Os resultados dos testes realizados nos últimos dias e hoje demonstraram uma infecção polimicrobiana do trato respiratório que levou a uma nova modificação da terapia. Todos os exames realizados até o momento indicam um quadro clínico complexo, que exigirá uma internação hospitalar adequada”, destacou o comunicado, publicado no perfil oficial do Vaticano no Instagram.
Este é o quarto dia de internação do pontífice, que sofre com a infecção no trato respiratório desde o início do mês. O pontífice foi levado para a Policlínica Agostino Gemelli, em Roma, na última sexta-feira (14), para realizar exames e seguir com o tratamento de um quadro inicialmente identificado como bronquite. Ele permanecerá no hospital pelo tempo que for necessário.
O porta-voz do Vaticano não informou se Francisco voltou a apresentar febre como no início da internação. Segundo os boletins médicos divulgados pelo Vaticano, ela vinha diminuindo ao longo dos dias.
Ainda de acordo com a publicação, Francisco teve uma boa noite de sono, tomou café da manhã e se dedicou à leitura de jornais. “Mantém o bom humor”, acrescentou o Vaticano em um comunicado divulgado às 9h desta segunda-feira (17) no horário de Brasília.
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O que é a infecção polimicrobiana das vias respiratórias
O termo infecção polimicrobiana é utilizado para o diagnóstico indica que a infecção é causada por mais de um agente microbiano, como vírus, fungos ou bactérias, podendo ocorrer em diversas partes do corpo, incluindo as vias aéreas. Trata-se de uma co-infecção, ou seja, a presença de múltiplos micro-organismos causadores de infecção, segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
No caso do pontífice, não foi divulgado quais agentes estão causando o quadro. O diagnóstico prévio de bronquite, embora não forneça detalhes específicos sobre a origem da condição, pode contribuir para a piora geral da imunidade, conforme explica a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
“Isso ocorre porque, após o início da inflamação [bronquite], o ambiente nos brônquios se torna propício à invasão de germes, especialmente quando o dano causado por um vírus favorece o crescimento de bactérias. A bronquite aguda, portanto, pode ser causada tanto por micróbios quanto por fatores não infecciosos, e a infecção bacteriana pode surgir como uma complicação”, disse Ricardo de Amorim Corrêa, presidente da SBPT.
Segundo Corrêa, os idosos são consideravelmente mais suscetíveis ao quadro devido à diminuição natural da resposta imunológica, tanto no sistema imunológico geral quanto na resposta local nos brônquios. O fato de o Papa Francisco não ter parte do pulmão, devido a uma complicação na juventude, torna o quadro mais delicado.
A gravidade de quadros inflamatórios infecciosos depende da extensão do comprometimento pulmonar. Isso pode dificultar a respiração, pois a inflamação nos brônquios [tubos que levam o ar para os pulmões] pode reduzir o fluxo de ar para os pulmões. O paciente precisa ter uma boa reserva ventilatória, ou seja, capacidade de respirar adequadamente, para lidar com essa maior demanda e limitação causadas pela inflamação”
“Se o paciente já tem parte dos brônquios comprometida, o problema pode ser ainda mais grave. Por exemplo, ele pode ter dificuldade em absorver oxigênio adequadamente, devido à inflamação, e, em alguns casos, pode ser necessário o uso de oxigênio suplementar. Se a condição piorar, pode ser preciso recorrer à ventilação mecânica”, explica Corrêa.
Para diagnosticar uma infecção polimicrobiana, diversos métodos podem ser utilizados. O mais comum é a coleta de amostras de escarro, uma vez que a inflamação nos brônquios favorece o aumento da secreção mucosa, cuja função é eliminar o agente agressor.
Essa secreção geralmente contém células inflamatórias, o que a torna amarelada ou esverdeada. A cultura dessa secreção permite identificar os agentes responsáveis pela infecção”, aponta o presidente da SBPT.
Dificuldade para identificar o vírus que causa a infecção
Mas a identificação de vírus tende a ser complicada, diz o especialista. “Por isso utiliza-se o método PCR [como foi feito para covid-19 e influenza], que permite identificar material genético do vírus. No entanto, a cultura viral é muito lenta e os meios para realizá-la são limitados.”
O tratamento, aponta o especialista, varia conforme o tipo de bactéria envolvida e sua sensibilidade aos antibióticos. Em infecções causadas por uma única bactéria, pode-se utilizar um antibiótico específico.
No entanto, quando há múltiplos germes presentes, é necessário recorrer a antibióticos de espectro mais amplo, capazes de combater diferentes tipos de bactérias. Se houver a presença de vírus, o tratamento pode incluir antivirais, além dos antibióticos.
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- Papa Francisco com tosse e dificuldade de falar em audiência semanal (Foto: REUTERS/Remo Casilli)
Papa não fez oração semanal na Praça São Pedro
O papa ainda pediu desculpas por faltar à oração semanal que faz aos domingos na Praça de São Pedro. Ele também não pôde conduzir uma missa especial para artistas em comemoração ao Ano Jubilar da Igreja Católica. Ofegante, Francisco disse ainda estar com bronquite e pediu para um assessor ler discurso.
Mesmo com a mudança de tratamento, os médicos do pontífice já haviam ordenado repouso absoluto e o papa teve que desmarcar todos os seus compromissos. Porém, no fim de semana, mesmo hospitalizado, ele continuou sua prática recente de fazer ligações para falar com membros de uma paróquia católica em Gaza, segundo informação da emissora italiana Mediaset.
Com informações de BBC Brasil e agências