Cientes dos prejuízos que a prática proporciona, como dentes amarelados, mau hálito, problemas pulmonares e diversos tipos de câncer, os fumantes têm se conscientizado e desejado, cada vez mais, se livrar do vício. Em todo o mundo, cerca de 780 milhões de pessoas dizem querer parar de fumar, mas apenas 30% delas têm acesso às ferramentas que podem ajudá-las a fazer isso.

Sem dúvida, o processo de parar de fumar é desafiador também por motivos psicológicos. Isso acontece porque o vício já está relacionado à rotina, por exemplo, no consumo de café, ansiedade e ao humor. Para a médica pneumologista Carolina Mazzilli Novais, do Hospital Anchieta de Brasília, o cenário de pandemia do novo coronavírus também não é favorável para quem deseja parar com o hábito, já que existe um maior estresse social e econômico.

Dra Carolina destaca que o tabagismo hoje é classificado pela Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde como uma doença do grupo de transtornos mentais e comportamentais. “Essa doença é causada pela dependência à nicotina, substância presente em produtos derivados do tabaco, por isso a classificamos assim. Além disso, a nicotina é a maior causa isolada evitável de adoecimento e mortes precoces em todo mundo”, diz a pneumologista.

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Alimentação saudável é fundamental

Para Júlia Canabarro, nutricionista da Dietbox, startup de nutrição, o primeiro passo é reconhecer os estímulos que levam à prática, que não traz à saúde nenhum benefício e, ao contrário, Ela afirma que, além dos famosos adesivos de nicotina junto da prática de exercícios físicos, uma alimentação balanceada se mostra como uma importante aliada nessa missão.

A cafeína, por exemplo, faz com que a pessoa se sinta mais ansiosa, pois é um ingrediente estimulante e as substâncias viciantes da nicotina do cigarro liberam no corpo uma sensação incrível de prazer. Para controlar a vontade e a ansiedade, a inserção de atividades físicas e o consumo de uma alimentação equilibrada são grandes aliados nessa batalha.

Sabemos do poder de uma alimentação balanceada para a tão desejada qualidade de vida e, com isso, não devemos negligenciar sua eficácia na luta contra o tabagismo. Certos alimentos têm efeito inibidor na vontade de fumar, e adotá-los em sua dieta pode ser uma ótima maneira de largar o cigarro de forma gradativa, gerando, consequentemente, menos estresse, ansiedade e as famosas recaídas”.

Júlia Canabarro explica que dois itens devem ser evitados ao máximo quando o abandono progressivo do cigarro estiver sendo feito: álcool e café. Ambas as bebidas estão diretamente ligadas ao costume de fumar e, por isso, podem ser “gatilhos” para os tabagistas que veem dificuldade em as desvencilhar do hábito.

Para sua substituição nos primeiros meses, o consumo de chás e, principalmente, água é muito indicado. Conhecida por ser um desintoxicante natural e acalmar o organismo, contar com uma garrafinha de água para levar durante o dia pode ser uma boa válvula de escape”, explica a profissional.

Aposte em alimentos que trazem bem-estar

Segundo a nutricionista, as primeiras semanas são cruciais, já que são nelas que se sente de forma mais intensa a abstinência da nicotina. Para estes momentos, ela indica o consumo de alimentos que proporcionam sensação de bem-estar e auxiliam na redução da ansiedade.

As bananas são conhecidas por possuírem altos índices de vitamina B6, além de contar com o aminoácido triptofano, responsável pela produção de serotonina e a consequente diminuição do estresse. Chocolate, grão de bico, peixes e laticínios são outros bons exemplos.

O tomate, por sua vez, auxilia na missão graças a um fato curioso: ele e as plantas de tabaco são da mesma família, sendo conhecida também como o grupo de “solanáceas”. Por isso, a fruta contém uma pequena quantidade de nicotina, que auxilia na redução do cigarro. Seu consumo é recomendado, principalmente, por meio de sucos – para uma maior absorção de nutrientes -, mas ele também pode ser consumido cru, em saladas e molhos.

Outra dica valiosa, como aponta a profissional, é investir em hábitos que possam substituir o antigo (de ter o cigarro à mão). Cenoura e aipo cortados em palitos são boas opções para os momentos em que o desejo de fumar aparece, tanto pela fixação oral que o cigarro proporciona, quanto pelo hábito de segurá-lo entre os dedos.

Pode parecer simples, mas por replicar a mecânica corporal de fumar, o ato deve acalmar os nervos nos momentos mais cruciais. Chicletes sem açúcar também podem servir de “muleta” nestes momentos”, comenta a nutricionista.

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Atividade física também é aliada


Bruno Marques, profissional de educação física da rede Evolve, a prática regular de atividade física traz inúmeros benefícios para a saúde física do fumante ou ex-fumante. “Com a prática frequente de exercícios, as veias da pessoa, que eram obstruídas e finas, vão vasodilatar, permitindo uma maior passagem de oxigênio para o resto do corpo”, complementa.

Marques também relata os ganhos psicológicos, como diminuição da ansiedade causada pela abstinência, e ajuda na produção de hormônios que dão a sensação de bem-estar. “A pessoa ainda tem o fator de socialização, já que vira um passatempo e um refúgio para os ex fumantes”, conclui.

Além da prática de exercícios físicos, Júlia Canabarro recomenda o acompanhamento médico e nutricional para aqueles que desejam parar de fumar, “Esses profissionais da saúde têm o conhecimento para guiar seus pacientes durante a transição e os ajudar a evitar consequências que a falta de nicotina pode trazer, como o ganho de peso e o consumo compulsivo de comida”, explica.

Tratamento pode ser feito no SUS


Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), existem duas formas de começar o tratamento para o vício em nicotina: parada imediata e parada gradual. A primeira opção é quando a pessoa interrompe de uma vez o uso de qualquer produto com tabaco, enquanto na segunda opção, a pessoa diminui a quantidade de cigarros consumidos diariamente.

O tratamento pode ser feito pelo SUS e o paciente precisa estar ciente que ele pode ter alguns sintomas de abstinência, como tosse, dores de cabeça, ansiedade, compulsão e irritação. Em alguns casos, a pessoa pode utilizar medicamentos para que o processo não tenha um grande impacto na saúde. Além de um acompanhamento médico, é recomendável que o paciente tenha um acompanhamento psicológico e, se quiser, frequente grupos de ex-tabagistas.

Júlia lembra que o tabagismo é uma doença séria, que deve ser tratada como tal, e pode ser responsável por diversos tipos de câncer e doenças cardíacas e pulmonares. “Não tenha medo: procurar ajuda é a parte mais difícil, mas quando feito, o abandono do cigarro só proporciona benefícios a curto, médio e longo prazo”, finaliza.

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7 milhões de mortes por ano

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Membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Dra Carolina alerta que qualquer forma de consumo de tabaco oferece riscos à saúde. “O tabagismo é responsável por mais de 7 milhões de mortes por ano em todo o mundo, além de ser uma das principais causas do câncer de pulmão”, aponta. “No Brasil, por exemplo, milhares de pessoas morrem anualmente por esse tipo de câncer”, enfatiza a médica.

Criado em 1987 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Dia Mundial Sem Tabaco (31 de maio) visa conscientizar a população sobre os malefícios do cigarro para a saúde. A data tem como objetivo alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo.

Além disso, com o aumento de novas drogas, a OMS utiliza a data para alertar também para os riscos do uso de cigarro eletrônico, vaporizador e cigarro aquecido, pois já existem estudos que relacionam o uso desses dispositivos com agravos de sintomas respiratórios.

Redução no consumo no Brasil

No Brasil, cerca de 9,8% da população é tabagista, de acordo com dados do Ministério da Saúde. No entanto, o país é reconhecido pela OMS como referência mundial no controle do tabagismo, ocupando o segundo lugar no ranking de implementação das medidas do MPOWER, entre os países que assinaram a Convenção Quadro de Controle do Tabaco.

O hábito vem perdendo força no Brasil nos últimos anos – uma pesquisa do Ministério da Saúde mostrou que, em 2018, apenas 9,3% da população fumava, contra 15,6% de 2006 -, mesmo assim, cerca de 22 milhões de pessoas ainda são fumantes.

Nós temos proibição de publicidade, inserção de advertências em maços, aumento de impostos, e o tratamento gratuito para dependentes de nicotina pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que é uma política de sucesso”, explica a médica pneumologista.

Com Assessorias

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