Com 11 filhos e 13 netos, Ângela da Conceição, de 63 anos, viu sua vida se transformar quando engravidou aos 13 anos. Ela conhece bem o impacto social que a maternidade precoce tem sobre a vida da mulher, e aprovou o lançamento do Programa Acolhe, da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ), que atua na prevenção da gravidez não planejada na adolescência. Meninas adolescentes a partir dos 14 anos e jovens adultas até os 25 são o público-alvo do programa, que faz parte dos serviços do Ambulatório Médico de Especialidades Jornalista Susana Naspolini (AME), inaugurado em agosto no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, em Ipanema, Zona Sul do Rio.

“Trouxe minhas cinco netas para serem atendidas no Acolhe porque não quero que elas passem pelo que passei. Se eu tivesse tido acesso a um programa como esse, minha vida teria sido diferente. Tive que trabalhar de segunda a segunda para conseguir educar os meus filhos, com muito sacrifício. É importante poder planejar a maternidade”, contou Ângela.

Ãngela da Conceição, que tem 11 filhos e 13 netos. engravidou pela primeira vez aos 13 anos (Foto: Maurício Bazílio / SES)
O programa disponibiliza o dispositivo intrauterino (DIU) de cobre, pílulas e injeções anticoncepcionais, além do implante do contraceptivo subdérmico. Somente no primeiro mês de atendimento,  cerca de 420 jovens optaram pela colocação do implante anticoncepcional subdérmico ou do dispositivo intrauterino (DIU), indicado para as que têm mais de 16 anos. Diante da enorme procura em seu primeiro mês, a iniciativa inédita deve ampliar a capacidade de atendimento para 80 mulheres por dia a partir deste mês, superando mil atendimentos mensais.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informa que o programa atende todas as adolescentes e adultas, dos 14 aos 25 anos, independentemente do bairro em que elas moram. O novo serviço ocupa um andar inteiro dentro do Ambulatório Médico de Especialidades, que funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas. Para ter acesso ao atendimento, somente as menores de 16 anos precisam de autorização dos responsáveis. As demais, não. Pacientes menores de 18 anos que optem por contraceptivos implantados precisam apresentar autorização do responsável.
Todo o atendimento é gratuito, realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Após o primeiro mês de atendimento, as vagas passaram a ser oferecidas por meio da Central de Regulação do Estado (CER). Para ser inserida na regulação, basta que a interessada procure uma unidade básica de saúde ou clínica da família, levando carteira de identidade e cartão do SUS. Mais de 3.600 mulheres, entre 14 e 24 anos, entraram na regulação para o atendimento desde que o programa foi lançado em agosto.

Equipe realiza acolhimento e consultas

O Acolhe vai muito além do fornecimento de métodos contraceptivos e oferece palestras educativas e ginecologistas. No primeiro mês de atividades, o programa já realizou palestras com a participação de mais de mil mulheres.

O atendimento ocorre em duas etapas: Primeiramente, é feita uma palestra explicativa sobre prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos e esclarece sobre a exposição de mulheres a situações violentas. Em seguida, a paciente é encaminhada à consulta com um ginecologista para avaliação e possível disponibilização do método anticoncepcional escolhido.

“O Acolhe funciona com muita informação e aconselhamento contraceptivo, para que a jovem escolha de uma forma legítima e esclarecida qual é a melhor forma que se adequa a ela. Tem o implante, que é a grande novidade, e também o DIU de cobre que possibilita a contracepção de longo prazo, até 12 anos”, explicou a coordenadora do programa, ginecologista Ana Teresa Derraik (foto).

A equipe multidisciplinar do Acolhe é composta por 27 médicos, que realizam ação educativa, aplicação do contraceptivo e exames de ultrassonografia; além de 2 enfermeiros e 4 técnicos de enfermagem.

“Aqui no programa assisti a uma palestra que tirou todas as minhas dúvidas. Conversei com a ginecologista, com as amigas e isso tirou minha vergonha de procurar um método contraceptivo mais eficaz. É muito importante termos esses métodos gratuitos disponíveis aqui no Rio, porque a gente vive em um país onde a grande maioria das pessoas não tem condições de pagar para ter acesso a esse implante em clínica particular”, contou a estudante de contabilidade Rebeca de Lima.

Gravidez não planejada leva a evasão escolar

O Programa Acolhe promove palestras sobre a saúde da mulher e esclarece sobre como a gravidez precoce não planejada leva a condições sociais de difícil reparação, como a interrupção dos estudos e a entrada precoce e não qualificada no mercado de trabalho. Há ainda impacto na saúde, como as altas taxas de mortalidade materna e do recém-nascido.

A gravidez não planejada na adolescência está entre as principais causas da evasão escolar em todo o Brasil, principalmente no Ensino Médio e afeta principalmente alunas em condições mais vulneráveis. Pesquisa promovida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostrou que dois milhões de adolescentes deixaram a escola no Brasil, em 2022.

Desse total, 14% apontaram a gravidez como motivo para o abandono dos estudos. Em 2022, do total de 180.297 nascidos vivos no Estado do Rio de Janeiro, 777 foram de mães de até 15 anos e 19.347 tinham mães entre 15 e 19 anos, segundo dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC). Ou seja, 11,16% foram fruto de gestações precoces.

“O programa Acolhe, dentro do AME, é um grande sucesso. Nós já tínhamos expectativas e sabíamos dessa demanda das mulheres fluminenses, que queriam poder fazer um planejamento familiar. A gente está vendo isso no dia a dia pela procura e pelo sucesso nas redes sociais. Vamos levar o programa para outras localidades e ampliar o espectro de ação, além de oferecermos mais especialidades no AME”, relatou o secretário de estado de saúde, Doutor Luizinho. A unidade faz parte dos investimentos do Cidade Integrada, do Governo do Estado..

Fonte: SES-RJ

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