Novembro foi escolhido como o mês oficial de conscientização e prevenção do câncer de próstata, em alusão ao dia 17, quando se celebra o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata. Esta campanha é semelhante ao Outubro Rosa, desenvolvida para alertar as mulheres para o câncer de mama.

No caso do câncer de próstata, os exames preventivos são de sangue, para avaliar a dosagem do PSA (antígeno prostático específico), e o toque retal.  E é justamente aí que mora o perigo da falta de informação e do preconceito, já que boa parte dos cuidados esbarra no tabu deste último exame.

No entanto, o medo do toque retal não é a única coisa que afasta os homens dos cuidados com a saúde. Estudos mostram que os homens brasileiros vivem em média, 7 anos a menos do que as mulheres. A causa disso é que eles cuidam menos da própria saúde, se expõem mais à situações de violência, têm dificuldades em lidar com as emoções. Esses dados são tão alarmantes que em 2009, o Ministério da Saúde criou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH).

Para falar sobre a dificuldade dos homens em cuidar da saúde e, sobretudo, vencer o próprio preconceito e prevenir-se do câncer de próstata, ouvimos a psicanalista Andrea Ladislau e a psicóloga Miriam Pontes de Farias, ambas colunistas da seção ‘Palavra de Especialista’, do Portal ViDA & Ação. Confira!

Exame de próstata não influencia na masculinidade

Para Andrea Ladislau, o Novembro Azul é fundamental para alertar sobre o preconceito masculino de ir ao médico e buscar se conscientizar contra o câncer de próstata. “Infelizmente, ainda existe muito tabu por parte dos homens na busca de auxilio, informação e prevenção”, diz a psicanalista.

Segundo ela, a detecção precoce do câncer é muito importante, inclusive para a ajudar a diminuir o preconceito que ainda hoje ronda o tema. “Sabemos que a maioria dos homens se mostra muito resistente quando o assunto é cuidar da saúde. Grande parte desta resistência está fixada na virilidade e masculinidade por se acharem invencíveis“, avalia.

Miriam Farias atribui o medo do exame à cultura machista que prevalece no país. “Percebe-se que em uma cultura machista, existem muitos medos, preconceitos e tabus, principalmente quando se trata de fazer um exame no qual é preciso tocar na parte “sagrada” do homem”.

Segundo ela, muitos homens ainda acham que o toque retal pode afetar a sua “masculinidade”, ou seja, sua heterossexualidade. “Não afeta! Tudo vai continuar como antes, portanto, este medo é irreal. Apenas um exame não vai afetar a sexualidade ou a masculinidade de nenhum homem“, ressalta a psicóloga, ao reforçar que o exame realizado pelo médico urologista é simples e rápido.

Reduzir sedentarismo ajuda a combater estresse e evitar o câncer

De acordo com a psicanalista Andrea Ladislau, o fato de os homens, normalmente, apresentarem resistência em manter uma rotina de check up e acompanhamento médico, dificulta ainda mais o tratamento do câncer de próstata, já que a doença nem sempre apresenta sintomas. E lembra que, em fase inicial, quando as chances de cura da doença beiram 90%, o câncer da próstata tem uma evolução silenciosa.

“A doença não costuma apresentar qualquer indício de manifestação. Geralmente, os principais sintomas relacionados à próstata são causados pela hiperplasia prostática, o crescimento benigno da glândula; jato urinário mais fraco, sensação de urgência miccional ou de esvaziamento incompleto da bexiga, entre outros”, comenta Andrea.

Andrea Ladislau lembra que um fator de risco de desenvolvimento do câncer de próstata é o sedentarismo. Junto com a obesidade, estes dois aspectos estão relacionados a mudanças metabólicas que podem levar a alterações moleculares responsáveis pela gênese da neoplasia.

“A atividade física regular tem um papel relevante na prevenção e no tratamento. Essa prática saudável pode agir de modo protetor, e tem sido um fator modificável para o câncer de próstata por causa dos seus potenciais efeitos de fortalecimento imunológico, prevenção da obesidade, capacidade do exercício em modular os níveis hormonais e redução do estresse”, destaca a psicanalista.

Câncer de próstata não é só doença de idoso

Andrea Ladislau aproveita para lembrar que o câncer de próstata não é uma doença apenas do idoso. Apesar de o risco de aumento da doença ser mais significativo após os 50 anos, cerca de 40% dos casos são diagnosticados em homens abaixo desta idade. Entretanto, a doença é rara antes dos 40 anos. Outro mito que precisa ser derrubado é de que a próstata aumentada nem sempre é sinal de câncer de próstata.

“O antígeno prostático pode apresentar alterações em várias situações que não o câncer, como a hiperplasia benigna da próstata, prostatite (uma inflamação) e trauma. Por isso, a avaliação médica e o toque retal são tão importantes para que se consiga fechar o diagnóstico de forma correta”, ressalta.

Andrea Ladislau lembra que a hereditariedade é um dos principais fatores de risco para o câncer de próstata. Um parente de primeiro grau com a doença duplica sua chance. Dois familiares com a doença aumentam essa chance em cinco vezes.

“Para quem tem casos na família, o recomendado é procurar um urologista a partir dos 45 anos. No entanto, a indicação da melhor forma de tratamento vai depender de vários aspectos, como estado de saúde atual, estadiamento da doença e a expectativa de vida do paciente”, ressalta a psicanalista.

Em casos de tumores de baixa agressividade há a opção da vigilância ativa, na qual periodicamente, se faz um monitoramento da evolução da doença intervindo se houver progressão da mesma.

Em relação à saúde mental, podemos afirmar que a prevenção sempre será o melhor remédio para se viver bem e enfrentar os desafios do dia a dia. Não estamos livres de doenças, mas se pudermos prevenir e buscar uma vida mais equilibrada, onde o corpo e a mente estejam em sintonia, certamente, poderemos evitar transtornos que causam medo e insegurança. A saúde do homem também importa e precisa ser levada a sério. O Novembro Azul está aí para nos lembrar disso”, ressalta Andrea.

Palavra de Especialista

Por que os homens cuidam menos da saúde?

Por Miriam Pontes de Farias*

São tantas fantasias e pensamentos fantásticos em relação ao toque retal que é necessário esclarecer que fazer o exame de próstata não vai influenciar na masculinidade de nenhum homem. Portanto, se há o medo de se tornar homossexual, fique tranquilo! Ser homossexual é da natureza da pessoa. Ninguém se torna homossexual porque quer ou somente por causa de um exame.

A nossa cultura machista endureceu muito o homem, ao ponto de não procurarem ou evitarem ir ao médico, como se fossem “super heróis” e não precisassem de cuidados. Homens também são seres humanos e têm suas fragilidades e dificuldades, assim como as mulheres. Para pensar no homem de forma integral, é necessário além de uma boa alimentação, realizar atividade física regular, ter momentos de lazer, manter relacionamentos sociais saudáveis e uma vida harmoniosa em família.

Nossa cultura machista é muito controladora também em relação ao comportamento masculino. Homem não pode falar ou fazer isto ou aquilo, se não é rotulado de “gay”. Precisamos parar com estes estereótipos. Por causa disto, os homens muitas vezes não conseguem expressar emoções, sentimentos. Não podem chorar ou mostrar fragilidade. Vivem engessados em um padrão de comportamento que é validado e esperado pela sociedade. Quem consegue sair deste padrão é rotulado e muitas vezes excluído do grupo ao qual pertence.

Quando estão passando por algum problema de origem emocional, é sempre muito difícil para eles. Não aprenderam a buscar ajuda, além de existir um padrão cultural que bloqueia e trava a possibilidade de sentir e se emocionar. Os homens precisam se libertar destes conceitos e valores sociais. Perceber que são humanos e precisam se cuidar, sim!

Ir ao médico, fazer exames regulares, procurar ajuda de um psicólogo quando não estiver bem emocionalmente é tão necessário quanto ir ao futebol torcer para o time de que gosta, ou encontrar os colegas para tomar uma cervejinha, ou estar com seus amigos ou familiares.

Conter, guardar e não expressar emoções pode ser tão prejudicial quanto explodir de forma descontrolada. No primeiro caso a pessoa implode, no outro explode. Todas as duas situações trazem danos emocionais e físicos.  Uma emoção reprimida pode causar dores, angústia, crises de enxaquecas, mal estar, tensão pelo corpo e outros sintomas físicos. As emoção devem ser identificadas, expressadas, elaboradas ou digeridas, do contrário será reprimida e mais a frente pode se expressar descontroladamente e prejudicar as relações pessoais e profissionais. 

Lembre-se: antes de serem homens, são humanos, e todos os humanos precisam se cuidar!  Vamos sair do casulo e se cuidar! Existe muita vida fora da bolha.

 

 

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