O lipedema, uma condição caracterizada pelo depósito anormal de gordura em algumas partes do corpo, está se tornando cada vez mais conhecido pelo seu impacto nas pessoas, especialmente na população 50, 60+. A conexão delicada, do ponto de vista médico, entre lipedema, varizes e idosos é devida não só ao envelhecimento, mas também à diminuição da elasticidade da pele e dos vasos sanguíneos.

Uma pesquisa recente conduzida pelo Centro Médico da Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, com mais de 900 pessoas, mostrou que as mulheres com lipedema têm 11 vezes mais prevalência de varizes. A pesquisa revelou que mulheres com lipedema enfrentam uma gama de sintomas frequentemente subestimados, além da clássica dor e acúmulo de gordura nas pernas.

Os outros sintomas descobertos no estudo incluem alterações no modo de andar, sintomas semelhantes a uma gripe, articulações hiperflexíveis (aquelas que se movem além do limite considerado normal, devido a uma frouxidão nos ligamentos e tecidos que sustentam a articulação), pele fria ao toque nas áreas afetadas e uma prevalência 11 vezes maior de varizes em comparação às demais mulheres.

Os achados mostram que o lipedema vai muito além do acúmulo de gordura nas pernas. Esses novos sintomas indicam uma condição sistêmica. A associação com varizes reforça a importância da avaliação vascular no diagnóstico e tratamento”, avalia o cirurgião cardiovascular Vitor Cervantes Gornati. um dos principais especialistas no tratamento clínico do lipedema no país.

Segundo ele, a pessoa com lipedema também têm mais facilidade de sofrer lesões vasculares, ou seja, desenvolver hematomas à menor pressão. “É uma doença que acomete tudo o que a gente chama de tecido conjuntivo frouxo. Isso inclui a gordura, mas também os vasos e as articulações”.

Ainda de acordo com o especialista, a pessoa com lipedema tem 30% mais dificuldade de ganhar massa muscular, que é o que ajuda a proteger essas articulações. Então, ela também tende a ter hipermobilidade, frouxidão ligamental, e, quando ganha peso, acaba sobrecarregando o joelho, o quadril. Com o tempo, pode desenvolver artrose “, complementa o médico.

Além disso, cerca de 70% das pacientes relataram acometimento dos braços, e uma parcela significativa também apresentou inchaço (21%) e dor (16%) nos pés – regiões tipicamente poupadas no lipedema clássico. O estudo, que envolveu 707 pacientes com fenótipo de lipedema e 216 mulheres sem a condição, destaca a necessidade de uma abordagem médica mais abrangente e especializada.

Normalmente, ouvimos as pacientes com lipedema relatar dor, inchaço nas pernas e tendência a hematomas sem trauma significativo, mas vimos nesta pesquisa que há outras diferenças marcantes importantes para levar em consideração no momento do diagnóstico”, revela Vitor Cervantes Gornati.

Lipedema em mulheres acima dos 50 anos

lipedema é uma condição crônica e é mais frequente em mulheres. Nos idosos, o diagnóstico pode ser mais desafiador, pois os sintomas podem ser confundidos com os sinais do envelhecimento, como a flacidez da pele ou a perda de massa muscular, ou até a deterioração dos sistemas linfático e circulatório, o que pode piorar os sintomas, como dor e inchaço nas áreas afetadas.

O cirurgião vascular  Vitor Cervantes Gornati, afirma que com o envelhecimento, a ocorrência de varizes também aumenta devido ao enfraquecimento das veias e à má circulação.

Estudos destacaram uma sobreposição significativa entre o lipedema e as varizes, com ambas as condições compartilhando fatores de risco parecidos, como genética, influências hormonais e fatores relacionados ao estilo de vida. Em pacientes idosos, esta sobreposição pode levar a sintomas piores, incluindo dor nas pernas, inchaço e dificuldades de mobilidade”, comenta o especialista.

De acordo com um artigo recém-publicado no Jornal Vascular Brasileiro, do qual o Dr. Vitor foi um dos autores, é importante uma abordagem diferenciada para o diagnóstico do lipedema, uma vez que a condição tem características próprias de depósito de gordura e o tratamento não deve ser confundido com os métodos usados para tratar varizes.

Ou seja, apesar de não tratar especificamente sobre varizes, o estudo toca na complexidade do diagnóstico e tratamento do lipedema, que pode, sim, ocorrer simultaneamente à outras condições vasculares”, reflete o Dr. Vitor.

Assim, idosos com lipedema podem ter um risco aumentado de complicações vasculares, como as varizes, por exemplo, e o tratamento de ambas as condições exige uma abordagem criteriosa. Entender e tratá-las de forma conjunta pode ser fundamental para melhorar a qualidade de vida desses pacientes.

O lipedema é uma condição complexa e multifacetada que exige uma compreensão profunda por parte dos médicos e especialistas. Este estudo amplia nosso entendimento sobre os sintomas e desafios enfrentados pelas mulheres com a doença destacando a importância de uma abordagem médica mais holística e personalizada”, finaliza.

O conceito do ‘iceberg do lipedema’

Para Vitor Cervantes Gornati, é essencial visualizar o conceito do “Iceberg do Lipedema, enfatizando que a doença não se resume ao que é visível – o acúmulo de gordura – mas envolve fatores submersos, como disfunção microvascular, inflamação crônica, alterações musculares e metabólicas, fibrose e dor crônica.

O tratamento do lipedema deve ir além do foco apenas na gordura. Deve incluir também estratégias na modulação da inflamação, na melhoria da saúde vascular e na promoção da mobilidade e tratamento da dor de maneira multifatorial”, disse ele, durante a 9ª edição do Simpósio Internacional de Cirurgia Endovascular – Science 2025, realizado em São Paulo.

Por ser um distúrbio inflamatório complexo, a abordagem inadequada do lipedema pode levar a tratamentos ineficazes, visto que a doença envolve seis pilares interligados que demandam uma atenção multifatorial.

  1. Inflamação crônica – A inflamação causa hipertrofia das células de gordura, além de gerar dor e fibrose.
  2. Disfunção vascular – Problemas como insuficiência venosa e congestão linfática podem agravar o quadro de edemas e fibrose.
  3. Fibrose e matriz extracelular – A ativação de fibroblastos altera a matriz extracelular, dificultando a drenagem linfática.
  4. Disfunção neurossensorial – A dor intensa, muitas vezes resistente a analgésicos, reflete a atividade inflamatória nos nervos periféricos.
  5. Alterações metabólicas – O lipedema está ligado a desequilíbrios hormonais, dificultando a perda de peso, mesmo com dieta e exercício.
  6. Dificuldade no ganho muscular – O aumento da massa muscular é crucial para melhorar o retorno venoso e linfático, mas o lipedema pode dificultar esse processo.

Com Assessorias

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