Nesta quinta-feira (27) é celebrado o Dia do Psicólogo. A data marca o reconhecimento por lei da profissão, assinada pelo presidente João Goulart em 1962. Cuidar da saúde mental nunca foi tão importante. O trabalho deste profissional ganhou destaque especial neste ano por conta da pandemia mundial do novo coronavírus e suas consequências, como isolamento social, alteração de rotinas e etc. 

Durante a pandemia, os índices de doenças mentais e emocionais aumentaram consideravelmente. Uma pesquisa divulgada em maio pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) mostrou que, ainda nos primeiros dias de isolamento social e quarentena, o número de casos de depressão aumentou 90% no Brasil. Outros problemas psíquicos tiveram aumento significativo, como a ansiedade, que cresceu 71% entre os brasileiros.

Há uma dificuldade em criar uma rotina, entender o novo normal, o que faz com que algumas pessoas desenvolvam sintomas e problemas psíquicos”, explica Fabiano Fonseca da Silva, coordenador do curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).

A perspectiva de uma grande crise financeira e social, provocada pela paralisação de diversas atividades econômicas durante a pandemia é outro fator que pode provocar danos para a saúde mental. Outro motivo se relaciona à necessidade que possuímos de manter contato físico com pessoas queridas. “Por isso, por conta do isolamento social, passamos a sentir falta de abraçar pessoas queridas, por exemplo. O ser humano é um ser social”, ressalta.

Para a psicóloga Amanda Fitas, a procura por ajuda, tanto psicológica quanto emocional, se tornou muito maior principalmente em meio a “um evento externo grave, que traz incertezas, e o ser humano não opera muito bem na incerteza, na insegurança”. Segundo ela, a crise sanitária mexeu até com pessoas que estavam melhores emocionalmente, mas receberam uma notícia de que perderam os seus empregos, ou perderam um amigo ou familiar, ou algo na sua rotina foi privada.

“Há pessoas que já estavam no seu limite emocional, não estavam bem, e que isto foi o estopim que acarretou crise de ansiedade, síndrome do pânico, depressão, e isso aumentou alguns casos”, disse. Amanda ainda afirma que na crise sanitária a busca pelo autoconhecimento se tornou maior.

Eu consigo ver esse movimento de ter mais interesse de olhar para si. Já que estamos sozinhos, vamos nos olhar, vamos buscar esse crescimento. Em tempos de incerteza, de frustração coletiva e medo coletivo, a terapia se torna ainda mais importante. Nesse cenário, muitas pessoas conseguiram perceber o quanto, muitas vezes, não estão preparadas para lidar com este tipo de evento. Com as emoções fortalecidas fica mais fácil”, afirma.

Mas será que todos nós precisamos de terapia?

Amanda explica que não necessariamente todos precisam de terapia, mas, se optarem por ter um acompanhamento de um psicólogo, poderão evoluir mais e crescer emocionalmente. E quando é necessário o acompanhamento de um profissional? Amanda elenca os indícios e diz que não se deve esperar ter um quadro de transtorno emocional. Quanto mais cedo for o tratamento, mais rápido ele será. 

Todo mundo nasce com a capacidade e o potencial de ser melhor. A gente não nasce pronto. Nem perto de uma versão, muitas vezes, saudável. Repetimos padrões egocêntricos, que de fato vão atrapalhar os nossos resultados com emoções ruins e imaturidade, e tudo isso faz com que os nossos resultados não sejam positivos. Agora, conforme eu acredito que posso melhorar, eu posso fazer terapia, um autoconhecimento e investir nesse crescimento emocional, eu tenho mais possibilidades de ter resultados melhores”.

Não é que todo mundo precise e seja obrigado a fazer, mas, com certeza, se fizessem, teriam resultados muito mais satisfatórios. Sou a favor do autoconhecimento, da busca por entender como você funciona, o que pode ser aprimorado, quais padrões de pensamento, quais padrões da infância te acompanham. Acho importante, sim, fazer terapia”.

Se ela [a pessoa] está percebendo que está sempre caindo em sofrimentos constantes, tendo problemas que, normalmente, deixam ela para baixo ou se de fato, ela está a ponto de desenvolver uma tristeza muito grande como se a vida não tivesse mais nenhum sentido, como se ela não pudesse se encontrar, como se ela tivesse perdida, não pertencesse a este mundo, ela está tendo indícios de que, normalmente, não está conseguindo lidar, tá difícil para ela elaborar a vida. Ela sabe que precisa de resultados melhores, que a vida não pode ser tão ruim assim.

Tem a ver com esses picos de infelicidade que ficam mais frequentes, descontentamento, frustração, tudo isso é indício de que a procura de terapia se faz necessária. Não é só quando a coisa estoura. Muita gente espera estourar, que o problema já esteja no ápice. Eu não preciso ter uma crise de ansiedade, eu não preciso ter uma depressão para procurar a terapia. É igual no médico: se o problema está pequeno, mas eu estou vendo que está crescendo e eu não vou em busca de um tratamento, a chance de piorar é grande, então, devemos buscar o quanto antes.

Quando você percebe você está mais para baixo com recorrência, percebe que sua vida fica cada dia pior, sem brilho, é um indício de que você está no espiral para baixo, que está descendo ao invés de estar subindo. Lembrando que dá para tratar em um transtorno sério, mas o melhor é fazer a prevenção antes, pois ela tende a sair mais rápido disso” (Amanda Fitas – psicóloga).

Dicas para manter a saúde mental em dia

Então, como podemos encarar perspectivas desanimadoras e momentos de crise mantendo a saúde mental em dia? Uma boa dica é procurar um psicólogo e manter um tratamento profissional. Afinal, este especialista é preparado para ajudar o ser humano a lidar com as mais diversas questões do cotidiano da vida, auxiliando a sintetizar e racionalizar os sentimentos confusos e incompreensíveis.

É necessário um equilíbrio para que possamos suportar esse período de isolamento que, aos poucos, se flexibiliza. Além disso, a relação com as pessoas próximas é fundamental, assim como garantir o nosso espaço e respeitar o das pessoas com as quais convivemos”, aponta o coordenador.

Silva ainda dá algumas recomendações para que a saúde mental fique em ordem neste período. “Construir uma nova rotina, que agora deve considerar um maior período em casa; lidar com os relacionamentos, que ficam mais intensos e contínuos. Esse dia a dia envolve respeitar e integrar o espaço dos outros com os quais convivemos”, diz. Cozinhar, estudar, jogar e praticar esportes podem ser boas alternativas também, de acordo com o professor.

Atendimento psicológico dentro dos hospitais

Com períodos de internamento mais longos e uma realidade de visitas restritas, a Covid-19 reforçou a necessidade de cuidados hospitalares que vão além do tratamento do corpo. A saúde mental é olhada com atenção pela Psicologia para garantir maior conforto emocional e melhorar a interação entre pacientes, equipes assistenciais e familiares.

Além do trabalho desenvolvido rotineiramente, que engloba a avaliação do estado emocional e da qualidade do sono do paciente, no Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), os psicólogos que integram a equipe multidisciplinar de atendimento desenvolveram mudanças significativas na comunicação durante a pandemia. Com a necessária restrição de acompanhantes e visitas, os psicólogos passaram a planejar reuniões virtuais entre pacientes, amigos e familiares.

Em uma visita virtual chegamos a reunir mais de 10 familiares e amigos ao mesmo tempo, fazendo com o paciente sinta-se amado e mais confortável. A tecnologia permite que mesmo aquele parente que tem uma rotina intensa de trabalho, consiga estar presente de alguma forma e prestar seu apoio”, revela a psicóloga Raquel Pusch, e coordenadora do serviço de psicologia do hospital.

Se anteriormente o contato do paciente ficava restrito ao número de acompanhantes ou visitantes permitido e horários pré-determinados, o uso da tecnologia proporcionou a reunião de grandes grupos em um momento delicado. A psicóloga revela ainda que, antes do contato com o paciente, há um momento de preparo para que o encontro virtual seja o mais adequado e reconfortante possível. “É como uma breve terapia em grupo para trabalhar também os anseios da família e tornar o momento ainda mais acolhedor”, completa.

E após a pandemia, a comunicação entre pacientes e familiares voltará a ser a mesma? A psicóloga acredita que não: “Creio que essa necessidade de adaptação é um dos maiores legados da pandemia. Visitas pessoais e visitas virtuais não irão se contrapor e, sim, se completar para proporcionar bem-estar emocional tanto para pacientes como para seus entes queridos”.

Nesse período, o trabalho dos psicólogos não se restringe aos pacientes. Regularmente são realizadas dinâmicas entre os profissionais de saúde para orientá-los a lidar com as emoções e desafios impostos na rotina atual.

Check-up hospitalar incluir avaliação psicológica

Buscar apoio psicológico profissional não era hábito comum entre boa parte da população, no entanto, a saúde mental é tão relevante que os serviços de check-up prestados por instituições hospitalares incluem avaliação psicológica no diagnóstico integral do paciente.

A consulta avalia o grau de adaptação do indivíduo diante dos estímulos vivenciados na rotina de suas atividades e como o organismo responde a eles apresentando estresse, ansiedade, depressão e outros sintomas”, comenta a psicóloga Raphaela Ropelato,  do serviço de check-up do Hospital Marcelino Champagnat.

Uma herança positiva da pandemia certamente será a sensibilização das pessoas quanto à importância da saúde mental. “Ainda não é possível mensurar os prejuízos da pandemia no emocional da população, mas se conseguirmos manter a devida atenção à saúde psicológica e passarmos a atuar preventivamente contra o estresse e desequilíbrios emocionais, os ganhos para a saúde serão relevantes”, completa.

Com Assessorias

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