ofender com o uso de violência. Além disso, ele acontece entre pares, ou seja, entre crianças e jovens da mesma faixa etária”.
Segundo ela, o bullying pode começar desde a creche, mas ele vai se tornando mais aparente conforme a criança cresce. Questionada se o bullying é algo mais praticado por meninas ou meninos, a professora responde:
Com o empoderamento que as mulheres vêm tendo, as cobranças também aumentam, resultando em uma competitividade não-saudável, que pode gerar a agressividade. Então, pode-se dizer que ele vem sendo praticado por todos os sexos de forma igualitária”.
Criança agressora também precisa de cuidados
Há, ainda, a criança que é a agressora e precisa de tantos cuidados quanto as que estão sofrendo o bullying. Neste caso, é preciso prestar atenção em alguns sinais como falta de empatia, atitudes egoístas, arrogância, valorização de relações baseadas em poder e dinheiro.
Às vezes identificar quem está realizando o bullying também não é fácil. Ela é aquela mais madona, que quer ser a dona da razão e que, para tal, se sobrepõe, ofende, humilha, realiza atos pejorativos com o outro.
Muitas vezes são casos de serem muito protegidos ou de terem muita cobrança por resultados, ser ensinado desde pequeno a ser muito competitivo. “No fim, todos precisam de ajuda, tanto os que sofrem o bullying quanto os que o praticam”, enfatiza.
Rede de proteção social
Com 16 anos de existência, o Instituto CADES resolveu ir além de seu trabalho com atividades esportivas nas escolas públicas e, desde a pandemia, implantou a Rede de Proteção Social nas escolas em que atua.
Com a atuação de psicólogas e apoio de outros órgãos, como UBS dentre outros, a saúde mental dos alunos passou a ser uma das prioridades. Sendo assim, formou-se uma rede multisetorial entre o CADES, as Escolas, os órgãos/serviços públicos e os atores sociais do território.
Vimos que o trabalho das aulas realizadas no Projeto Tênis para Todos podia ir além”, diz Joaquim Lima Calmon de Almeida, professor de Educação Física e coordenador responsável dos projetos do Instituto CADES. “Com isso, começamos a atuar em outras frentes, nos preocupando com a formação das crianças e jovens como um todo”, completa.
Como forma de um trabalho completo em todo âmbito socioeducativo, o CADES disponibiliza uma psicóloga duas vezes por semana na EMEF e uma equipe de apoio, auxiliando também em encaminhamentos para fonoaudiólogas, clínicas de tratamentos psicológicos e psiquiátricos.
Além disso, com as atividades físicas do Projeto Tênis Para Todos Paraisópolis, que já está no sexto ano de existência pela Lei de Incentivo ao Esporte, eles aprendem a compartilhar, ganhar, perder e, principalmente, respeitar os colegas e adversários nos jogos. Tudo isso não fica só não quadra, mas passa a fazer parte do dia a dia, nas relações.
Fonte: Instituto Cades