O ano está só começando e é justamente nesta época que as pessoas começam a refletir mais sobre a vida. A chegada de um novo ano sempre traz de volta sentimentos como esperança, renovação e mais confiança no futuro. Por este motivo, janeiro foi escolhido para ser o mês da conscientização sobre saúde mental, sendo marcado pela campanha Janeiro Branco.

Criada em 2014, por iniciativa de um grupo de psicólogos da cidade de Uberlândia (MG), a campanha Janeiro Branco recebeu este nome, pois o primeiro mês do ano é sempre aquele em que as pessoas estão mais propensas a pensarem em suas vidas, suas emoções, relações sociais, condições de existência e, sobretudo, em seus sentidos existenciais.  Como em uma “folha em uma tela em branco”, é nesta fase que se costuma escrever ou reescrever histórias de vida.

Nem tudo são flores na vida de ninguém e nem deve ser. Frustações, medos, tristezas, angústias, e sentimentos similares, acabam fazendo parta da vida de qualquer ser humano, mas é preciso saber o momento de pedir ajuda e, muitas vezes, ajuda profissional, recorrendo às terapias, medicações, entre outros tratamentos”, afirma Ana Paula Chaves, psicóloga, pesquisadora e coordenadora do curso de Neuroaprendizagem da Unyleya,

O movimento é uma maneira de promover a psicoeducação para que a população passe a ter consciência de suas emoções e saiba como identificar os problemas psicológicos, de forma a se prevenir e evitar que se tornem algo mais grave no futuro.  O mundo corporativo também está incluso na ação e deve se engajar pela causa promovendo ações voltadas para a saúde mental de seus colaboradores.

A ação tem uma missão fundamental este ano: inspirar indivíduos e instituições sociais a participarem de um grande pacto universal em defesa da Saúde Mental da humanidade. Além de Uberlândia, a conscientização da campanha ganhou força e atingiu outras cidades mineiras, São Paulo, entre outras regiões, e até países como Portugal, Estados Unidos e Japão.

Admitir um transtorno não é vergonha, nem motivo de fraqueza

Admitir uma depressão, ansiedade ou qualquer outro transtorno mental   ou psíquico não deve ser vergonha para ninguém, muito menos considerado motivo de fraqueza. Muito pelo contrário, significa força de vontade e coragem da própria pessoa de querer melhorar. Precisamos conscientizar a população para que haja mais empatia e menos preconceito com assuntos relacionados à saúde mental”, explica Ana Paula.

Ela lembrou que, durante a pandemia, pessoas com todo tipo de perfil enfrentaram os mais diversos sentimentos e tudo ao mesmo tempo. “As dúvidas com relação à vacina contra a Covid-19, por exemplo, colocaram a população em constante desequilíbrio emocional. Tudo muito confuso, uma mistura de sentimentos e quem não cuidar da saúde mental a tempo, tentando estabelecer um equilíbrio, pode sofrer com as consequências em um futuro próximo”, conclui.

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O país mais ansioso e depressivo da América Latina

Dados de 2019 da Organização Mundial da Saúde (OMS) já apontavam o Brasil como o país mais deprimido da América Latina e o quinto do mundo neste quesito, com 5,8% das pessoas diagnosticadas com a doença (cerca de 12 milhões).

Um relatório da organização, divulgado no fim de 2018, mostrou que, em dez anos (2008 a 2017), o número de pessoas com depressão aumentou 18,4% em todo o mundo – o que correspondia a 322 milhões de indivíduos ou 4,4% da população global.

De acordo com o estudo, o transtorno de ansiedade afeta 9,3% dos brasileiros, em torno de 19,4 milhões, fazendo com que o Brasil ocupe o primeiro lugar no ranking da lista de países com pessoas mais ansiosas no mundo.

Conforme dados divulgados pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019 do IBGE, houve um crescimento expressivo em 34,2% do número de casos de depressão em um período de seis anos (2013-2019). A pesquisa indica que, atualmente, 16,3 milhões de brasileiros sofrem da doença, representando 10,2% da população com mais de 18 anos.

Pesquisa da Isma-Br, representante local da International Stress Management Association, apontou que 90% dos brasileiros apresentavam sinais de ansiedade, dos mais brandos aos considerados incapacitantes.  Outro estudo da mesma entidade apontou ainda que 70% da população economicamente ativa brasileira sofre com o excesso de estresse. De acordo com a Previdência Social, a depressão foi a décima maior causa de mais afastamentos em 2017, o que gerou mais de 43 mil auxílios-doença.

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Impactos da pandemia de Covid-19 na saúde mental

A situação se agravou durante a pandemia de Covid-19. Durante o período de distanciamento social, a saúde mental tornou-se um tema ainda mais discutido, e profissionais da saúde já alertavam que o isolamento poderia acarretar uma epidemia de transtornos de depressão e ansiedade.

Em 2020, os casos de transtornos mentais chamaram a atenção da OMS, que reuniu líderes mundiais, atividades e personalidades no evento on-line Grande Nomeação de Saúde Mental. 

Um grupo da Universidade de Sichuan, na China, reportou um estudo feito com 1.593 adultos no auge do surto. A proporção de pessoas com sinais que caracterizam ansiedade e depressão foi, respectivamente, de 13% e 22% entre aquelas que enfrentaram a quarentena, índices duas vezes maiores do que os observados entre os indivíduos que puderam circular e levar uma vida mais próxima ao normal (7% e 12%)”.

Outro estudo, realizado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) com 12.000 pessoas de 33 países da América Latina e Caribe (30,8% eram brasileiros), revelou que 35% dos entrevistados relataram aumento na frequência do comportamento de beber de forma excessiva e em um curto período de tempo — situação que pode desencadear sérios problemas em relação à saúde mental dos envolvidos.

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Ansiedade, estresse e depressão entre brasileiros na pandemia

No Brasil, país que também já é um dos recordistas mundiais em relação a números absolutos de suicídios, a primeira fase de uma pesquisa realizada no final de 2020 pelo Ministério da Saúde detectou ansiedade em 86,5% dos indivíduos pesquisados, transtorno de estresse pós-traumático em 45,5% e depressão grave em 16% dos participantes do estudo.

Um estudo feito pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) apontou que os casos de depressão praticamente dobraram desde o início da quarentena. Entre março e abril de 2020, dados coletados online indicam que o percentual de pessoas com depressão saltou de 4,2% para 8%.

Além de todos os sintomas físicos da doença, uma pesquisa do grupo de Psiquiatria do IPq-USP apontou um cenário que é uma verdadeira “bomba-relógio” prestes a explodir. Segundo o estudo, pacientes que tiveram Covid-19 podem ter que lidar com surtos psicóticos, ou seja, desde mudanças de humor até crises de ansiedade.

Isso porque, de acordo com o estudo, no auge da pandemia, 30% das pessoas diagnosticadas com a doença em estado grave entre abril e agosto apresentaram transtornos psicóticos. E o pior: metade desses pacientes não tinha histórico anterior de transtorno mental

Além disso, também não faltaram estudos sobre a ampliação das violências domésticas, do abuso infantil e do adoecimento emocional por parte de jovens e de idosos submetidos ao isolamento social.

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