Com 11 filhos e 13 netos, Ângela da Conceição, de 63 anos, viu sua vida se transformar quando engravidou aos 13 anos. Ela conhece bem o impacto social que a maternidade precoce tem sobre a vida da mulher, e aprovou o lançamento do Programa Acolhe, da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ), que atua na prevenção da gravidez não planejada na adolescência. Meninas adolescentes a partir dos 14 anos e jovens adultas até os 25 são o público-alvo do programa, que faz parte dos serviços do Ambulatório Médico de Especialidades Jornalista Susana Naspolini (AME), inaugurado em agosto no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, em Ipanema, Zona Sul do Rio.
“Trouxe minhas cinco netas para serem atendidas no Acolhe porque não quero que elas passem pelo que passei. Se eu tivesse tido acesso a um programa como esse, minha vida teria sido diferente. Tive que trabalhar de segunda a segunda para conseguir educar os meus filhos, com muito sacrifício. É importante poder planejar a maternidade”, contou Ângela.
Equipe realiza acolhimento e consultas
O Acolhe vai muito além do fornecimento de métodos contraceptivos e oferece palestras educativas e ginecologistas. No primeiro mês de atividades, o programa já realizou palestras com a participação de mais de mil mulheres.
O atendimento ocorre em duas etapas: Primeiramente, é feita uma palestra explicativa sobre prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos e esclarece sobre a exposição de mulheres a situações violentas. Em seguida, a paciente é encaminhada à consulta com um ginecologista para avaliação e possível disponibilização do método anticoncepcional escolhido.
“O Acolhe funciona com muita informação e aconselhamento contraceptivo, para que a jovem escolha de uma forma legítima e esclarecida qual é a melhor forma que se adequa a ela. Tem o implante, que é a grande novidade, e também o DIU de cobre que possibilita a contracepção de longo prazo, até 12 anos”, explicou a coordenadora do programa, ginecologista Ana Teresa Derraik (foto).
A equipe multidisciplinar do Acolhe é composta por 27 médicos, que realizam ação educativa, aplicação do contraceptivo e exames de ultrassonografia; além de 2 enfermeiros e 4 técnicos de enfermagem.
“Aqui no programa assisti a uma palestra que tirou todas as minhas dúvidas. Conversei com a ginecologista, com as amigas e isso tirou minha vergonha de procurar um método contraceptivo mais eficaz. É muito importante termos esses métodos gratuitos disponíveis aqui no Rio, porque a gente vive em um país onde a grande maioria das pessoas não tem condições de pagar para ter acesso a esse implante em clínica particular”, contou a estudante de contabilidade Rebeca de Lima.
Gravidez não planejada leva a evasão escolar
O Programa Acolhe promove palestras sobre a saúde da mulher e esclarece sobre como a gravidez precoce não planejada leva a condições sociais de difícil reparação, como a interrupção dos estudos e a entrada precoce e não qualificada no mercado de trabalho. Há ainda impacto na saúde, como as altas taxas de mortalidade materna e do recém-nascido.
A gravidez não planejada na adolescência está entre as principais causas da evasão escolar em todo o Brasil, principalmente no Ensino Médio e afeta principalmente alunas em condições mais vulneráveis. Pesquisa promovida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostrou que dois milhões de adolescentes deixaram a escola no Brasil, em 2022.
Desse total, 14% apontaram a gravidez como motivo para o abandono dos estudos. Em 2022, do total de 180.297 nascidos vivos no Estado do Rio de Janeiro, 777 foram de mães de até 15 anos e 19.347 tinham mães entre 15 e 19 anos, segundo dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC). Ou seja, 11,16% foram fruto de gestações precoces.
“O programa Acolhe, dentro do AME, é um grande sucesso. Nós já tínhamos expectativas e sabíamos dessa demanda das mulheres fluminenses, que queriam poder fazer um planejamento familiar. A gente está vendo isso no dia a dia pela procura e pelo sucesso nas redes sociais. Vamos levar o programa para outras localidades e ampliar o espectro de ação, além de oferecermos mais especialidades no AME”, relatou o secretário de estado de saúde, Doutor Luizinho. A unidade faz parte dos investimentos do Cidade Integrada, do Governo do Estado..
Fonte: SES-RJ
Leia mais
Gravidez na adolescência pode levar a depressão e ansiedade
Jovens de comunidades do Rio terão programa de prevenção à gravidez
Gravidez na adolescência: um problema de saúde pública