Sentir raiva, perder um pouco o controle, irritar-se vez ou outra ainda que “por motivos não muito sérios”. Tudo isso faz parte de todos nós humanos, sejamos adultos ou crianças. Sim, crianças também podem ter seus momentos de raiva, indignação e irritação e isso começa muito, muito cedo, quando ainda se é um bebê. São as chamadas “birras infantis”.

O problema, no entanto, começa quando estas birras começam a tornar-se graves e contínuas. É aí que devemos nos preocupar, pois a criança pode estar desenvolvendo o Transtorno Opositivo Desafiador e precisará ser tratada. O TOD é um transtorno neuropsiquiátrico. Está dentro de um grupo de Transtornos Comportamentais Destrutivos da Infância, sendo mais comum na pré-adolescência e na adolescência, porém, pode surgir antes destas fases.

A neurologista infantil e da adolescência Gladys Arnez, especialista em transtornos comportamentais na infância e adolescência, explica que o TOD é uma condição responsável por comportamentos que são completamente restritivos em ambientes sociais. As crianças e os adolescentes incluídos neste quadro costumam manifestar momentos de raiva, insubordinação, teimosia constante, hostilidade, sentimento de vingança e uma grande dificuldade em obedecer a regras quando solicitadas.

“É fundamental saber diferenciar o TOD da birra”, diz a Dra. Gladys Arnez, que também é especialista em tratamento do autismo e está a frente da Neurocenterkids, na região do ABC, em São Paulo.

A birra é um comportamento imaturo e transitório da criança, na procura de expressar o que ela está sentindo ou conseguir o que ela quer, sendo mais comum em crianças com idades entre 10 meses e 2 anos. Normalmente estes episódios passam antes dos 4 anos, principalmente quando os pais dão menos importância”, explica.

De acordo com a Dra. Gladys Arnez, o que difere o Transtorno Opositivo Desafiador da “birra” é que o TOD caracteriza a criança como sendo sempre muito irritável, opositora e que, o tempo todo, com ou sem motivo, faz de tudo para irritar os outros.  

É uma criança que não reconhece regras. Ela é sempre ‘do contra’, está sempre testando limites, não se importa com o sentimento dos outros, está sempre contra a família, amigos e não assume a responsabilidade dos seus erros, além de não ter medo de punição, fazendo com que tenha maior probabilidade de se envolver com drogas ou apresentar comportamentos ilícitos mais tarde”, diz a especialista.

Devido a este tipo de comportamento estas crianças acabam sofrendo bullying por diversas vezes e/ ou perdendo oportunidades de eventos de escola, passeios e até amizades. Infelizmente até mesmo entre os pais e irmãos, eles são mal falados, tratados de forma diferente e vistos como “ovelhas negras”.

Estudos mostram que em 50% dos casos, a associação com o TDAH é frequente e deve ser observada e investigada, além de deficiência intelectual, transtorno bipolar e muitos outros quadros, os quais pode-se fazer o diagnóstico diferencial.

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As causas do transtorno

Quanto ao TOD, não se tem uma causa definida, mas acredita-se que a base dos relacionamentos familiares parece ser um fator importante para o desenvolvimento do distúrbio: violência doméstica, abuso sexual, abuso físico, negligência, abuso de álcool e drogas pelos pais, bem como conflitos familiares, podem desencadear o transtorno na criança.

Para fechar um diagnóstico correto é necessário ter no mínimo seis meses de causa e apresentar pelo menos quatro dos sintomas principais que são irritabilidade; comportamento desafiador; agressividade; impulsividade; dificuldades de relacionamento com colegas; comportamento vingativo; raiva e ansiedade.

O tratamento deste transtorno é interdisciplinar e depende de três bases: medicação, psicoterapia comportamental esuporte escolar. A medicação ajuda na maioria dos pacientes e melhora a auto regulação de humor frente às frustrações.

A Psicoterapia tende centrar em alterações comportamentais na família com medidas de manejo educacional (conversar com a criança, dar bons exemplos, ter paciência ao falar, explicar o motivo das ordens dadas, etc.). Já em relação ao suporte escolar, deve-se oferecer reforço, apoio e abertura para um bom diálogo, pois esta abertura melhora o engajamento do aluno opositor às regras escolares.

Se seu filho tem TOD, aí vão algumas dicas


  • Tenha cuidado ao discutir algo da relação de casal perto da criança (caso more com o cônjuge);
  • Nunca use de agressividade e violência;
  • Fortaleça a autoestima da criança, fazendo-a sempre se superar em boas ações;
  • Em absolutamente todas as situações utilize a boa conversa;
  • Trabalho em equipe com práticas de esportes e atividades em equipe geram disciplina, assim como cooperação e dinamismo;
  • Repreender sempre, porém, com calma e sabedoria;
  • E tenha muuuuuuuuuuita paciência!
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