No Brasil, a cada mil meninas, 68,4 se tornam mães ainda na adolescência. Atualmente, mais de 434,5 mil adolescentes se tornam mães por ano no país, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos de 2020. Na Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência (1 a 8 de fevereiro), profissionais de saúde, educação e áreas sociais alertam sobre a importância de disseminar informações educativas e preventivas para reduzir a incidência da gravidez na adolescência.

Agnaldo Lopes, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), afirma que diversos fatores contribuem para a gestação na adolescência, porém a desinformação sobre sexualidade, contracepção e direitos sexuais e reprodutivos é o principal motivo.
“Questões econômicas, sociais, psicoemocionais também contribuem para tal fato, inclusive a falta de acesso ao sistema de saúde, que nos leva à falta de acesso ao planejamento familiar e ao uso correto de contraceptivos”, completa.
Ainda encarada como tabu, a educação sexual é uma ferramenta poderosa de prevenção não só de uma gravidez precoce, mas também de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e de proteção contra a violência sexual na infância. Dados apontam que, diferentemente do que a grande maioria imagina, programas de educação sexual não servem de incentivo para o sexo.
Um estudo publicado no periódico Jama Pediatrics revela que ações focadas em saúde sexual na adolescência resultam, no âmbito comportamental, no aumento da abstinência e estimulam o uso da camisinha. Foram analisados 29 estudos, que envolveram 11.918 adolescentes afrodescendentes norte-americanos com idade média de 12,5 anos. Os afrodescendentes foram foco da equipe porque são mais afetados pelo risco de gravidez indesejada e ISTs, nos EUA e em diversos outros países.
“Esses dados nos mostram que precisamos abordar sexualidade de forma natural com nossas crianças e adolescentes, e abandonar o mito de que educação sexual pode erotizar ou incentivar a iniciação sexual precoce. A educação e a comunicação honesta, com linguagem adequada a cada faixa etária, são as principais e mais importantes ferramentas para que pais empoderem seus filhos. É através do conhecimento que eles saberão o que querem ou não querem e comunicarão isso de forma eficiente. Desconhecimento e dúvidas geram vulnerabilidade, riscos e exposição emocional”, explica o Dr. Agnaldo.

Fechamento de escolas na pandemia

Entre as causas de maternidade precoce estão os elevados índices de casamentos infantis, organizados pelas próprias famílias, a extrema pobreza, a violência sexual e a falta de acesso aos métodos anticoncepcionais. Esse problema de saúde pública eleva a prevalência de complicações gestacionais, além de abraçar problemas socioeconômicos ao induzir um ciclo vicioso de baixa escolaridade e pobreza.

Para Gabriel Monteiro, ginecologista, obstetra e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro, mais um fator pesou muito nesse cenário em 2020 e 2021: o fechamento das escolas em razão da Covid-19.

“Com as escolas fechadas, perde-se muito além da educação: perde-se também o contato social, o apoio de colegas e professores, o acesso a informações sobre saúde e direitos sexuais e reprodutivos, sendo que esses efeitos negativos recaem principalmente sobre as meninas. E quando se fala da população carente, depois que as meninas abandonam a escola e passam a ajudar em casa, a colaborar com a subsistência da família, geralmente é muito difícil elas voltarem”, destaca.

Com Assessorias

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