Por Latife Salamão Tyszler*
Na semana dedicada ao Dia Mundial da Obesidade (4 de março) é importante chamar a atenção de todos, principalmente dos pais e responsáveis, para uma questão que é um grande problema de saúde pública em todo o mundo. A obesidade é uma doença complexa e de causas multifatoriais, considerada grave, crônica e progressiva.
O atual panorama da obesidade infantojuvenil no mundo indica que em 2025 o número de crianças e adolescentes, de 5 a 19 anos, com obesidade será de 206 milhões. A projeção é que a doença atinja 254 milhões de crianças e adolescentes em 2030.
Vale ressaltar que a prevalência mundial de obesidade quase triplicou entre 1975 e 2016, mais de 340 milhões de crianças e adolescentes, entre 5 e 19 anos, se tornaram obesos.
Em se tratando de Brasil, o panorama da obesidade infantojuvenil também é bastante preocupante. Menores de cinco anos apresentam sobrepeso de 7% e 3% de obesidade. Já na faixa de 5 a 19 anos os índices de sobrepeso sobem para 19% e de obesidade 7%.
Prevenção da obesidade começa na gravidez
Importante observar que quando falamos de obesidade, não devemos esquecer de que a prevenção é possível e deve ser posta em prática. Ela precisa começar ainda na gravidez, pois a alimentação da mãe está diretamente ligada ao peso do feto. Mães que ingerem alimentos muito gordurosos aumentam o risco para a obesidade infantil de seus filhos.
Entre os cuidados que devem ser tomados para reduzir os índices de obesidade estão: aleitamento materno exclusivo do nascimento até os seis primeiros meses de vida; alimentos complementares só devem ser oferecidos aos bebês a partir do sexto mês de vida, sendo os mais saudáveis possíveis.
Os sucos de fruta natural, assim como os industrializados e as bebidas açucaradas, devem ser evitados. Fast food e sobremesas devem ser banidos da alimentação nessa fase.
Para crianças que frequentam a escola, é importante ressaltar que a lancheira deve ser composta de forma saudável com frutas, sanduiches e, de preferência, água.
Os pais ou cuidadores devem evitar que as crianças consumam alimentos processados e ultra processados, biscoitos, chocolates, balas, pirulitos e qualquer tipo de sucos, bebidas açucaradas e refrigerantes.
Abstenção das telas até 2 anos, exercícios e sono
Outro ponto fundamental é estimular a atividade física de acordo com a capacidade de cada criança. O ideal seria a prática de atividades 1 hora por dia e, no mínimo, três vezes por semana. Outro fator relevante para prevenir a obesidade é estipular o tempo de uso de telas.
Crianças abaixo de dois anos não devem ter nenhum contato com telas; entre os de 2 a 5 anos o ideal é que o acesso seja de, no máximo, uma hora por dia com a supervisão dos pais ou cuidadores.
No caso de crianças entre 6 e 10 anos, 1 a 2 horas por dia com supervisão dos responsáveis. Entre crianças e adolescentes de 11 e 18 anos, o ideal é que tenham acesso por 2 a 3 horas por dia. Atenção: nunca permitam que eles virem a noite jogando.
No que diz respeito ao sono, estudos recentes mostram que dormir pouco está associado a um aumento da ingestão alimentar, ampliando ainda mais o risco de obesidade. .
Consequências da obesidade na infância e adolescência
O grande risco para a criança com obesidade é que ela pode desenvolver doenças metabólicas como: resistência insulínica, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, problemas ortopédicos, sofrer bullying (alterações psicossociais) e esteatose hepática (gordura no fígado)
A obesidade também pode comprometer o crescimento, pois pode induzir a uma puberdade antecipada, ou rapidamente progressiva, com o fechamento precoce do osso e baixa estatura.
Importante salientar que o diagnóstico de obesidade pode ser feito de várias maneiras. Um método considerado fácil se dá pelo índice de massa corpórea, basta saber o peso e a altura, mas, infelizmente, esse método não diferencia massa gorda de massa magra, somente pela bioimpedância.
Tratamento pode incluir uso de medicação
O tratamento contra a obesidade consiste em instituir uma mudança de estilo de vida, orientação alimentar e atividade física. Até pouco tempo, esses eram os únicos tratamentos possíveis para obesidade em crianças e adolescentes.
Porém, em 2020, foi aprovada pela Anvisa o uso de uma medicação que atua no sistema nervoso central, levando à perda de peso. Outra ação relacionada ao uso dessa medicação é a diminuição do esvaziamento gástrico com a sensação de estomago sempre cheio.
Este ano houve a liberação de uma nova medicação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que proporciona uma perda de peso de quase 15%. Mas atenção: esses medicamentos só podem ser usados para maiores de 12 anos acima de 60 quilos.
Ao perceber a obesidade numa criança, o pediatra encaminha para um especialista e somente esse profissional pode prescrever a medicação, quando necessário.
* Presidente do Departamento de Endocrinologia Pediátrica da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (Soperj) e membro do Comitê de Obesidade Infantil da Abeso