Além de um patrimônio natural, a biodiversidade é uma aliada estratégica da ciência e a perda contínua de espécies animais e vegetais compromete diretamente o desenvolvimento de novos medicamentos. Segundo estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), cerca de 50% dos medicamentos modernos têm origem em compostos naturais.
A aspirina, por exemplo, foi desenvolvida a partir da casca do salgueiro (Salix alba), enquanto o taxol, usado no tratamento de câncer, veio da árvore Taxus brevifolia. Já o captopril, eficaz contra hipertensão, foi inspirado em componentes do veneno da jararaca. São exemplos de como cada uma dessas espécies, que ainda não estão em extinção, mas em estado de vulnerabilidade, carrega um potencial terapêutico único, que pode desaparecer antes mesmo de ser descoberto.
Andreia Giannetti, professora de Engenharia Química da FEI (Fundação Educacional Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros), destaca que a natureza é um verdadeiro laboratório vivo, onde evoluções químicas e biológicas ocorrem há milhões de anos.
A extinção de uma espécie antes que seja estudada é como queimar um livro inédito: perdemos moléculas, enzimas e genes que poderiam originar medicamentos, vacinas ou biotecnologias inovadoras”, afirma.
Segundo a professora, além das plantas e animais, microrganismos também são peças-chave para a medicina e a indústria. Bactérias do gênero Streptomyces são responsáveis por mais de dois terços dos antibióticos em uso clínico.
Fungos endofíticos são capazes de produzir substâncias com ação anticâncer, e enzimas de microrganismos são usadas em tratamentos, testes laboratoriais e terapias genéticas. No entanto, apenas uma fração dos microrganismos existentes foi estudada — e muitos estão desaparecendo junto com seus habitats.
Por abrigar parte dos biomas mais ricos do planeta como Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, o Brasil está no centro desse debate. No entanto, essa biodiversidade vem sendo perdida em ritmo acelerado. Segundo dados do MapBiomas, o país perdeu cerca de 20% da vegetação nativa desde 1985, e mais de 1.300 espécies estão ameaçadas de extinção, de acordo com o ICMBio.
Essas regiões têm um potencial gigantesco para gerar inovação, mas enfrentam sérios desafios: escassez de investimentos em pesquisa, dificuldades de acesso e entraves legais relacionados ao uso do patrimônio genético”, explica Andreia.
A professora ressalta que a relação entre biodiversidade e medicina mostra que a natureza ainda guarda respostas para muitos dos desafios da ciência. “A medicina poderá enfrentar um futuro com menos opções terapêuticas, menor capacidade de resposta a doenças emergentes e maior vulnerabilidade à resistência microbiana. Preservar e estudar os ecossistemas brasileiros, portanto, representa uma oportunidade concreta de ampliar o conhecimento científico e desenvolver novas tecnologias voltadas à saúde e à qualidade de vida”, finaliza a professora da FEI.
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Mata Atlântica: biodiversidade sob ameaça exige atenção urgente
Bioma que abriga mais de 20 mil espécies de plantas e animais tem apenas 12% de sua cobertura original preservada no Brasil.
A Mata Atlântica é um dos ecossistemas mais ricos e ameaçados do planeta. Originalmente, cobria cerca de 1,3 milhão de km² do território brasileiro, estendendo-se por 17 estados e abrigando uma diversidade única de flora, fauna e culturas. Hoje, restam apenas cerca de 12% da vegetação original, fragmentada e sob intensa pressão humana.
O bioma é estratégico: regula o clima, protege o solo, abriga nascentes e fornece água para mais de 70% da população brasileira. É também um reduto de biodiversidade impressionante. Segundo a Britannica Escola, o Brasil é um dos 17 países megadiversos do mundo, concentrando cerca de 20% de todas as espécies descritas – e a Mata Atlântica é um dos principais refúgios dessa vida. Estima-se que o bioma abriga mais de 20 mil espécies de plantas, além de milhares de animais — incluindo espécies endêmicas e ameaçadas de extinção.
No entanto, a expansão urbana desordenada, a conversão de florestas em pastagens ou monoculturas e a perda contínua de habitat colocam a biodiversidade da Mata Atlântica em risco crescente. Mudanças climáticas, poluição, espécies invasoras e tráfico de animais silvestres também agravam a situação.
Apesar do cenário preocupante, há esperança. Iniciativas de restauração ecológica vêm ganhando força, como o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, que já mapeou mais de 1 milhão de hectares com potencial de regeneração. Governos, organizações não governamentais, setor privado e comunidades tradicionais vêm unindo forças para proteger o que resta e recuperar áreas degradadas. A restauração florestal não apenas protege espécies ameaçadas, mas também gera empregos, promove inclusão social e contribui para a mitigação das mudanças climáticas.
Agenda Positiva
Cristo Redentor será iluminado no Dia Internacional da Biodiversidade
O final do mês de maio marca o início de um importante período de mobilização ambiental. O Dia Internacional da Biodiversidade, celebrado em 22 de maio, e o Dia Nacional da Mata Atlântica, em 27 de maio, chamam a atenção sobre a urgência da conservação, e a conscientização continua em junho, com a Semana do Meio Ambiente, que culmina no Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho.
Nesta quarta-feira, 22 de maio, às 20h, o Monumento ao Cristo Redentor será iluminado em verde em homenagem ao Dia Internacional da Biodiversidade, data proclamada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para reforçar o compromisso global com a preservação da vida em todas as suas formas.
Do alto do Morro do Corcovado, o Santuário Cristo Redentor se junta a esse movimento internacional, lançando luz sobre a urgência ecológica que marca o tempo presente. O Brasil, um dos países mais biodiversos do planeta, enfrenta desafios críticos como o desmatamento, as mudanças climáticas e a perda de habitats. A homenagem, portanto, não é apenas simbólica: é um apelo à ação.
O gesto ganha ainda mais profundidade ao ocorrer na semana em que o mundo se prepara para celebrar os 10 anos da Encíclica Laudato Si’, escrita pelo Papa Francisco, um documento histórico que clama por uma “ecologia integral” e por uma conversão ética e espiritual em relação à crise ambiental.
Iluminar o Cristo Redentor em verde nesta noite é transformar o monumento em um farol para o movimento global pela sustentabilidade”, afirma o reitor do Santuário Cristo Redentor, Padre Omar. “É dar visibilidade à mensagem da Laudato Si’, que nos ensina que tudo está interligado: o grito da terra e o grito dos pobres são o mesmo. Ao iluminar o Redentor, reafirmamos que a fé cristã está ao lado da vida, da justiça social e do cuidado com a Casa Comum.”
A iluminação especial também expressa a vocação do Santuário como referência em espiritualidade, educação e engajamento socioambiental. Por meio do Consórcio Cristo Sustentável, que articula fé, governança e responsabilidade ambiental, o Cristo Redentor se consolida como ícone mundial de acolhimento, paz e compromisso com as futuras gerações. Recentemente, o monumento iniciou o processo de certificação climática rumo ao carbono zero, reafirmando sua missão de unir espiritualidade e ação concreta em defesa da natureza.