Bruna Lauer tinha uma vida comum até os 30 anos. Formada em Publicidade, costumava trabalhar em agências, era casada e vivia na correria da cidade grande. Até que se viu refém de duas doenças graves, uma infecção na coluna e um câncer de mama, que a fizeram despertar para uma nova visão de mundo. E foi assim que ela transformou seu momento de dor em uma história de evolução pessoal.
Tudo começou em dezembro de 2016, com seu corpo dando sinais de que não estava bem de saúde. Ela precisou fazer uma cirurgia para retirar um cisto no ovário e acabou contraindo uma bactéria hospitalar, que resultou em um grave problema na coluna. Seus planos eram voltar ao trabalho e continuar o tratamento, mas teve uma complicação e, ali, as coisas começaram a mudar de verdade.
Primeiro, teve certeza que não poderia voltar a trabalhar naquelas condições, ela conta que era algo maior que o físico. “Eu comecei a enxergar o mundo com outros olhos, era como se eu finalmente tivesse acordado. Eu estava apenas sobrevivendo e agora percebi a vida de outra forma”, conta Bruna.
Mudança nas relações familiares
A publicitária nunca teve uma boa relação com o pai, que era distante e não a contatava. Uma das grandes mudanças foi voltar a falar com ele, depois de anos, e perceber que a sua mãe, a pessoa que mais idolatrava no mundo, era uma pessoa normal, com qualidades e defeitos. “Fui entendendo que as minhas relações eram histórias inventadas e não faziam mais sentido”, relembra.
Ao longo de 5 anos, desde a primeira cirurgia até o fim do tratamento, a vida foi colocando muitos desafios no seu caminho. Se divorciou, discutiu sobre suas decisões com sua mãe – e até sua psicóloga trocou de carreira. Ela se viu abandonada, sem apoio e sem suporte algum. “Naquele momento eu só tinha eu mesma, tive que encontrar forças dentro de mim para sobreviver”, conta Bruna.
Nesse processo, um ano depois, em abril de 2019, ela descobriu um câncer de mama. “Era como se eu estivesse mais preparada para receber aquela notícia. Eu percebi que, de alguma forma, meu corpo estava querendo se comunicar comigo. Eu não estava conseguindo lidar com as minhas emoções e o meu corpo reagiu”, diz.
Opção por um tratamento não convencional
Ela afirma que não esperava enfrentar um câncer, mas foi como se aquele momento a desse mais forças para lidar com os desafios que a vida estava trazendo. Bruna decidiu lidar com a doença de um modo não convencional, tanto na forma de encarar a doença, como na de tratá-la. Optou por um tratamento voltado à medicina alternativa e decidiu não fazer a retirada total da mama. Os processos de transformação seguiram e naquele momento, floresceu a Bruna escritora e palestrante.
“Com a doença, eu sentia que tinha que colocar minhas emoções para fora. Os textos vinham e eu apenas escrevia. Comecei a publicá-los nas minhas redes sociais, que não usava há anos, e foi uma comoção geral. As pessoas os liam e sentiam-se inspiradas pelas coisas que eu estava falando”, afirma.
Assim, nasceu o livro “Uma Oitava Acima”. Nele, conta com detalhes seu processo de cura, descobertas, abandono e perdas. Nessa busca de si mesma, a publicitária se redescobriu.
“Entrei em contato com um dom que eu não sabia que tinha, que é saber contar histórias e inspirar através delas”, diz Bruna, ao reafirmar seu desejo de ajudar pessoas através de suas experiências.
Curso de Cuidados Integrativos e a vida no campo
Na busca de entender melhor sobre saúde, se matriculou em um curso de teorias e técnicas em Cuidados Integrativos da Unifesp. A proposta não era exclusiva para profissionais de saúde, pois não habilitava o aluno a se tornar um terapeuta em alguma técnica específica.
O programa consistia em aulas teóricas e vivenciais das mais diversas técnicas terapêuticas existentes atualmente. O objetivo era ensinar, através da experiência, o cuidado de si – que antecede ao cuidado do outro. É possível conhecer um pouco mais na página do curso https://www.
Durante o curso, ela conheceu o atual companheiro, o músico Jaya Vitali, em um curso sobre cuidados integrativos na Unifesp. Começaram a se relacionar no início de 2020, quando Bruna estava no final do tratamento. Resolveu, então, largar a cidade grande, pediu demissão e foi viver com o Jaya no campo.
“Sempre tive o desejo de morar no interior, mas não sabia que seria em um sítio, foi um resgate da minha infância”, conta Bruna, que tem uma vida tranquila em Monteiro Lobato, no interior de São Paulo.
Ali, encontrou seu refúgio longe da agitação a que estava acostumada e tem se aprofundado no processo de autodescoberta e amor próprio. Seu parceiro Jaya, músico experiente há mais de 30 anos, a ajudou a entender melhor o universo artístico. Eles pretendem transformar suas vivências no campo em projetos de acolhimento para outros e relatam como foi libertador a mudança para uma vida mais saudável, longe do padrão e automatismo que a sociedade impõe. “As escolhas estão
ligadas a liberdade”, finaliza Vitali.
Confira a entrevista exclusiva da autora à seção SuperAção, do Portal ViDA & Ação, no Especial Mulher:
– O que sentiu quando recebeu o diagnóstico da infecção na coluna? Chegou a pensar que era “uma sentença de morte”?
Bom, vale dizer o processo. Então, primeiro eu tive um cisto no ovário, fiz a cirurgia e nesse pós operatório, que deveria ter sido simples, eu tive uma série de complicações. Aparentemente eu estava me recuperando, mas duas semanas depois eu já comecei a me sentir muito mal e foram várias idas ao pronto socorro, fazendo diversos exames e não tendo diagnóstico. O mais próximo que os médicos chegaram é que eu estava com uma questão muscular, mas eu sentia que alguma coisa continuava errado.
Então, no primeiro momento que recebi o diagnóstico, que foi até de uma certa forma acidental, eu mesma pedi um exame para o médico dentro dessa sensação de que algo estava errado. Levei um exame anterior que não tinha muito a ver e a pessoa que fez o laudo trouxe essa possibilidade, sendo que nem dava pra ele enxergar direito. Eu tive que repetir um outro exame para que pudesse chegar de fato ao diagnóstico.
E no momento em que eu recebi o diagnóstico, a primeira sensação foi de alívio. Eu não tinha a dimensão do que aquilo significava, mas pelo menos sabia que poderia, então, tratar e que não era uma coisa da minha cabeça. Foi tudo muito rápido. Eu recebi o diagnóstico, passei no mesmo dia com um infectologista, saí da consulta às 21h00 e os médicos queriam me operar.
No dia seguinte fiz a escolha de seguir com um neurocirurgião que eu já conhecia e ele me acalmou bastante. Disse que não era pra me desesperar, que era uma cirurgia de urgência, mas não de emergência, que eu poderia esperar mais três dias. E foi assim que foi conduzido. Então eu estava de uma certa forma um pouco mais tranquila.
Fui pra cirurgia mais o que aconteceu foi que eu recebi a biópsia, a confirmação da bactéria que eu tinha, porém, por um outro lado, ao tomar a medicação indicada o meu corpo não teve uma reação esperada e aí eu vivi outra infecção dez dias depois, entre Natal e Ano Novo, eu estava operando mais uma vez a coluna.
Dessa vez, eu fiquei bem desestruturada emocionalmente. Eu senti de fato medo de morrer, em específico na cirurgia. Eu estava bem assustada de ter que entrar num centro cirúrgico, mais uma vez, muito debilitada fisicamente e muito desgastada emocionalmente. Depois dessa segunda cirurgia na coluna, eu fiquei internada por mais duas semanas e foi nesse período que eu sinto que comecei a refletir e brinco que acordei.
Eu tive uma nova compreensão da vida. Durante esse processo, eu entendi que a minha velhice não era garantida, que eu poderia sim morrer a qualquer instante e isso fez com que eu começasse esse processo de transformação de muitas coisas na minha vida, a balancear as diversas escolhas e mudar de fato os meus valores.
– E depois no câncer de mama, como foi a sua reação com o diagnóstico e o tratamento?
Quando recebi o diagnóstico do câncer, mais uma vez, não estava imaginando. Eu senti um nódulo, mas estava muito confiante. Eu não tinha um histórico familiar, então, estava bem certa que não seria um câncer de mama. No dia do ultrassom, quando eu vi o nódulo, eu já mudei um pouco de opinião. Não me senti mais tão segura e quando veio o diagnóstico, de uma forma indireta, porque a pessoa que fez o exame no laboratório, que foi super atenciosa, uma pessoa super cuidadosa, não teve autorização para me passar o resultado, mas ela precisava comunicar primeiro a minha médica. Então ela me pediu o telefone da médica e quando não veio uma afirmação de que não era um câncer, eu já tinha entendido a resposta.
No primeiro momento eu estava mais uma vez muito confiante. Eu tinha certeza que eu iria me curar, tinha certeza que ia passar por mais essa. Eu estava com duas amigas que tinham estado próximas durante esse desafio da coluna e elas me deram muita força. Falaram que eu já estava preparada, mas quando eu fui na minha consulta com a oncologista, foi mais difícil. Ela é uma médica maravilhosa, uma pessoa super estudada, muito embasada. Mas eu achei muito curioso, porque quando ela quis me dizer que as minhas chances de cura eram altas, eu escutei, então, que poderia morrer. E aí neste momento eu senti realmente, mais uma vez, que tudo poderia acabar.
Eu sou uma pessoa otimista por natureza e acho que consegui não entrar dentro dessa energia por um período longo e rapidamente fiquei ali, mergulhada no que eu estava vivendo, tentando entender porque eu precisava passar por essa situação mais uma vez. Conforme fui chegando em respostas que acalmavam o meu coração, a forma que eu encaro a doença, de certa forma, até com um olhar mais espiritualizado, fui me acalmando e ali sabia que ficaria curada. Mas o primeiro impacto foi contar para as pessoas.
Era muito difícil também, porque mesmo estando mais tranquila, as pessoas encaram como uma sentença de morte. Então era difícil ter que lidar, inclusive com o medo, a insegurança e as experiências que as pessoas têm. Todo mundo conhece alguém que teve um câncer, então, tem uma bagagem que é diferente do que aconteceu com a infecção na coluna, que ninguém nem entendia que era grave.
– Quais terapias da ‘medicina alternativa’ fez uso? Teve resultados?
Na verdade, eu fiz algumas frentes diferentes. O que eu acompanhei de fato durante o meu processo foi o Reiki, eu tinha uma amiga que me tratou e diversas pessoas que me colocaram em correntes e que fizeram tratamentos pontuais. O Reiki é considerado uma pequena prática integrativa, mas as outras formas foram mais subjetivas, não dentro da área da medicina. Fiz tratamento em um centro espírita, que cuida de processos de curas, ele é direcionado para pessoas que estão passando por algum problema físico.
Também fiz um tratamento com um amigo, a técnica se chama “BioEnergetics Medicine”, é uma sigla “B.E.M”. É uma técnica que atua no campo vibracional do próprio corpo, ela não é uma técnica espiritual, mas ela vai, na verdade, colocar o seu corpo em um estado de relaxamento para que ele consiga fazer os processos de cura. E ao mesmo tempo fiz o processo da quimioterapia, a cirurgia, a radioterapia e depois a quimioterapia oral. Tudo isso aconteceu concomitantemente.
Na época, eu até brincava e falava para as pessoas que eu nunca saberia o que me curou. Muitas pessoas católicas me colocaram em correntes de oração. Muitas pessoas espíritas me colocaram em corrente de oração. Então, sinto que fiz o uso de todos os recursos que estavam ao meu alcance e tive um resultado positivo, porque fui cura do câncer. Não era um tumor agressivo, quando iniciei o tratamento, um deles tinha quatro centímetros e meio e o outro, um pouco menor, tinha dois centímetros.
Mas ainda assim, dentro da visão da medicina, ele era complexo e eu sinto que passei muito bem ao longo do tratamento. Tirando a quimioterapia oral, que foi um momento em que estava abalada emocionalmente e, de novo, foi totalmente contra as possibilidades. Entendo que fora essas etapas, todos esses tratamentos, com certeza, me ajudaram, tanto fisicamente, quanto emocionalmente, quanto mentalmente.
Continuei também, fazendo terapia que eu já fazia e ao longo desse processo, entrei no curso de “Cuidados Integrativos”. Eu tinha acabado a quimioterapia quando começou o curso e acredito que foi esse o conjunto que me trouxe para esse resultado.
– Por que decidiu não seguir o que os médicos recomendavam – a cirurgia para retirada da mama?
Eu decidi não seguir com a cirurgia da retirada de mama por alguns fatores, mas em especial, acredito que poderia dizer que começou a partir do meu próprio estudo. Eu sinto que a gente, socialmente, enxerga o médico como uma pessoa que sabe mais, mas eu li esse livro, “O Anticâncer”, que foi escrito por um médico. Ele explica um pouco o que significa uma média de vida.
Vou dar um exemplo, assim que recebemos o diagnóstico de câncer os médicos costumam dizer sua média de vida. Minha mãe também teve um câncer e ela recebeu uma previsão de, mais ou menos, quanto tempo viveria. E lá nesse livro o médico explica, por exemplo, qual média tem uma pessoa que viveu dois meses e uma pessoa que viveu 15 anos para que chegue numa média de dois anos. E ele fala sobre isso.
Quando estava estudando, entendi que a medicina tinha essa necessidade de trabalhar com a média, mas quando você é o portador da doença, você não quer, de fato, trabalhar com a média. Você quer trabalhar com as suas reais e concretas possibilidades. E aí você vai observando, o próprio caminho e o desenvolvimento do seu tratamento.
Eu tenho certeza, que o tratamento do câncer vai evoluir muito ainda, e que a gente vai chegar em um momento onde consiga tratar especificamente o câncer sem afetar todo o organismo de uma certa forma, porque isso acontece, é uma medicação muito forte e que desequilibra outras coisas que estavam anteriormente saudáveis.
Quando eu entendi e fui contra essa recomendação, não fui contra uma recomendação de tratamento, fui contra uma recomendação de prevenção. Então, o combinado que eu tinha com o mastologista que fez a minha cirurgia foi de tirar o pedaço onde estava o tumor e se no entorno ainda houvessem células cancerígenas, então, a abordagem de tirar toda a mama poderia ser feita, ela não seria uma abordagem preventiva, mas sim, uma abordagem de tratamento.
Ele não poderia deixar células cancerígenas na minha mama. Dentro dessa cirurgia, eles fazem biópsia na hora. Porém, o que eu escolhi foi não retirar as minhas mamas, então, saudáveis para prevenir um câncer que eu não tinha. Recentemente, no final do ano passado, escutei uma mastologista falando que essa tendência, de recomendar a retirada das mamas, está em cheque também.
Foi uma coisa que me fez parar para pensar, porque o que vale hoje, não necessariamente, vai valer daqui um, dois ou três anos. Isso acontece bastante, a medicina é uma ciência viva e as coisas estão em andamento, mas tiveram alguns outros motivos bem específicos.
Dos três médicos que eu consultei, dois deles tiveram a experiência de ter retirado as mamas e as mulheres terem um câncer novamente. Uma era uma reincidência e a outra pessoa não tinha tido um câncer, ela fez a escolha de retirar a mama preventivamente e veio a ter um câncer depois. Então, é a minha própria experiência pessoal, isso me mostrou que fui a exceção em diversos momentos da minha vida.
Eu tenho uma mutação genética, mas veio da linhagem do meu pai, o que não é comum. A minha avó materna, provavelmente, teve um câncer porque ela morreu de câncer de pâncreas, que também vem dessa mutação genética. Ela chegou a ter tumor na mama, mas não fez quimioterapia na ocasião, isso tudo com 60 anos, que não é uma característica comum. Eu tive uma infecção na coluna depois de uma laparoscopia no Hospital Santa Joana, com menor índice de infecção hospitalar de São Paulo. Todos esses indícios me fizeram perceber que nada é 100% certo.
A medicina não conseguiria me dizer que ao fazer esse tratamento, eliminaria todas as chances e mesmo eliminando, dentro da forma como eu enxergo a doença, como uma forma do corpo comunicar processos que estão em desequilíbrio. Seja uma alimentação ruim, a falta de exercício físico, seja mental, seja emocional. Sinto que se não fosse um câncer de mama, o meu corpo teria encontrado outro caminho para apresentar esse desequilíbrio.
Então, por esses muitos fatores, eu optei por não seguir com essa recomendação e inclusive com a recomendação da retirada dos ovários também, porque essa é a ideia. Eu sinto que esses processos seriam hoje, no meu momento de vida e com a minha cabeça atual, muito violentos e teria mais dificuldade em lidar com a decisão de fazer essa escolha do que ter que lidar com toda essa questão de acompanhar e prevenir de outras formas que a doença não volte.
– A maternidade é um sonho que pretende realizar?
Sempre foi um sonho da minha vida, sempre tive esse desejo de de gestar. Quando eu recebi o diagnóstico do câncer, a médica me disse que eu teria a possibilidade de congelar óvulos. Isso é um procedimento particular e dentro dos meus privilégios, tinha essa possibilidade financeira. Mas eu tive que tomar essa decisão em 24 horas. Ela me contou isso numa segunda-feira e até terça-feira, no final do dia, eu precisava dar a resposta para ter tempo da medicação chegar e eu conseguir fazer o processo que dura duas semanas e não adiar mais o início da minha quimioterapia, pois precisava controlar a doença.
Eu tomei essa decisão, hoje, ainda tenho óvulos congelados, mas no ano passado essa questão voltou à tona. Na verdade, há dois anos a minha mãe faleceu e eu senti que isso me trouxe em contato com essa questão da maternidade de novo. Mas com a cabeça de hoje, com a pessoa que eu sou hoje, com a forma como eu vejo a vida, eu entendo que existe algo além de mim, maior do que eu, que sabe melhor do que eu e o que é melhor ou pior para mim. Então, não me vejo fazendo uma inseminação artificial.
Eu me vejo observando, aguardando, entendendo sinais e sentindo. Estou aberta, se por acaso, vir a ter essa experiência na vida. Agora, se eu não vir a ter essa experiência, talvez eu lide com a frustração, mas eu prefiro dessa forma. Com a minha experiência, eu entendi que não queria lutar, remar contra a maré. Eu acho que a vida, muitas vezes, permite a gente realizar os nossos desejos, as nossas vontades. Mas eu não tive essa vontade e entendo que a gente perde muita energia. Hoje eu me sinto muito mais aberta a escutar os caminhos que a vida propõe.
Tenho certeza que não ter filhos também impactou em todas as minhas decisões, elas são pautadas no que eu enxergo sendo melhor para mim. Acredito que se eu tivesse filhos, talvez eu refletisse de um outro lugar. Não sei se eu tomaria ou não as mesmas decisões, mas eu tenho certeza que eles teriam que entrar na conta dessa elaboração. E hoje eu sinto que não tenho essa intenção, é muito hipotética, então, não conseguiria nem pensar sobre isso.
– Vida no campo x vida na grande cidade: quais as principais diferenças e como impactou na sua qualidade de vida?
Quando eu fiquei doente, comecei a enxergar importâncias diferentes, então comecei a observar que a cidade era um ambiente promotor de stress de uma certa forma, seja através do trânsito, seja através da poluição sonora, da quantidade de estímulo que a gente tem na cidade. Meu pai tem um sítio e eu passei a minha infância toda ali. O meu avô, era veterinário de animais de grande porte, então, a natureza sempre fez parte da minha vida e por um período eu acabei me afastando, voltada muito para o meu desenvolvimento profissional, para acúmulo de dinheiro, com medo do que poderia acontecer com a minha vida.
Eu já pensava em morar numa cidade do interior, onde eu pudesse ter outro tipo de qualidade de vida. Quando eu conheci o meu companheiro, ele já morava na zona rural em Nazaré Paulista e isso pra mim já me abriu a mente. E foi bem interessante, porque eu nunca tinha pensado em morar no sítio, apesar de ter vivido muito, indo aos finais de semana para, nunca tinha pensado que morar no sítio seria uma possibilidade.
E aí, logo em seguida veio a pandemia com a possibilidade do home office, fui conseguindo colher frutos dos dois mundos. Foi um processo de transição, de fato, no sentido de que no primeiro momento foi muito gratificante realmente abrir a janela e enxergar o verde. Você percebe a mudança da estação, percebe as fases da lua, os animais, o ciclo da natureza. Você percebe a vida. A natureza ensina de uma forma que muitas vezes você vai tentar estudar num livro e não vai conseguir aprender da mesma forma. Mas eu ainda achava que precisava estar perto de São Paulo, tinha uma dependência emocional dos meus amigos, da minha família, um desejo de poder estar em contato com espaços artísticos que São Paulo promove, eu ainda tinha essa necessidade.
Hoje, depois de três anos morando na zona rural, não me vejo morando em São Paulo novamente. Acredito que talvez, algum dia poderia morar numa zona urbana de uma cidade pequena, apesar de ainda achar que o sítio é o lugar que o meu coração de fato se satisfaz. Acredito que não é uma escolha de vida para todas as pessoas, porque muitas vezes, eu posto uma foto de uma lagartixa que acho uma graça e as pessoas não conseguem olhar porque elas têm pavor de inseto. Então, eu olho e falo tá bom, não é para todas as pessoas.
Você fica muito mais na sua própria companhia, sabe. Você fica muito mais suscetível aos fenômenos naturais, a natureza te afeta completamente. Aqui em Monteiro Lobato isso se acentua ainda mais. Mas eu sinto, de fato, que eu diminuí imensamente o meu estresse, a minha ansiedade e, mais do que tudo, sinto muita inspiração. Quando eu acordo e tem um passarinho morto na minha varanda, ele me ensina. Quando eu acordo e vejo um botão de rosa abrindo, ele me ensina. Então, eu estou aberta para essa relação. Aprendo diariamente e me fascino com essa natureza que se transforma todos os dias e isso me preenche.
Mas acredito que não é para todos, gosto de comunicar que existe essa possibilidade, porque acho que muitas pessoas nem pensam nessas possibilidades de viver em um sítio, como eu também não pensava antes, mas eu tenho consciência, por isso recomendo. Faça um teste drive. Vai e experimenta. Tem níveis de naturezas diferentes, níveis de isolamentos diferentes. E acho que, de uma certa forma, a gente consegue sempre encontrar alguma coisa que combine com a gente.
– Fale mais sobre o projeto de “transformar suas vivências no campo em projetos de acolhimento para outros”.
Com relação às vivências, esse é um trabalho que a gente faz como uma outra forma de levar as pessoas para os mesmos lugares. O meu companheiro, Jaya, é músico e a música dele fala muito sobre autodesenvolvimento, fala muito sobre emoções, valores dos quais eu compartilho.
Acredito que o meu livro, “Uma Oitava Acima”, também traz as pessoas para esses mesmos lugares que as vivências oferecem. No fundo, nosso objetivo é sempre o mesmo, independentemente da forma, que é trazer as pessoas para um olhar mais natural da vida, para um olhar sobre o que é o essencial da vida, para que a gente possa acalmar um pouco essa nossa mente tão agitada.
Existem técnicas. Uma delas é o banho de floresta, por exemplo, que já foi provado cientificamente, dos benefícios mensuráveis que oferece em relação ao stress e a imunidade. Esse já é um lugar que a gente sabe e vive na nossa própria experiência. E a gente oferece isso. É um momento da pessoa poder estar em contato com a natureza e o que a gente traz também é a arte como uma ferramenta de autoconhecimento.
Porque ela não é um processo terapêutico elaborado, através da arte, você pode ter insights, você pode expressar emoções que às vezes não consegue racionalizar, mas que você, de uma certa forma, consegue dar uma vazão para essas emoções, esses sentimentos que existem dentro. Então, esse é o nosso principal convite, através da natureza e da arte, a gente poder desembocar nesses lugares de uma vida mais saudável, de uma vida mais consciente, de uma vida que retoma o que de fato é importante.
É isso. Muito obrigada!
Serviço:
Livro: Uma Oitava Acima
Autora: Bruna Petrucci
Páginas: 131
Editora: Auto publicação
Onde encontrar: O livro físico pode ser adquirido através deste link. O e-book pode ser adquirido pela Amazon neste link
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